As metáforas explodiram. O crescimento de Lula em alguns estratos tem sido tão impressionante que não vale mais falar em boca de jacaré. E mesmo o hipopótamo, com seu bocão, está quase quebrando o maxilar.
O último Datafolha entrevistou presencialmente 6.754 pessoas, entre os dias 20 a 22 de setembro, e custou R$ 473.780,00, pagos pelos grupos Folha e Globo (não é, portanto, pesquisa “paga por banco”).
Primeiramente, uns parabéns a todos os profissionais do Datafolha, pela sua coragem, porque a violência política no país chegou a tal ponto, insuflada pelo discurso fascista do presidente Bolsonaro, que seus militantes estão espancando pesquisadores.
Em votos totais, Lula subiu dois pontos e chegou a 47%, enquanto Bolsonaro permaneceu estagnado em 33%.
Em votos válidos, isso significa que Lula teria 50%, e poderia vencer em primeiro turno.
Em terceiro lugar, Ciro Gomes continua sua trajetória de queda, e já foi ultrapassado por Simone Tebet em vários estratos. A tendência é que termine em quarto lugar. Se houvesse outro candidato disputando para valer, Ciro poderia cair para a quinta posição.
Vamos para os estratos.
Há três grandes estratos onde o ex-presidente Lula tem um desempenho realmente muito forte: jovens, mulheres e eleitores mais pobres.
Os jovens eleitores com idade entre 16 e 24 anos correspondem a 14% do eleitorado. É muita gente. Lembrando que, nessas eleições, um 1% a mais ou a menos pode representar ou não uma vitória em primeiro turno.
Bolsonaro está derretendo nesse segmento. O presidente, que era uma novidade “antissistema” em 2018, hoje se agarrou a um discurso ultraconservador, e passou a ser cada vez mais rejeitado entre os eleitores jovens, mais progressistas e liberais em matéria de costumes do que os mais velhos. Segundo o Datafolha, 62% dos jovens nessa faixa de idade não votariam de jeito nenhum no “capitão”. Esse elevadíssimo índice de rejeição é um dado importante para Lula, porque deve reduzir bastante a abstenção nesse estrato. O impulso para votar se fortalece quando o eleitor está indignado com o governante.
Lula deu uma arrancada entre mais jovens para 54%, abrindo 30 pontos de vantagem sobre Bolsonaro!
O estrato das mulheres é tudo menos “minoria”. Elas representam 52% do eleitorado. Há pesquisas indicando que a abstenção entre mulheres é mais baixa que a dos homens, outro dado que pode favorecer Lula.
A rejeição de Bolsonaro entre mulheres permanece elevadíssima: 56%!
Lula avançou três pontos entre mulheres, ou seja, acima da margem de erro, enquanto Bolsonaro ficou parado em 29%. Ou seja, o petista abriu 20 pontos de vantagem entre mulheres.
Vamos transcrever esses percentuais para número de eleitores, para termos uma ideia da magnitude da vantagem de Lula.
O Brasil tem hoje 156,4 milhões de cidadãos com seus títulos eleitorais em dia. Desses, 81,35 milhões são mulheres.
Dentre as mulheres, os 49% de Lula correspondem a 39,86 milhões de eleitoras. Bolsonaro, por sua vez, tem 23,59 milhões de eleitoras.
A vantagem de Lula sobre Bolsonaro entre eleitoras, portanto, é 16,27 milhões de votos.
A vantagem mais impressionante de Lula se dá, no entanto, entre os eleitores de baixa renda, que representam 51% do eleitorado brasileiro. São pessoas que ganham menos de 2 salários mínimos de renda familiar. Entre estes, Lula cresceu 5 pontos na última semana, e foi para 57%, enquanto Bolsonaro caiu 3 pontos, para 24%. A vantagem de Lula, portanto, é de 33 pontos!
A rejeição de Bolsonaro entre os pobres é de 59%!
Converter esses percentuais em gente, e usar a imaginação para dar corpo, rosto, sangue, estômago, cérebro, coração, intestinos, olhos, para cada um deles, é um exercício importante para nossa imaginação política.
