Ao contrário do que provavelmente dirão alguns catastrofistas, a nova pesquisa Quaest divulgada hoje é boa para o ex-presidente Lula.
É boa por motivos muito objetivos:
- Lula cresceu 2 pontos na espontânea, para 33%.
- Ainda vence no primeiro turno, com 51% dos votos válidos.
- Mantém vitória folgada sobre Bolsonaro, em simulações de segundo turno.
- O impacto político do Auxílio Brasil já foi, em grande parte, assimilado.
- Ciro Gomes tem apenas 1% na espontânea, e seu eleitorado agora tende a migrar para Lula.
Vale naturalmente um alerta: o Auxílio pago em julho ainda foi o de R$ 408,00. O valor “bombado” pela PEC, de R$ 600, deverá ser pago ao longo de agosto, então ainda poderemos ver uma melhora na avaliação de Bolsonaro entre os beneficiados nas pesquisas de setembro, com algum reflexo positivo para seu desempenho eleitoral.
Mas a pesquisa de hoje sinaliza um nível tão forte de decisão do voto, que não deve ocorrer grandes variações. Além disso, setembro será o mês da campanha na TV, quando Lula terá espaço para explicar aos eleitores de baixa renda (junto aos quais ele tem grande prestígio) que, se for eleito, não apenas o Auxílio deverá ser mantido, como seu governo deverá levar adiante um plano audacioso de combate à pobreza e geração de empregos.
O percentual de indecisos caiu 4 pontos na espontânea, demonstrando que o processo de formação de voto está se consolidando rapida e firmemente.
O grau de decisão dos eleitores avança: entre eleitores de Lula, por exemplo, temos agora 78% que consideram seu voto definitivo, percentual superior ao de eleitores de Bolsonaro, que é de 73%, e muito acima da convicção dos eleitores da “terceira via”, entre os quais apenas 34% tem certeza de seu voto.
Na pesquisa estimulada para o primeiro turno, Lula oscilou 1 ponto para baixo, Bolsonaro um para cima, mas o petista mantém uma confortável vantagem de 12 pontos sobre o adversário: 44% X 32%. O petista oscila entre 44% e 46% desde dezembro de 2021.
Em votos válidos, Lula teria 51% e poderia, dentro da margem de erro, vencer no primeiro turno.
Bolsonaro vem bebendo as últimas gotas de sangue da terceira via. Na pesquisa de hoje, ele parece ter dado umas mordidas também no pescoço de Ciro Gomes.
O discurso raivosamente antipetista de Ciro pode ter causado um efeito curioso junto a seus eleitores. Todo seu esforço para emplacar a narrativa de que a raíz do mal não é Bolsonaro, e sim Lula, está fazendo com que seus próprios eleitores migrem para… Bolsonaro.
A queda de Ciro Gomes tem sido vertiginosa. Na pesquisa de hoje, ele tem apenas 5% dos votos totais, no cenário principal, metade do que possuía em julho do ano passado, e alguns pontos menos do que tinha no início deste ano.
Entretanto, há um fato incontestável nessa pesquisa – em favor de Bolsonaro.
A chegada do Auxílio Brasil mexeu no tabuleiro político, reduzindo a rejeição de Bolsonaro entre os beneficiados, puxando para baixo sua rejeição geral e melhorando sua performance junto ao eleitorado de baixa renda.
A rejeição eleitoral de Bolsonaro caiu para 55%, nível que o mantém empatado com Ciro Gomes, cuja rejeição oscilou para 53%.
Lula tem hoje rejeição de 44%.
Quando se identificam os eleitores que recebem Auxílio Brasil, Lula caiu para 52%, o que ainda o mantém numa posição muito superior aos 29% de Bolsonaro nesse extrato.
Observe, no entanto, que mesmo neste segmento, Bolsonaro avançou apenas 2 pontos, ou seja, dentro da margem de erro.
Entre aqueles que não recebem, houve mais estabilidade, com variação dentro das margens: Lula caiu de 43% para 41% e Bolsonaro oscilou um ponto, para 34%.
Nas simulações de segundo turno, o presidente Lula mantém margem confortável sobre seus principais adversários. Ele venceria Bolsonaro com 14 pontos de vantagem: 51% X 37%. Em votos válidos, o resultado seria uma surra de 58% X 42%.
Ciro Gomes seria o adversário mais fácil para Lula, segundo essa pesquisa, porque o venceria por 51% X 27%, ou 24 pontos de diferença. Nem se todos os nulos, brancos e indecisos migrassem para Ciro, ele teria condição de ganhar. Em votos válidos, o placar seria um massacre de 65% X 25%, com 40 pontos de vantagem para o petista.
