Na primeira pesquisa Datafolha após o primeiro turno, realizada em 7 de outubro, Lula tinha 49% dos votos totais.
Uma semana depois, 14 de outubro, Lula repetiu os mesmos 49%.
Na pesquisa divulgada ontem à noite, o petista pontuou quanto?
49%.
Em votos válidos, este número corresponde a 52,13%.
Há várias maneiras de interpretar essa estabilidade. A mais simples e conservadora, porém, é que Lula manteve intacto o seu eleitorado de primeiro turno, de 57,2 milhões de votos, que equivaleram a 48,43% dos votos válidos. E herdou alguns pontinhos de Tebet e Ciro.
A performance de Bolsonaro tem estabilidade parecida. Ele tinha 44% na primeira semana após o primeiro turno, manteve os mesmos 44% sete dias depois, e hoje tem 45%, o que representa uma oscilação correspondente a metade da margem de erro, que é de 2 pontos, e portanto não pode ser tida como “tendência”. Em votos válidos, Bolsonaro teria hoje 48%.
É equivocado comparar uma pesquisa com outra, uma função da metodologia diferente de cada uma.
É possível concluir, todavia, que a maioria das pesquisas tem convergido para cenário parecido, de manutenção do placar observado no primeiro turno, no qual Lula venceu Bolsonaro por 5 pontos de diferença, ou 6,2 milhões de votos.
O placar de 48% x 43%, em votos válidos, no primeiro turno, agora é uma projeção, segundo o Datafolha, de 52% X 48% para o dia 30 de outubro.
A estabilidade deste cenário favorece, naturalmente, quem está à frente. Pesquisas de segundo turno costumam errar menos do que no primeiro, pela existência de um “controle”, que é a votação do próprio primeiro turno.
O uso do controle, por outro lado, também pode engessar as previsões, dificultando a captação de movimentos dinâmicos no eleitorado.
Por isso é necessário examinar a situação com quatro olhos: um na pesquisa, outro nas ruas, um terceiro nas redes sociais, e um quarto olho no resultado do primeiro turno.
Tudo precisa manter uma relativa coerência.
Uma campanha forte, promissora, com chances de ganhar, precisa apresentar, no mínimo, estabilidade.
Quatro pontos de vantagem não é muita coisa, claro, mas se estão ancorados em números sólidos no primeiro turno (check) e acompanhados de ruas cheias (check) e redes sociais agitadas (check), então eles devem ser vistos com moderado otimismo.
No caso de Lula, tem sido notório que ele vem se distanciando de Bolsonaro na quantidade de apoios sociais vindos de fora de sua própria bolha.
O petista tem recebido apoios importantes de setores do centro e da direita, incluindo economistas liberais, como Armínio Fraga e Persio Arida, grandes empresários, como Guilherme Leal, dono da Natura, ex-adversários da direita moderada, como Fernando Henrique e Serra, e até mesmo próceres do mais radical neoliberalismo, como João Amoedo, ex-presidenciável do Novo.
Lula conta hoje, além disso, com apoio tácito ou declarado da maioria esmagadora dos profissionais de imprensa, que tem sido alvos constantes de campanhas de ódio, negacionismo e intolerância política por parte da extrema-direita bolsonarista.
As manifestações populares em apoio ao ex-presidente tem lotado as ruas, de forma realmente impressionante, como não víamos há muitos anos.
Todos esses movimentos nos fazem suspeitar que as pesquisas eleitorais, sob assédio político e judicial violentíssimo por parte de aliados do presidente, podem estar cometendo hoje o erro oposto ao cometido no primeiro turno. Se antes elas erraram em detrimento de Bolsonaro, não nos surpreenderia se estivessem hoje errando em favor dele. Não nos cabe, porém, nos preocupar com isso, e sim olhar para as pesquisas como elas se apresentam.
Repito o cálculo que já fiz em análise de ontem. No primeiro turno, tivemos 118 milhões de votos válidos, isso significa que 1% de cada voto válido corresponde, grosso modo, a 1,18 milhão de eleitores.
Os 52,13% de votos válidos que Lula possui hoje, segundo o Datafolha, equivalem a 61,51 milhões de eleitores no segundo turno, contra 56,48 milhões para Bolsonaro. Seria uma vantagem de 5,0 milhões de votos para o petista.
É uma vantagem que apenas aparece apertada, em virtude da magnitude colossal do eleitorado brasileiro. Mas 5 milhões de eleitores correspondem a mais que todos os votos que Bolsonaro obteve no estado do Rio (4,8 milhões de votos), no primeiro turno deste ano. E olha que Bolsonaro ganhou no Rio.
O Datafolha sinaliza que os próximos dez dias serão eletrizantes. As pesquisas terão dificuldade de captar o dinamismo de um eleitorado extremamente conectado às redes sociais. Mas Lula tem apresentado bons índices também neste aspecto, vide o recorde mundial quebrado pela entrevista ao Flow, nesta terça-feira, com mais de 1 milhão de visualizações simultâneas.
A análise dos estratos do Datafolha, por sua vez, confirma o que vemos nos números gerais. Há pequenas mudanças aqui e ali, mas nada que sugira alguma reversão de tendências.
O mais importante: Lula mantém hegemonia firme entre eleitores de baixa renda e não apresenta queda em nenhuma faixa de renda média; na verdade, até oscila 1 ou 2 pontos para acima entre eleitores com maior poder aquisitivo (o que é um bom sinal).
Conclusão
O cenário segue estável, com favoritismo de Lula, mas o tempo dos analistas se foi. A tão poucos dias do pleito, o conselho mais prudente que podemos dar aos internautas é combater a ansiedade com exercícios físicos, boa alimentação, e uso moderado e inteligente das redes sociais. Faça campanha para seu candidato nas ruas e nas redes, com serenidade e espírito leve. Arme-se de otimismo e confiança, porque são virtudes contagiantes, que lhe ajudarão a conquistar votos.
Respostas definitivas às nossas dúvidas e angústias, de qualquer maneira, apenas nos serão dadas pelas urnas!