Não se engane. A pesquisa Quaest em São Paulo, divulgada hoje, 11 de agosto de 2022, é excelente para Lula.
Como ensinava um pensador russo, é sempre aconselhável nos aferrarmos à uma análise objetiva da realidade concreta.
E o que diz, concretamente, a pesquisa Quaest, que fez 2.000 entrevistas presenciais e custou R$ 131 mil?
Lula avançou 2 pontos na pesquisa espontânea, em relação a julho, e agora tem 27%.
Desde a primeira pesquisa Quaest em São Paulo, feita em março, Lula avançou 7 pontos.
Ciro Gomes, por exemplo, está estagnado em 2% desde março.
Na estimulada, Lula também segue firme. Tinha 37% em julho. E agora tem os mesmos 37% em agosto.
O petista cresceu 3 pontos entre católicos e oscilou apenas 1 ponto (ou seja, abaixo da margem de erro) entre evangélicos. A vantagem de Lula entre católicos, que era de 8 pontos em julho, agora é de 12 pontos.
A ofensiva religiosa de Bolsonaro pode estar lhe rendendo votos, vindo das franjas mais reacionárias e antipetistas da terceira via e dos indecisos, mas a maioria dos cristãos paulistas seguem votando em Lula. Católicos representam 46% dos eleitores paulistas, com 30% dos evangélicos.
O petista manteve um desempenho forte, nessa pesquisa, em vários extratos importantes.
Entre mulheres, por exemplo, Lula oscilou um ponto para cima e chegou a 40%, mantendo uma vantagem confortável de 10 pontos sobre Bolsonaro.
Lula caiu um pouco entre jovens paulistas, com idade até 24 anos. Mas ainda mantém o dobro do votos do Bolsonaro neste segmento, que é estratégico em tempo de redes sociais, por conta de sua maior desenvoltura no mundo da tecnologia da informação. Segundo a Quaest, Lula tem 43% dos votos dos jovens até 24 anos, contra 22% de Bolsonaro.
A análise dos extratos de renda também traz boas notícias para Lula. O petista oscilou para cima na classe média paulista, o que afasta a interpretação de que o “antipetismo” voltou a assombrar o estado.
Lula ampliou sua vantagem entre os paulistas que ganham entre 2 e 5 salários de renda familiar: o petista oscilou um ponto para cima e Bolsonaro um para baixo, e o placar ficou: Lula 37% X 34% Bolsonaro. Esse grupo representa 44% do eleitorado paulista.
Entre paulistas com renda familiar acima de 5 salários, e que corresponde a 31% do total do eleitorado paulista, o petista também oscilou para cima, de 31% para 32%. Este é, possivelmente, o extrato mais “perigoso” do eleitorado paulista, por causa de seu poder de mobilização. É muito positivo que Lula tenha oscilado para cima nesse extrato. Bolsonaro cresceu 5 pontos nesse segmento, mas puxando os votos da terceira via, não de Lula. Repare ainda que a terceira via ainda tem 15% nesse extrato de renda mais elevada: é um valioso patrimônio, cujos espólios, serão objeto de feroz batalha política entre os dois que lideram as pesquisas.
Entre os mais pobres, com renda até 2 salários, Lula oscilou dois pontos para baixo, e Bolsonaro cresceu expressivamente, 7 pontos, mas o petista mantém uma liderança confortável nesse segmento, com 45% X 28%.
O mesmo raciocínio usado na análise dos extratos de renda pode ser aplicado para os extratos por grau de escolaridade.
Lula não perdeu um ponto entre os mais instruídos. Isso é muito importante. Em julho, o petista tinha 34% entre eleitores com ensino médio, e tem agora o mesmo percentual. Entre eleitores com ensino superior, outro segmento estratégico, por causa de sua capacidade de influenciar a opinião pública, Lula subiu um ponto e agora tem 31%.
No cenário de segundo turno, Bolsonaro se aproximou de Lula, mas ainda perde, fora da margem de erro, por 44% X 40%.