A Quaest perguntou aos entrevistados qual seria, em sua opinião, o principal problema do Brasil. A preponderância de respostas relacionadas à economia e questões sociais é enorme. As respostas que apontam corrupção como o mais grave problema nacional, por outro lado, caíram em todas as faixas de renda.
Entre as famílias de baixa renda (até 2 salários), apenas 6% apontaram a corrupção como principal problema, contra 64% que disseram se preocupar mais com economia e questões sociais.
Já entre os eleitores de maior renda familiar (mais de 5 salários), 11% vêem a corrupção como o problema mais grave do país, contra uma igualmente maioria esmagadora, de 60%, que julga o combo “economia + questão social” como mais relevante.
Outro questionário cruza dados de intenções de voto no primeiro turno e os temas mais preocupantes, segundo o eleitor de cada candidato.
Entre aqueles que se preocupam mais com questões sociais e economia, Lula é muito forte. Bolsonaro ainda vence, contudo, entre eleitores mais preocupados com o tema da corrupção.
Os dados mais importantes dessa pesquisa, todavia, não são os percentuais de voto, que se mantiveram relativamente estáveis, dentro da margem de erro, e sim o declínio da avaliação negativa do Bolsonaro, que passou de 47% para 43%.
Sua avaliação positiva, por outro lado, se manteve estável, em 27%, apenas um ponto acima do nível registrado no mês anterior.
Quando se olha para dentro do extrato que recebe Auxílio Brasil, é que se nota o impacto político do programa.
Entre os que recebem Auxílio, a avaliação negativa ao governo despencou 9 pontos, de 48% para 39%, e a nota positiva subiu 4 pontos, para 28%.
Entre os que não recebem, o cenário é mais estável. A avaliação negativa caiu 3 pontos, provavelmente puxada por eleitores que, apesar de não receberem o Auxílio, tem membros da família que são beneficiados. A avaliação positiva oscilou apenas 1 ponto para cima.
A pesquisa Quaest fez 2 mil entrevistas presenciais e custou R$ 139 mil. Foi paga pelo banco Genial.
Conclusão
A pesquisa é extremamente positiva para o ex-presidente Lula, que apresenta condições de vencer no primeiro turno mesmo após o impacto do Auxílio Brasil.
A entrada em vigor da PEC da Emergência, que elevou em 200 reais o valor total do Auxílio, de R$ 400 para R$ 600, é a última grande cartada do governo para melhorar sua performance eleitoral.
Bolsonaro vem conseguindo, de fato, ganhar pontos entre eleitores beneficiados pelo programa, mas esse efeito provavelmente se diluirá nas próximas semanas, especialmente porque o ex-presidente Lula é visto, pela maioria, como o mais capaz de trazer soluções para problemas relacionados à economia, à fome e à pobreza.
Por exemplo, entre aqueles que vêem a questão social como o principal problema do país, Lula tem 58% dos votos totais, contra 17% de Bolsonaro e 5% de Ciro Gomes.
Ou seja, a dinâmica das grandes preocupações nacionais deverá favorecer o ex-presidente Lula, sobretudo quando se iniciar a campanha nos grandes meios de comunicação.
Bolsonaro e Ciro Gomes, por sua vez, tem apenas a cartada lavajatista para atacar Lula, um tema que, segundo essa mesma pesquisa, é visto como secundário para a maioria dos eleitores, de qualquer classe social, mas especialmente para as famílias de baixa renda.
Os extratos mais reacionários e antipetistas dos eleitores de Ciro Gomes já começaram a migrar para Bolsonaro. Boa parte dos 5% que restam devem ser de eleitores mais progressistas, que tendem a migrar para Lula ao longo das próximas semanas, na medida em que a inviabilidade do candidato for se tornando evidente.
E ainda temos a possibilidade do candidato André Janones se unir a Lula, entregando-lhe um ou dois pontinhos a mais do total de votos.
Com isso, Lula, que já tem votos suficientes para vencer no primeiro turno, pode ganhar uns três pontos de Ciro, um pouco de Janones, além da possibilidade de virar votos bolsonaristas na reta final.
Mais alguns pontos da pesquisa que merecem destaque
Lula cresceu dois pontos no Nordeste, para 61% dos votos totais, ao passo que Bolsonaro caiu na região, para 20%. É uma diferença brutal, sem perspectiva de mudar, e que também ajuda a neutralizar os efeitos do Auxílio Brasil.
O petista se mantém rigorosamente empatado com Bolsonaro no Sudeste, ambos com 37%. No Sul, vem abrindo vantagem crescente sobre Bolsonaro: já tem 41%, contra 32% do atual presidente.
