Gilberto Maringoni: Boric na ONU, um discurso problemático

Imagem: Reprodução

Por Gilberto Maringoni

Somente agora assisti a íntegra do discurso de Gabriel Boric na Assembleia-geral da ONU. Impressiona a mediocridade da intervenção. O presidente do Chile usa a maior parte de seu tempo para tentar explicar a acachapante derrota do projeto de Constituição no plebiscito do início do mês.

Sai-se com platitudes do tipo “um democrata nunca reclama quando o povo se manifesta”, tentando tornar o fiasco palatável. Esbanja lugares comuns sobre seu país. Mas o grave é sua incursão sobre política externa.

Por duas vezes critica frontalmente a agressão russa à Ucrânia, sem mencionar uma só vez a ameaça representada pela expansão da OTAN ou pelas sanções ocidentais que estão na raiz da crise energética vivida pela Europa.

Do nada, ataca a Venezuela pela “crise humanitária”, numa situação de leve melhora do quadro interno, motivado reabertura do comércio de petróleo com os EUA. Investe – com justeza – contra as prisões políticas na Nicarágua, mas cala-se sobre Guantánamo e sobre as violências sofridas pelos imigrantes latinoamericanos nos EUA.

O contraste com Gustavo Petro é gritante. Este investe contra as iniciativas de Moscou sobre seu vizinho, sem deixar as responsabilidades da OTAN de lado. Sua coragem revela-se maior ao lembrarmos que a Colômbia é o único país do Sul global – como conceito geopolítico e não geográfico – a ter o status de “parceiro global” da Organização, obtido pelo governo de Juán Manuel dos Santos (2010-18).

Cláudia Beatriz:
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