Em reunião com a campanha de Lula, FUP alerta sobre estratégia bolsonarista de uso eleitoreiro da Petrobrás

FUP manifestou preocupação com a ocupação nas últimas semanas de cargos em diretorias com orçamentos relevantes e reforçou a importância de a campanha dar destaque para a retomada de investimentos em fertilizantes e gás natural

A preocupação com o uso eleitoreiro da Petrobrás, que tende a piorar nesse segundo turno das eleições, foi um dos temas da reunião que a Federação Única dos Petroleiros (FUP) realizou nesta terça-feira, 04, em São Paulo, com a Coordenação Nacional da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. 

Além de anunciar, praticamente a cada semana, reduções pontuais nos preços dos combustíveis, às vésperas das eleições, e pressionar a empresa a segurar preços até o próximo dia 30, sem mudar em nada a equivocada política de Preço de Paridade de Importação (PPI), a gestão bolsonarista da Petrobrás vem promovendo uma dança das cadeiras no alto escalão da companhia, com critérios políticos.

“Chamamos a atenção para a ocupação de cargos estratégicos, de forma escusa, em diretorias com orçamentos relevantes, o que é altamente preocupante, diante da possibilidade de fraudes e corrupção para financiamento de campanhas eleitorais”, alertou o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar. Ele destacou ainda as altas recordes nos preços dos combustíveis no governo Bolsonaro, com base no PPI: 118,4% na gasolina, 165,9% no diesel e 97,4% no gás de cozinha, entre 1 de janeiro de 2019 e 23 de setembro de 2022, nas distribuidoras.

A representante dos trabalhadores no Conselho de Administração (CA) da Petrobrás, Rosângela Buzanelli, já havia questionado a falta de critérios técnicos na mudança da Diretoria de Transformação Digital e Inovação (DTDIT), aprovada às pressas pelo CA no dia 21 de setembro. Somente ela e dois representantes dos acionistas minoritários, Fernando Petros e Marcelo Mesquista, votaram contra a substituição do ex-diretor Juliano Dantas pelo atual Paulo Palaia, que, segundo os conselheiros, não tem qualquer experiência na área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

A DTDIT é a diretoria responsável pelos investimentos do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes) e mobiliza um orçamento de R$ 3,2 bilhões, conforme alertou Petros em seu voto. 

Mudanças na diretoria

Outras mudanças na diretoria da Petrobrás estão em curso e podem ser anunciadas em breve, atendendo a indicações do Palácio do Planalto, entre elas as diretorias financeira e de relações com investidores, e de  relacionamento institucional. O objetivo é acelerar projetos de desinvestimentos da estatal, contando, para isso, com um corpo de executivos de confiança do governo capaz de viabilizar privatizações a toque de caixa, até o fim do ano. 

“Medidas internas questionáveis estão sendo adotadas para facilitar demandas da presidência da República às vésperas das eleições”, afirma Bacelar, referindo-se a recentes mudanças na composição dos comitês e do Conselho de Administração (CA), que facilitam trocas de executivos pelo presidente da empresa.

O Comitê de Pessoas (Cope) – que aprova substituições no alto escalão – passou a ter somente membros indicados pelo governo, sem nenhum conselheiro minoritário. Já o CA teve os seis conselheiros da União substituídos por indicação do governo durante a última assembleia de acionistas, em 19 de agosto. Dois deles – Jônathas Costa, da Casa Civil, e Ricardo Soriano, procurador-geral da Fazenda Nacional – foram reprovados pelas antigas estruturas internas da empresa, mas aprovados na assembleia. Eles são questionados na Justiça pela Anapetro (Associação Nacional de Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobrás) por conflitos de interesse no cargo, vedados pela lei das estatais.

Fertilizantes e gás natural

Na reunião com a equipe de Lula, a FUP também reforçou a importância de dois temas diretamente relacionados à Petrobrás que são centrais para a economia do país: a retomada dos investimentos da estatal nos setores de fertilizantes e de gás natural. O primeiro é estratégico para a agroindústria e a agricultura familiar e o segundo, para a indústria química.

A importância da reabertura da planta de fertilizantes Fafen Paraná e da conclusão das obras da UFN-3, no Mato Grosso do Sul, foi enfatizada pela FUP não só para a Coordenação da Campanha de Lula, como para a senadora Simone Tebet (MDB), que declarou apoio ao candidato petista e já havia feito referência a esse tema no debate presidencial.

A FUP também ressaltou a necessidade da Petrobrás voltar a ter centralidade na distribuição do gás natural, conforme já havia sido pontuado pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), em reunião recente com Geraldo Alckmin, candidato a vice-presidente na chapa de Lula. Segundo os empresários do setor, a indústria química foi fortemente impactada pelas privatizações das principais redes de gasodutos da Petrobrás e pelo fato da empresa não ter mais uma política de investimento a longo prazo para o setor.