O governador Claudio Castro (PL) experimentou um espantoso crescimento na pesquisa Ipec divulgada nesta terça-feira pelo grupo Globo. Em apenas uma semana, passou de 26% para 37% dos votos totais.
O Datafolha de alguns dias atrás já tinha detectado um movimento de alta acelerada de Castro: naquela pesquisa ele subira de 26% para 31% em menos de quinze dias.
Em votos válidos, Castro agora tem 47%. Se continuar crescendo nesse ritmo, periga vencer no primeiro turno.
Os números espontâneos, porém, indicam que há espaço para mudanças dos ventos.
Castro subiu 6 pontos, de 16% para 22% na espontânea, mas o número de indecisos ainda é alto, 45%. Somando os 15% de votos nulos e brancos, temos 60% de votos à disposição para serem captados pelos candidatos.
Marcelo Freixo não está parado. Ele avança, embora em ritmo muito mais lento do que o de seu adversário.
O deputado subiu 3 pontos na estimulada, de 19% para 22%, e 3 pontos na espontânea, para 12%.
Os números do Datafolha tinham sido mais felizes para Freixo: nessa pesquisa, o deputado tinha 26% na estimulada e 15% na espontânea, o que lhe deixava empatado tecnicamente com Castro.
A simulação de segundo turno da Ipec é particularmente cruel para o parlamentar, porque o mostra caindo em relação à pesquisa anterior, de 35% para 31%, enquanto o governador cresce 5 pontos e chega a 43%.
Apesar dos números não oferecerem um cenário entusiástico para o campo progressista, ou melhor, justamente por causa disso, é preciso lançar o alerta: muita calma nessa hora!
Freixo ainda está no jogo. Cresceu na espontânea, na estimulada, e tem vaga certa no segundo turno.
O problema real, para Freixo, apresentado por essa pesquisa, é o seu desempenho no segundo turno, que devemos, portanto, analisar detidamente.
Quais os estratos em que Freixo enfrentaria mais dificuldades no segundo turno, e quais estratégias poderiam melhorar sua performance?
Olhemos para a região metropolitana (RM), onde residem 72% dos eleitores do estado. Se Freixo melhorar seu desempenho nessas áreas, ele pode mudar o jogo.
Na pesquisa anterior, de apenas uma semana atrás, o candidato do PSB se mantinha empatado com Castro na região metropolitana, ambos com 38% na simulação de segundo turno.
Na pesquisa de hoje, Castro sobe, Freixo desce, e o placar fica em 41% X 34%, sete pontos de vantagem para o governador. É uma vantagem que é possível reverter, especialmente considerando o elevado número de eleitores indecisos.
O último Datafolha trazia Castro e Freixo rigorosamente empatados na região metropolitana, ambos próximos de 30%.
Ainda olhando para a simulação de segundo turno, Freixo encostou em Castro no eleitorado mais pobre, com renda até 1 salário, que representa o bloco mais numeroso do estado, 30% dos fluminenses. Nesse estrato, Freixo avançou dois pontos e Castro recuou, criando um empate técnico entre ambos: Castro 34% X Freixo 31%.
Se esse avanço entre os mais pobres constituir uma tendência, abre-se uma porta para Freixo avançar pelo interior e pelos estratos de renda imediatamente acima, que ganham entre 1 e 2 salários.
Na espontânea, Freixo avançou em todas as faixas de renda no primeiro turno, e pontua 16% junto a eleitores com renda entre 2 e 5 salários e 21% entre aqueles com renda acima de 5 salários. Para efeito de comparação, Ciro Gomes tem apenas 7% dos votos espontâneos dos eleitores fluminenses com renda acima de 5 salários.
Conclusão
Freixo completou a primeira etapa de sua campanha, que é conquistar uma base própria no eleitorado de baixa renda. Ainda não tem números suficientes para ganhar a eleição, mas seguramente os tem para construir uma campanha competitiva.
O maior desafio de Freixo é interromper um movimento que meio que já era esperado: o proselitismo religioso evangélico contra sua candidatura. É nesse estrato, em particular, que o deputado enfrenta suas maiores dificuldades. Segundo a Ipec, Freixo tem hoje ridículos 5% dos votos espontâneos dos evangélicos, contra 28% de Castro.
Rodrigo Neves também não conseguiu romper a barreira evangélica, e tem apenas 3% dos votos espontâneos desse segmento.
Segundo a Ipec, os evangélicos representam 34% dos eleitorado fluminense.
Ainda no estrato por religião, Freixo tem um trunfo. O segmento classificado de “outros”, que soma eleitores de todos os outros credos (ou ateus) que não católicos e evangélicos, corresponde a 28% do eleitorado fluminense. É um estrato numeroso, portanto, e nele Freixo pontua 16% na espontânea (contra 15% de Castro), 29% na estimulada (contra 28% de Castro), e 38% no segundo turno (contra 35% de Castro).
Em suma, a pesquisa Ipec, apesar de não ser tão generosa para Freixo como havia sido o Datafolha, o mantém dentro do jogo, com elevadas chances de disputar um segundo turno eletrizante contra o atual governador.