O Brasil tem 79,79 milhões de brasileiros de baixa renda. Desse contingente, 45,48 milhões querem votar em Lula, 19 milhões em Bolsonaro e 4,7 milhões em Ciro Gomes.
A vantagem de Lula sobre Bolsonaro, entre os mais pobres, é de 26 milhões de votos!
Achar que esse povo não sairá de casa para votar, possuindo dois grandes motivos para fazê-lo (chutar a bunda de Bolsonaro e trazer Lula de volta), é subestimar a inteligência do povo brasileiro!
O Datafolha mostrou que alguns candidatos podem ser afetados, sim, pela abstenção. São eles Ciro Gomes e Simone Tebet, cujos eleitores estão bastante desanimados. Segundo a pesquisa, 34% dos eleitores de Ciro Gomes, por exemplo, estão sem “nenhuma vontade” de ir votar, contra apenas 28% que tem “muita vontade”.
Já os eleitores de Lula estão entre os mais motivados: somente 12% disseram que não tem nenhuma vontade, contra 66% que marcaram a opção “muita vontade”.
Os eleitores de Bolsonaro também devem comparecer em massa: 65% responderam que tem “muita vontade”, contra 13% que admitiram não ter “nenhuma vontade”.
Sobre a abstenção, um comentário rápido: é triste constatar que há militantes supostamente progressistas (pelo jeito, não são) torcendo por uma alta abstenção, apenas por entenderem que isso poderia prejudicar Lula.
Irão quebrar a cara, porque essa eleição caminha para ter os menos índices de abstenção em muitos anos, e os mais pobres serão os mais animados para votar!
O Datafolha trouxe ainda uma pesquisa para candidato a presidente nos estados do Rio, Minas e São Paulo.
Por aí podemos ver que Lula apenas não cresceu mais por causa do Rio de Janeiro, onde a máquina bolsonarista é a mais forte. Mas a onda Lula vai estourar no estado a qualquer momento. O que as pesquisas vem mostrando é que, no Rio, há muita instabilidade, derivada provavelmente na altíssima pressão que algumas organizações evangélicas vem fazendo sobre seus fiéis. Não creio, porém, que elas poderão segurar a debandada de eleitores na reta final.
Segundo o Datafolha, Lula perdeu 4 pontos no Rio de Janeiro, e Bolsonaro subiu 2, mas o petista ainda se mantém à frente, com 40%, contra 38% de Bolsonaro. Ciro tem 7% e Tebet, 5%.
Em São Paulo, Lula mantém a liderança, com 41%, sete pontos à frente de Bolsonaro, com 34%. Ciro oscilou dois pontos para baixo e agora tem 7%, mesmo percentual de Simone Tebet.
Em Minas Gerais, Lula subiu três pontos, para 46%, ampliando sua vantagem sobre Bolsonaro para 13 pontos. Bolsonaro tem 33%. Ciro caiu também em Minas, para 6%, empatado tecnicamente com Tebet, que subiu 1 ponto para 5%.
O nível de decisão de voto nos permite apurar o potencial de voto útil depositado nos candidatos menos competitivos.
Entre eleitores de Ciro, o Datafolha detectou o crescimento do percentual daqueles dispostos a mudar de voto, que agora são 54%. Ou seja, mais da metade dos eleitores de Ciro ainda pode fazer voto útil, e o destino da maioria desses, segundo várias pesquisas, é o ex-presidente Lula.
No caso de Tebet, ela tem 43% de eleitores dispostos a mudar, mas viu crescer o percentual de eleitores “totalmente decididos”, o que é mais um indicativo de que ela ainda pode vir a ultrapassar Ciro nas próximas pesquisas.
Entre eleitores de Lula e Bolsonaro, o percentual de eleitores que estão totalmente decididos está próximo de 90%.
O conhecimento do número do candidato é um outro indicativo sobre interesse real do eleitor. Entre eleitores de Lula, 87% responderam corretamente, 12% disseram não saber e virtualmente ninguém respondeu errado.
O eleitor bolsonarista também possui elevado grau de conhecimento do número de seu candidato, com 76% respondendo corretamente, 22% que ainda não sabem e apenas 2% dando o número errado. Como Bolsonaro mudou de partido, e portanto de número, essa percentual de confusão é compreensível, e até baixo.