O Centro-Oeste, conhecido por seu eleitorado conservador, também está surpeendendo e votando em Lula: o petista atingiu 40% na região, cinco pontos acima de Bolsonaro.
Lula oscilou um ponto para cima entre eleitores com ensino médio, para 43%. Esse eleitorado instruído é estratégico.
O petista segurou, sem alteração, seus 33% de votos entre eleitores com curso superior.
Um ponto de preocupação para a campanha de Lula é o voto evangélico. Mesmo nesse extrato, porém, Lula vem resistindo: ele oscilou apenas 1 ponto para baixo, e tem 29% do total, contra 48% de Bolsonaro. Em toda pesquisa, Lula vem mantendo cerca de um terço do eleitorado evangélico. Esse um terço liderará a resistência contra as campanhas proselitistas de algumas lideranças evangélicas reacionárias.
Quanto se examina o voto por faixa de renda, Lula tem mais que o dobro dos votos de Bolsonaro entre famílias com renda até dois salários; vence por 43% X 33% na faixa intermediária, com renda familiar de 2 a 5 salários; mas perde por 45% X 32% entre eleitores com renda familiar acima de 5 salários.
A performance na classe média, numa campanha na qual as redes sociais têm enorme importância, será determinante para todos os candidatos. Mas Lula tem um trunfo importante, que poderá compensar o desempenho numericamente inferior junto aos extratos mais ricos, que é o apoio da classe artística.
O ativismo pró-Lula da classe artística, especialmente daqueles com grande penetração nas redes, deverá beneficiar o ex-presidente conforme se elevar a temperatura da campanha eleitoral, neutralizando a mobilização espontânea de setores antipetistas da classe média.
A íntegra da pesquisa pode ser baixada aqui.
EdsonLuíz.
03/08/2022 - 20h54
Jeferson, em resposta à sua pergunta-provocação feita mais abaixo, sobre se dinheiro de corrupção se deposita com cheque e na conta: isso pode ser ou não dinheiro de corrupção, mas sempre reforça a possibilidade de ser corrupção quando o depósito é na conta de quem não tem renda e/ou na conta de pessoa diferente da beneficiada direta. Essa é uma das formas de branqueamento de dinheiro de corrupção (lavagem mesmo!).
Mas a principal questão sobre normalidade institucuonal não é essa, sobre se o dinheiro depositado em conta de Michele Bolsonaro é ou não é dinheiro de corrupção, embora até possa ser.
E qual é a questão sobre cheques depositados em conta, por exemplo?
A questão é que suspeita, qualquer que seja, se deixa investigar, em vez de se impedir a investigação. Pegando o caso do relatório do COAF sobre movimentações de Flávio Bolsonaro, você acha que aquilo deveria ser investigado ou concorda com o inquérito ser arquivado em atendimento ao apelo de Flávio Bolsonaro de que houve descumprimento de rito processual na produção do relatório? Você acha que “rasgar as provas” usando como descuulpa o descumprimento de rito ajuda a moralizar ou protege o ladrão? Você acha que proteger o ladrão, no lugar de sanear o processo sem rasgar as provas, é melhor ou pior para se ter um Estado Legal de Direitos? Quando for contra Flávio Bolsonaro é atentar contra o Direito Legal? Quando for contra Lula é atentar contra o Direito Legal? Quando for contra Fernandinho Beira-Mar é ate tar contra o direito legal? Ou proteger acusados ou condenados, quando se pide sanear os processos sem inviabiluzáos é que é atentar contra o Direito Legal e contra o povo e o Brasil? E a decretação de sigilo por 100 anos do conteúdo desse relatório, você acha correto?
A questão é essa: pela saúde da república e para o bem de seu povo, pontas que sugerem corrupção devem ser investigadas, sempre! Senão reforçamos a cultura de um corrupto proteger o outro, de eles fazerem alianças nas instâncias judiciais e políticas para autoproteção, e depois é suficiente cada um dizer que o outro é corrupto e o seu é inocente ou dizer que quem exige moralidade pública é moralista. E vai ter até gente dizendo que combater corrupção leva a problemas econômicos e gera desemprego e não o contrário.
A pessoa pública tem que ser um livro aberto, e aberto em qualquer página!
