Por Mahatma Ramos dos Santos
O relatório de produção e vendas da Petrobras do 2º trimestre de 2022, divulgado ontem (21/4), revelou queda na produção de petróleo e gás natural, recuperação da produção de derivados e redução do volume de vendas de derivados no mercado interno, na comparação com mesmo trimestre do ano anterior.
No segundo trimestre de 2022, a produção média de óleo, LGN e gás natural caiu 5,1%, saindo de 2,76 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d) no 2T21 para 2,65 milhões de boe/d no 2T22. A produção média de derivados, por sua vez, cresceu 1,7% no mesmo período, passando de 1,74 milhão de barris diários (bpd) no 1T21 para 1,77 milhão de bpd no presente trimestre.
A redução da produção de petróleo e gás natural da estatal se justifica por ao menos dois fatores: (i) início da vigência do Contrato de Partilha de Produção dos Volumes de Excedente da Cessão Onerosa dos campos de Atapu e Sépia, que caíram cerca de 90 mil barris equivalente de petróleo por dia (boe/d) e (ii) paradas de manutenção e intervenções em nove plataformas de sete campos distintos. Essa queda poderia ser maior, não fosse o início da produção na FPSO Guanabara, no campo de Mero, e a manutenção dos ramp-ups na FPSO Carioca (campo de Sépia) e P-68, nos campos de Berbigão e Sururu.
Até mesmo no polígono do pré-sal, vetor da expansão da produção nos trimestres anteriores, houve queda na produção de 0,7% no 2T22, assim como na produção de óleo e gás no pós-sal (14,2%) e em terra e águas rasas (28,3%). No pré-sal, a produção caiu de 1,62 milhão de barris de óleo equivalente por dia (boe/d) em 2T21 para 1,60 milhão de boe/d no atual trimestre. Contudo, a produção no pré-sal representou 73% da produção total da Petrobras em 1T22, três pontos percentuais superiores aos 70% registrados no 2T21.
O desempenho atual é reflexo da estratégia operacional da Petrobras, que concentrou seus investimentos quase exclusivamente no desenvolvimento da produção do pré-sal e optou por abandonar áreas de produção no norte e nordeste brasileiro, majoritariamente em campos terrestres e águas rasas. Ademais, esses resultados acendem o alerta para necessidade de maiores investimentos nas atividades de exploração e produção.
No segmento do refino, observou-se a reversão da queda na produção no 1T22, decorrente da venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM, atual Mataripe). No 2T22, a estatal registrou crescimento de 1,7% na produção de derivados, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. A produção total de derivados subiu de 1,74 milhão de barris por dia (bpd) no 2T21 para 1,77 milhão de bpd no 1T22.
Tal recuperação só foi possível com a nova ampliação do fator de utilização (FUT) de seu parque de refino, que neste trimestre alcançou 89% de utilização de sua capacidade instalada, percentual superior aos 87% registrados no último trimestre. No mesmo período do ano anterior (2T21), o FUT do parque de refino da Petrobras era de 75%, treze pontos percentuais inferior ao nível atual.
O volume de derivados comercializados no mercado interno, por sua vez, registrou queda de 2,4% neste trimestre, quando comparado ao 2T21. A exceção do nafta e QAV (querosene de aviação), os principais derivados – diesel, gasolina e óleo combustível – registraram queda no volume de vendas no mercado interno.
Neste trimestre, as vendas de diesel e óleo combustível caíram, respectivamente, 8,0% e 45,5%, em comparação com o 2T21. Em ambos os casos, a venda da RLAM e a menor demanda desses derivados para geração termelétrica foram fatores centrais para o resultado negativo. No caso do diesel, em particular, o aumento da participação de importadores e outros produtores nacionais no mercado brasileiro agravou o resultado da estatal. As vendas de gasolina – segundo principal derivado comercializado pela Petrobras – também tiveram redução no 2T22, de 2,8%, caindo de 386 mil barris por dia (bpd) no 2T21 para 375 mil bpd no atual trimestre.
Não obstante, em virtude da melhora no nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas no país, a Petrobras registrou uma queda de 83% na geração de energia elétrica e de 31,7% na venda de gás natural no 2T22, na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.
Por fim, as exportações líquidas registram forte queda no 2T22, variação negativa de 33,7% em comparação ao 2T21. Esse resultado é explicado por dois movimentos associados no comércio de petróleo: por um lado, a queda de 21,7% nas suas exportações, decorrente da menor produção de óleo e maior participação do óleo nacional carga processada nas refinarias e, por outro, a expansão de 25,8% das importações de petróleo no 2T22, em comparação com mesmo trimestre do ano anterior.
Em meio às turbulências provocadas pelas recentes mudanças na cúpula da governança da Petrobras, o desempenho operacional da empresa nesse 2T22 acende um alerta para a necessidade de incremento dos investimentos nos segmentos de exploração e produção, além de, mais uma vez, colocar em xeque a política de desinvestimentos em curso.
De acordo com o Plano de Negócios e Gestão 2022-2026 e os teasers publicados nos últimos meses, a companhia pretende vender outras quatro refinarias – a REGAP, REFAP, REPAR e RNEST. Se concluídas, essas vendas reduzirão, segundo a própria Petrobras, a capacidade de seu parque de refino dos atuais 2,2 milhões de barris de petróleo por dia para cerca de 1,2 milhão.
Essa estratégia deve expor ainda mais a empresa à volatilidade dos preços internacionais, ampliar os riscos de desabastecimento do mercado interno e, por conseguinte, elevar os preços médios para o consumidor brasileiro.