Impressiona, porém, o elevado grau de desconhecimento dos eleitores de Ciro Gomes sobre seu número: 67% responderam que não sabem, 9% deram número errado, e apenas 24% responderam corretamente.
Esse é outro dado a apontar que Ciro Gomes ainda tem uma “gordura” para perder, tanto para Lula como para a abstenção.
Quando se olha para os estratos por escolaridade, temos mais boas noticias para Lula: ele avança em todos. Entre os menos escolarizados, Lula oscilou dois pontos para cima e agora tem 56%, mais que o dobro dos votos de Bolsonaro, com 26%. São 30 pontos de vantagem!
Entretanto, Lula também lidera, com 10 pontos de vantagem, entre eleitores com ensino médio: 45% X 35%.
O petista avançou 3 pontos entre eleitores com ensino superior, e agora tem 39% nesse segmento, contra 38% de Bolsonaro.
O voto dos eleitores que declaram não ter nenhuma religião nunca costuma ser comentado, mas ele também é importante. Segundo o Datafolha, 11% dos eleitores não tem religião, percentual que sobe para 23% entre jovens até 24 anos.
Nesse eleitorado, Lula tem 54% das intenções de voto, contra apenas 22% para Bolsonaro e 9% para Ciro Gomes.
Entre evangélicos, Lula mantevem o seu “cinturão” de defesa, de 32%, um percentual suficiente para desestabilizar o domínio bolsonarista neste segmento. Segundo o Datafolha, os evangélicos correspondem a 25% do eleitorado. A propósito, outra mentira que corre por aí, contra pesquisas, seria a de que elas estariam subrepresentando o eleitorado evangélico, usando dados do censo de 2010, que o estimava em 20%. Mentira, como vimos.
Quem vem caindo, semana a semana, entre evangélicos é Ciro Gomes. Tinha 8% no início de agosto, e agora tem apenas 5%, empatado com Tebet.
De qualquer forma, Lula mantém uma confortável liderança entre católicos, que ainda correspondem a 54% dos eleitores brasileiros.
O Sul do país é outra região onde ainda se nota grande instabilidade nas pesquisas eleitorais, talvez em virtude da existência de um voto silencioso em Lula, que ainda estaria se sentindo intimidado para se expressar, em função da hegemonia da direita, e até mesmo da extrema-direita, em alguns setores sociais estrateǵicos. No Datafolha divulgado ontem, Lula avançou 6 pontos no Sul, e chegou a 40%, um ponto acima dos 39% de Bolsonaro (que caiu 3 pontos).
O Sudeste abriga 43% do eleitorado nacional, segundo Datafolha (com base em dados do TSE). A vantagem de Lula para Bolsonaro caiu, mas o petista segue na frente, acima da margem de erro, com 41% X 36%.
O Norte do Brasil, outra região que alguns candidatos diziam já estar irremediavalmente rendida ao bolsonarismo, tem dito outra coisa nas pesquisas. Bolsonaro tem caído e agora registra 36%, 6 pontos abaixo dos 42% de Lula.
A força de Lula no Nordeste é um dos fenômenos mais impressionantes da política brasileira. Lula avançou 3 pontos na região e agora tem 62% dos votos totais, quase 40 pontos acima de Bolsonaro, com 24%.
Ciro Gomes vem caindo no Nordeste desde o início de agosto. Tinha 9%, caiu para 8% e agora tem 6%.
Interessante notar que Lula segue empatado com Bolsonaro na região Centro-Oeste, onde o agronegócio impera. Bolsonaro tem 41%, contra 38% para Lula.
Voltando à análise por renda, há um dado preocupante para Lula, que é o crescimento de Bolsonaro na faixa de renda de eleitores que ganham 2 a 5 salários. Bolsonaro hoje tem 43% desses eleitores, que representam um terço do eleitorado. De qualquer forma, Lula tem seus 36%. Nesse estrato, Lula tem rejeição de 50%, contra 45% para Lula. É o setor sobre o qual a campanha de Lula mais deveria se preocupar, por que seus índices de abstenção são baixos e ele tende a possuir maior atividade digital que o de renda mais baixa. Os bons números de Bolsonaro nas redes vem de eleitores dessa faixa.