Alexandre Neres
03/08/2022 - 15h13
Como nas análises do Miguel frequentemente aparecem ciristas raivosos, gostaria que me explicassem a sentença lapidar que virá depois. Papo furado? Que Ciro sempre esteve às turras com as mulheres, não há dúvida, taí recentemente a Izolda Cela pra não me deixar mentir. Quanto ao racismo, não se pode olvidar da treta com Fernando Holiday. Que Ciro é um cara datado e ultrapassado, não resta a menor dúvida. Pô, mas numa época dessas encrespar também com os povos originários? Ciro está cada vez mais parecido com seu homólogo que ocupa a presidência, daqui a pouco vai vociferar contra o meio ambiente. Eis a frase: “Tudo num cenário completamente diferente de 2003. E a expectativa do povão é cerveja e picanha. Ele vai botar um banqueiro na Economia, entregar as políticas de papo-furado – mulher, índio e negro – para o PT se divertir, a política e o Orçamento pro Centrão e vai passear no estrangeiro”.
Indo ao texto, seria bom que todos os democratas, incluindo os liberais e os conservadores, cogitassem da hipótese de votar na chapa Lula-Alckmin no primeiro turno para salvaguardar a democracia, ante a iminência do golpe que se torna muito mais provável depois desta etapa do pleito. Faz-se mister defenestrarmos Salnorabo, junto com o discurso de ódio que precede os atos violentos, os ataques sistemáticos às instituições, para que saiamos deste hospício e voltemos a uma espécie de normalidade. Nas próximas eleições, se conseguirmos mandar essa ignomínia de volta aonde nunca deveria ter saído, quem sabe não será disputada entre os dois polos de sempre, centro-esquerda e centro-direita?
Por fim, mas não menos relevante, é bom deixar claro que as eleições serão bastante difíceis, até mesmo porque nem na época das vacas gordas o PT conseguiu liquidar a fatura no primeiro turno.
EdsonLuíz.
03/08/2022 - 14h55
O governo jair bolsonaro não é um governo normal! Não é mesmo! Até normal no sentido de não ter corrupção o governo jair bolsonaro não é normal! As coisas não apareceram — ou não apareceram ainda — no volume dos escândalis MENSALÃO e PETROLÃO, mas as pontas de corrupção já apateceram.
Mesmo que não aparecessem pontas de corrupção, pelo meio em que acontece um governo a gente sabe quando tem corrupção e sabe também quando terá mais corrupção, mesmo que ela não apareça.
Eu não estou falando de narrativas de corrupção e denúncias levianas de corrupção contra gente proba, de denúncias do tipo “Geraldo Alckmin é ladrão de merenda”, quando a gente sabe que isso não é verdade e é ataque de ódio de levianos que, eles sim, os que fazem acusações narrativas levianas, eles é que são corruptos e inventam corrupção nos outros para parecer que eles não são corruptos. Eu estou falando de casos concretos, mesmo que menores, de cheques na conta da mulher ou de ‘rachadinhas’ do salário de funcionários que trabalham para vereadores ou deputados e que somos nós brasileiros que pagamos.e estou falando de casos absurdos de corrupção, como ganhar sítios ou triplex. Quando está tendo ou já teve casos assim, de corrupção grande ou pequena, a gente sabe que corrupção vai voltar a acontecer.
Esses governos que nós temos tido não são normais, nenhum desses últimos governos são.
Precisamos acender a lamparina e procurar um nome para por no governo; um governo que nos dê a luz do sol!
Jeferson
03/08/2022 - 20h03
Dinheiro de corrupção se deposita com cheque na conta agora…? Kkkkkk
Francisco
03/08/2022 - 14h14
Cabe mencionar que André Janones tem 8 milhões de seguidores em suas redes sociais. Sua influência a favor de Lula pode ir além dos hipotéticos 2%.
Francisco
03/08/2022 - 14h10
Chamar o desgoverno atual de normal não é normal.
Willy
03/08/2022 - 13h26
Traz bom numeros onde…?
O Auxilio Brasil nem começou a ser pago e a historia diz que quem fez um Governo normal, sem assaltar os cofres publicos (ou assaltando e ninguem ficar sabendo) ou dizer que vai estocar o vento se reeelge.
Querlon
03/08/2022 - 13h07
Eu nao conheço ninguem que mudou de voto de 2018 pra cà.
O Auxilio Brasil nao tem nada a ver, primeiro porque nem começou a ser pago e por tanto nao ha como incluir isso e segundo porque Bolsonaro se elegeu em 2018 com a esquerda espalhando com megafone (no NE principalmente) que o Bolsa Familia seria cortado caso fosse eleito.
As eleiçoes daqui pra frente nao sao mais sò por dinheiro, ha outras coisas que a esquerda troglodita nao vé.
Bandoleiro
03/08/2022 - 12h58
https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/09/28/datafolha-bolsonaro-perde-todos-os-cenarios-de-2-turno-ciro-vence-haddad.htm