A pesquisa Quaest divulgada hoje confirma o que tínhamos observado na BTG de segunda e na Ipec de terça: o crescimento de Lula junto ao povo humilde.
Lula está crescendo de baixo para cima, com muita força, num movimento que corresponde a uma imenso levante popular contra Bolsonaro.
Entre famílias com renda familiar até dois salários, Lula avançou três pontos e chegou a 55% dos votos totais, o que corresponderia a 62% dos votos válidos.
Bolsonaro hoje tem 27% dos votos totais dos mais pobres, e a terceira via desabou para 7%.
Um outro movimento interessante mostrado pela pesquisa é a queda de Bolsonaro na classe média, de 45% para 41% entre eleitores com renda superior a 5 salários, e uma oscilação positiva de 1 ponto para Lula, que chegou a 33%.
Entre eleitores com renda de 2 a 5 salários, Lula se manteve estável, com 41%, ainda à frente de Bolsonaro, que pontuou 37%.
Essa é mais uma pesquisa realizada após grande parte dos depósitos do Auxílio Brasil, com valor ampliado para R$ 600, terem sido já realizados.
E o que se viu é uma prova de maturidade e independência do povo, que está seguindo as orientações de Lula, para sacar o Auxílio e dar uma banana para Bolsonaro.
Segundo a Quaest, Lula subiu cinco pontos entre os beneficiários do Auxílio, de 52% para 57%, ao passo que Bolsonaro caiu dois pontos, de 29% para 27%.
Dois gráficos da Quaest, todavia, mostram que Bolsonaro ainda pode crescer até o dia da eleição, e que o resultado pode ser mais apertado do que os números hoje parecem indicar.
O primeiro gráfico trata do “medo” do eleitorado: uma maioria de 45% respondeu que seu maior medo é a “continuidade de Bolsonaro”, mas há ainda um total de 40% que menciona a “volta do PT” como seu maior medo.
O outro gráfico pergunta se Bolsonaro merece um segundo mandato. Uma maioria de 54% acha que não, que ele não merece, mas 44% responderam que sim. Perguntados se Lula, por sua vez, merece voltar a ser presidente, uma maioria de 54% respondeu que sim.
Lula recuperou um ponto e tem hoje agora 45% dos votos totais, segundo a Quaest. Mas Bolsonaro também avançou, e chegou a 33%. A terceira via ficou estagnada em 10%.
Na espontânea, o cenário é de estabilidade, com Lula mantendo uma vantagem de 8 pontos sobre Bolsonaro, 33% X 27%. Ciro Gomes empacou no 1%, e daí não desde junho, depois de ter avançado para 2% nos primeiros meses do ano.
No cenário de segundo turno entre Lula e Bolsonaro, Lula vence por 51% X 38%, 13 pontos de diferença. É o menor intervalo entre os dois desde o início da pesquisa.
O crescimento de Bolsonaro parece inteiramente concentrado no eleitorado evangélico, onde ele chegou a 52% dos votos totais, contra 28% de Lula.
No segmento católico, porém, uma maioria esmagadora, de 52% dos votos totais, prefere Lula. Bolsonaro segue estagnado há meses entre católicos, com 27%.
Na análise por região, chama atenção a dança das cadeiras no Sudeste, com Bolsonaro oscilando para baixo e Lula avançando, deixando o placar em 39% X 37% para o petista.
No Nordeste, Lula mantém vantagem de 40 pontos sobre Bolsonaro: 61% X 21%.
O gráfico abaixo nos dá uma imagem do peso proporcional dos três grandes grupos de renda usados pelo Quaest. Os mais pobres, com renda familiar até 2 salários, correspondem a 38% do eleitorado. O grupo seguinte, com renda de 2 a 5 salários, a 40%. O extrato mais rico, com renda acima de 5 salários, responde por 22%.
Alguns analistas tem alertado para a desatualização das estatísticas oficiais relativas à renda no Brasil, por causa do corte de recursos que o governo fez no IBGE, além do problema causado pela pandemia. Mas se há desatualização, seguramente seria a de não mostrar o aumento da pobreza no país. Ou seja, se houvesse um censo agora, ele provavelmente mostraria um percentual maior de pobres, uma categoria que, segundo todas as pesquisas, tende a votar mais no Lula. Em outras palavras, se o censo fosse atualizado, isso poderia valer mais alguns pontos para Lula nas pesquisas.
A pesquisa Quaest realizou 2.000 pesquisas presencias entre os dias 11 e 14 de agosto, e custou R$ 139 mil, pagos pelo banco Genial. A íntegra do relatório pode ser baixada aqui.
Conclusão
Essa é mais uma pesquisa que mostra um cenário eleitoral consolidado, com Lula se mantendo como favorito para vencer as eleições. Em votos válidos, o petista seria escolhido por 51% dos brasileiros, segundo a Quaest divulgada hoje, o que lhe daria vitória no primeiro turno.
Entretanto, Bolsonaro também mostra força. O presidente tem um eleitorado extremamente duro, com pouca disposição para mudar. Segundo a Quaest, 78% dos eleitores de Bolsonaro responderam que sua decisão é “definitiva”.
Ainda pode vir alguma surpresa da terceira via, mas não do jeito que seus representantes esperam. O mistério da terceira via se resume ao dilema: seus eleitores migrarão para Lula ou Bolsonaro. Na Ipec divulgada ontem, vimos que 62% dos eleitores de Ciro admitiram que podem mudar seu voto ainda no primeiro turno. Pela proximidade ideológica entre PT e PDT, o mais racional seria que esses eleitores transferissem sua escolha para Lula. Mas há um setor cirista que cultiva um antipetismo tão radicalizado e irracional, a ponto de abandonar Ciro ainda no primeiro turno e votar em Bolsonaro. Provavelmente, todavia, é uma minoria. A maioria dos ciristas deve migrar para Lula mesmo.