A Quaest também apurou o voto dos eleitores que recebem o Auxílio Brasil, e por aí se pode identificar que o início do programa de fato mexeu no tabuleiro.
Bolsonaro cresceu 9 pontos entre os que recebem, e chegou a 29%, mas quem ainda lidera, e com enorme vantagem, é Lula, com 51% (embora tenha perdido 3 pontos nesse segmento).
Entre quem não recebe Auxílio, Lula não perdeu pontos. Tinha 35% em julho e tem os mesmos 35% em agosto.
Conclusão
Bolsonaro está mais forte em São Paulo.
O presidente cresceu em três frentes importantes:
- Terminou de devorar os restos da terceira via, especialmente as franjas mais antipetistas da classe média paulista, que apostavam em Dória, Tebet ou Ciro.
- Colhe os frutos da campanha feroz que a máquina evangélica conservadora vem deflagrando, no estado e em todo país.
- Se beneficiou do início do pagamento do Auxílio Brasil, de R$ 408, pagos em julho, e com a promessa dos R$ 600 que começam a ser pagos este mês.
Quanto a Lula, considero aconselhável examinar seu desempenho sem fazer tanta comparação com Bolsonaro. O petista cresceu em setores especialmente estratégicos, pelas razões que já adiantei anteriormente, mas que reitero aqui:
- Oscilou para cima entre católicos e resistiu entre evangélicos, criando uma muralha “cristã” contra a ofensiva religiosa de Bolsonaro.
- Resistiu – e até avançou um pontinho – nos extratos mais instruídos e de maior renda, neutralizando uma possível onda antipetista vinda desses setores, que são particularmente perigosos do ponto-de-vista eleitoral, por sua grande capacidade de mobilização.
- Mantém liderança confortável entre jovens, o que ajudará a campanha nas redes.
- Ainda tem muito mais voto que Bolsonaro entre os mais pobres e os que recebem Auxílio Brasil, e essa base grande ajudará a campanha petista a reconquistar eventuais votos perdidos para Bolsonaro nas últimas semanas.
A pesquisa confirma o que já tínhamos visto em outras: o voto útil começou. Pensávamos que começaria pelos eleitores mais lulistas de Ciro Gomes, mas deu-se o contrário. O que se nota é migração de eleitores de Ciro para Bolsonaro, a partir de suas franjas mais reacionárias. Mas Ciro ainda tem 7%, e, segundo a mesma pesquisa, a maioria deles vota Lula no segundo turno. Ou seja, Ciro ainda é uma reserva de votos mais favorável a Lula, inclusive no primeiro turno, pois é possível que parte desses eleitores se sintam inclinados a fazer voto útil no petista. A mesma coisa vale para a Simone Tebet. Também segundo a Quaest, a maioria de seus eleitores prefere Lula a Bolsonaro, de maneira que ela também pode perder alguns eleitores para o petista até 2 de outubro.
A Quaest traz ainda duas excelentes notícias para Lula, que é a liderança de seus candidatos ao governo e ao Senado.
Haddad tem 34% das intenções de voto para o governo de São Paulo, mais que o dobro da segunda colocação, disputada entre Tarcísio e Garcia, ambos com 14%.
Para o Senado, Marcio França lidera com 29%, também mais que o dobro dos 12% de Marcos Pontes, candidato de Bolsonaro.
É óbvio que ter duas candidaturas majoritárias, para o governo e para o senado, liderando a disputa, ajuda, e muito, o ex-presidente Lula a construir sua campanha em São Paulo. A liderança de Haddad e França aumenta o poder gravitacional de Lula, que já é alto, pois atrai candidatos proporcionais de todos os lados, além de prefeitos, vereadores, empresários, que estarão interessados em estabelecer pontes com quem tem chance de ganhar as eleições no estado mais rico do país.
A íntegra da pesquisa pode ser baixada aqui.