Bolsonaro também cresceu entre eleitores com renda acima de 5 salários, tanto na primeira faixa, de 5 a 10 salários, como na faixa de eleitores com ganham mais que isso. Na primeira, Bolsonaro subiu 6 pontos e tem hoje 46% das intenções de voto. Na segunda, Bolsonaro avançou 4 pontos e agora tem 49%.
Mas Lula também não caiu nesses dois últimos apresentados. O petista se manteve nos 35% no estrato com renda entre 5 e 10 salários, e cresceu para também 35% entre aqueles com renda mais alta.
Outro dado importante é o eleitor da terceira idade, com mais de 60 anos, que representa 20% do eleitorado. Lula mantém uma vantagem razoável sobre esse eleitor, 43% X 34%. Ciro Gomes desabou três pontos junto a esse eleitorado, para 5%, e agora está atrás de Simone Tebet, que avançou e agora tem 7%.
Outra faixa de eleitores jovens, a que vai de 25 a 34 anos, promete dar muitos votos a Lula. O petista avançou 3 pontos nesse segmento, para 45%, ao passo que Bolsonaro e Ciro ficaram estagnados, com 38% e 7%, respectivamente.
A íntegra do Datafolha pode ser baixada aqui.
Abrapel / Ipespe
A Abrapel/Ipespe divulgou pesquisa telefonônica ainda mais recente, com 1.100 entrevistas realizadas entre os dias 21 e 23 de setembro. É uma entrevista independente, paga pela própria Ipespe, com o custo de R$ 46.200,00.
Lula também cresce nela, para 56%, e Bolsonaro fica parado em 35%. Ciro Gomes vem oscilando para baixo semana a semana. Tinha 9% no início de setembro e veio perdendo um ponto a cada pesquisa. Agora tem 6%, empatado com Tebet, que pontuou 4%.
A Ipespe faz algumas abordagens originais, que nos ajudam a pensar para onde vão as tendências. Por exemplo, ela perguntou se o eleitor gostaria que a eleição fosse decidida no primeiro turno, e 70% responderam que sim. Apenas respondeu que deseja uma resolução no segundo turno.
Curiosamente, o desejo de encerrar a fatura já no primeiro turno é alta até mesmo entre eleitores de Ciro Gomes: 52% dos ciristas responderam que desejariam uma decisão já no primeiro turno.
O Ipespe apurou o posicionamento ideológico dos eleitores, segundo o seu voto no primeiro turno. Os eleitores de Lula e Bolsonaro são os mais coerentes: 62 % dos eleitores de Lula se posicionam da esquerda ao centro, e apenas 3% de centro direita ou direita. Com Jair, a definição é ainda mais dura: 91% se dizem de direita.
Ciro Gomes, por outro lado, tem de lidar com um eleitorado ambíguo, com 39% se declarando de direita, 30% de esquerda e 13% de centro. Para Ciro, esse quadro reflete a perda de eleitores de esquerda, que migraram para Lula, e a proporção cada vez maior de conservadores, que estão com ele por causa de suas posições mais antipetistas. Esse quadro é uma armadilha para Ciro e para o PDT, porque amarra Ciro a um discurso que pode fazê-lo perder de vez os 30% de eleitores de esquerda que ainda tem.
Na percepção dos eleitores, o candidato que vem fazendo a melhor campanha é Lula. O número corresponde quase perfeitamente à pontuação dos candidatos da espontânea. Cada eleitor tende a indicar o seu candidato como aquele que está se saindo melhor.
Quando se pergunta sobre o último debate presidencial, vale notar que o interesse é maior justamente por aqueles que já tem candidatos. Entre eleitores de Lula, 64% respondem que, com certeza, irão assistir ao debate, número que cai para 50% entre eleitores de Bolsonaro e 59% entre eleitores de Ciro. Entre indecisos e dispostos a anular o voto, todavia, a maioria respondeu que não irá assistir. Ou seja, é um indicativo de que o debate não tende a provocar nenhuma reviravolta na campanha e nos percentuais dos candidatos.