O cientista político e diretor do Ipespe, Antônio Lavareda, fez uma análise sobre o resultado do 1° turno e especialmente sobre um suposto “erro das pesquisas” que não detectaram o voto expressivo em Jair Bolsonaro (PL) e nos seus candidatos nos estados.
No texto, Lavareda diz que não se opõe que os institutos de pesquisa revejam duas metodologias para reforçar a credibilidade e lembra que há cerca de 30 anos não são feitas pesquisas presenciais nos EUA. “Nada a opor quanto à necessidade dos institutos refletirem sobre seus métodos e técnicas. Sempre trato disso em público” lembrou Lavareda.
“Há vários registros de declarações minhas, por exemplo, comentando ou que as amostras utilizadas em pesquisas para divulgação no Brasil são inusualmente grandes, se comparadas com amostras norte americanas por exemplo (como o leitor poderá ver no quadro ao fim dessa thread) ou ainda que naquele país, berço dos surveys eleitorais há cerca de 30 anos não são feitas para divulgação pesquisas presenciais, que alguns jornalistas daqui teimam em dizer que “são o padrão gold” da atividade. Embora isso não as torne pouco confiáveis, mas apenas muito caras”.
Em outro momento, o sociólogo lembra que as pesquisas podem errar devido há alguns que simplesmente estão fora do alcance dos institutos. “Aponto alguns dos fatores que desautorizam resultados de pesquisas a serem utilizados para tal fim”.
“Entre eles destacando o voto estratégico (típico de sistemas pluripartidários como o nosso), o voto errático, e sobretudo, sublinhei, a abstenção, que nenhum instituto nosso tem condições de estimar de modo razoável, pelo fato do voto ser obrigatório e os prováveis absenteístas não revelarem essa disposição”, aponta.
“Entre todos os fatores, bastaria, dizia eu, a abstenção imprevisível para distanciar frequentemente as pesquisas e os resultados”. Na sequência, Lavareda faz uma crítica a própria cobertura da mídia sobre as eleições.
“Ocorre que veículos de comunicação, com a “complacência” dos institutos, embora ambos conhecedores do que afirmei antes, não resistem a fazer das pesquisas a espinha dorsal da cobertura das eleições. E na véspera do pleito, no show final, centram nos “votos válidos” foco do noticiário, levando leitores e espectadores a suporem que estão diante de um “prognóstico”, de um resultado antecipado do que será apurado no dia seguinte. Quando as discrepâncias são grandes como ontem, a cobrança se volta para quem?”, questiona. “Lógico que para os institutos”, completa.
“Mas o “problema” foi a distância de Bolsonaro. Nessa e nas pesquisas de outros institutos sobretudo dos que fizeram o campo até o último dia, anunciando os resultados à noite do sábado. Teríamos então “acertado” Lula e “errado” Bolsonaro?”.
“A questão é que na verdade as amostras de quase todos os institutos são representativas ou pretendem ser do TOTAL dos eleitores. As intenções de voto e outras opiniões apresentadas pretendem ser estimativas da ocorrência delas no universo em questão”.
“Ou seja, nos 156 milhões e 450 mil eleitores. Não se faz amostra para captar “votos válidos”. Faz-se para colher a distribuição de preferências eleitorais em todo o universo. E é assim que os resultados das pesquisas são divulgados até perto das eleições, quando “aparecem” então os tais “votos válidos”. Obviamente com o intuito de os fazerem comparáveis com aqueles divulgados pelo TSE. Mas às vezes se aproximam, e às vezes não”.