Por Antonio Lavareda
EMPATE NO DEBATE DA BAND COM POOL DE EMISSORAS
Registrando recorde histórico de audiência, nada menos que 46% dos eleitores dizem ter assistido ao Debate nas diversas plataformas. E mais um quinto (21%) “ouviu falar” do mesmo. O empate visível segundo a avaliação do público reflete a disputa polarizada, além dos altos e baixos de cada candidato durante o mesmo. Para 42% Bolsonaro levou a melhor, enquanto para percentual parecido, 41%, Lula foi o vencedor. Os efeitos iniciais da longa troca de acusações entremeadas de autoelogios foram aparentemente limitados.
O Debate “melhorou” a opinião sobre ambos quase na mesma medida: Bolsonaro, 27%, e Lula, 26%. E “piorou” para 21% no que diz respeito a Lula, e 19% quanto a Bolsonaro. Porém, qualquer avaliação dos números das pesquisas sobre o evento deve levar em conta o perfil da audiência do ponto de vista das preferências eleitorais. É que o Debate foi assistido no todo ou em parte por 57% dos eleitores bolsonaristas, e por apenas 40% dos lulistas.
PLACAR DAS INTENÇÕES DE VOTO REPRODUZ DISTÂNCIA DO 1o TURNO
No período de uma semana, a distância entre os competidores foi reduzida em dois pontos. Lula que havia ampliado sua margem na rodada anterior agora lidera por quatro pontos na questão espontânea (46% X 42%), e seis na estimulada (49% X 43%). O resultado da espontânea apresenta o mesmo intervalo do primeiro turno sobre o total do eleitorado. Excluídas as intenções de Voto em Branco e Nulos + Indecisos, tem-se 53% X 47%.
SEM OS ELEITORES DE BAIXO INTERESSE, A DISTÂNCIA É MENOR
Dada a dificuldade da pesquisa captar toda a extensão da abstenção, tal como no levantamento anterior foi utilizada uma única variável (grau de interesse na eleição) para se conjecturar sobre o possível impacto do não comparecimento de eleitores. Excluindo-se, então, os 22% que declararam ter baixo ou nenhum interesse no pleito, além dos que declaram que votarão Branco/Nulo e Indecisos, a disputa fica mais apertada: Lula, 52% X 48%, Bolsonaro.
CERTEZA DE VOTO E REJEIÇÃO
Lula permanece com os mesmos números de “certeza de voto” (47%) e de rejeição (45%) da semana passada. Bolsonaro cresceu um ponto no primeiro item (42%) e declinou um no segundo (48%). A proximidade dos respectivos números de rejeição é o indicador que melhor sinaliza a incerteza nesse momento quanto ao desfecho do processo eleitoral.
MAIORIA PREVÊ A VITÓRIA DE LULA
A expectativa de vitória do ex-Presidente é alimentada por número superior ao de suas intenções de voto (53%), enquanto o contrário se dá com Bolsonaro. Apenas 37% dos eleitores imaginam que ele poderia ser vitorioso.
VOTO EM BOLSONARO “PUXA” APROVAÇÃO DO GOVERNO
A Aprovação do governo subiu um ponto (para 42%) a Desaprovação recuou três (para 49%). Eu já havia comentado esse fenômeno na semana anterior. Inverte-se a relação entre as variáveis. Para evitar dissonância cognitiva grande parte dos eleitores que passaram a escolher Bolsonaro no segundo turno – na maioria por rejeição a Lula – questionados sobre seu governo lhe conferem Aprovação. Quanto ao ex-Presidente o processo é algo semelhante. Declinou dois pontos sua Aprovação retrospectiva (48%), mas a Desaprovação continuou em 43%. Ou seja, os números para os dois contendores se tornam bem próximos daqueles de “Certeza de Voto” e “ Não votaria de jeito nenhum”, a chamada rejeição.
PARTIDOS HIDROPÔNICOS. METADE DOS VOTANTES NÃO SABE O NOME DO PARTIDO EM CUJO CANDIDATO VOTOU
É digno de comemoração o fato de que a proibição das coligações nas eleições proporcionais reduziu a fragmentação das bancadas (com o Número Efetivo de Partidos, NEP, na Câmara Federal recuando de 16,7 na legislatura atual para 10,1 na próxima), diminuindo para doze o número de legendas e federações que a partir de agora disporão do Fundo Partidário.
De fato, isso facilitará o processo decisório no Legislativo, mas a ausência de raízes das legendas na sociedade continua. Sendo ela causada por uma regra eleitoral obsoleta (voto proporcional de lista aberta) não praticada por nenhuma democracia de grande porte, e que é responsável por “individualizar” na prática os laços de representação.
Fazendo, por exemplo, da Câmara Federal, como tenho afirmado, “um agregado de 513 empreendedores individuais”, vitoriosos numa das mais caras eleições do mundo. Decorrida só uma quinzena da eleição, os dados mostram que, afora a identidade partidária dos dois finalistas da disputa presidencial, é escandalosamente baixo o conhecimento dos partidos a que pertencem os candidatos. Partidos sem raízes como alfaces hidropônicas, quase todos despidos de significado aos olhos da sociedade, são talvez a maior debilidade da nossa democracia.
FALTAM 12 LONGOS DIAS ATÉ A VOTAÇÃO (30/10)
Antonio Lavareda é Cientista Político e Sociólogo
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