Em terra de bolsonarismo, quem é diferente é alvo: a perigosa escalada da violência política no Brasil

Foto: Evaristo Sá/AFP

Por Verônica Lima

Em setembro de 2018, o então candidato à presidência Jair Messias Bolsonaro, em campanha no estado do Acre, pegou o tripé de uma câmera e simulou um fuzilamento enquanto gritava “vamos metralhar a petralhada!”. Esse gesto absurdo já demonstrava o caráter violento e de desrespeito à democracia, numa ameaça explícita aos seus opositores.

No dia 8 de outubro de 2018, um dia após a votação em primeiro turno para a Presidência da República, o Brasil se chocou com o assassinato de Romualdo Rosário da Costa. Conhecido como Mestre Moa do Katendê, essa grande liderança popular foi morta a facadas por Paulo Sérgio Ferreira de Santana num crime com claras motivações políticas. 

No dia 15 de junho de 2022, durante um comício conjunto entre o presidente Lula e o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, em Minas Gerais, um drone que sobrevoava o ato despejou sobre os militantes um líquido identificado como veneno para matar moscas. Não houve vítimas graves, mas a tentativa de intimidação política ficou mais do que clara. 

No dia 10 de julho de 2022, um domingo, o companheiro Marcelo Arruda, guarda municipal e militante do Partido dos Trabalhadores, foi morto a tiros na sua festa de aniversário que tinha como tema uma homenagem ao presidente Lula. Sua vida foi tirada pelo simples fato de que ele optou por celebrar essa data fazendo referência a uma liderança política com a qual se identificava e cujo legado e atuação ele prestigiava e defendia.

No dia 11 de julho de 2022, uma mulher foi ameaçada por um Policial Militar na cidade de Maceió, em Alagoas, por estar usando uma camiseta estampada com o rosto do presidente Lula. Segundo seu relato, ela passeava pela praia de Jatiúca quando o agente de segurança disse que “tem gente que pede para levar um tiro”, simplesmente pelo fato dela estar demonstrando sua orientação política e exercendo sua liberdade individual. 

Esses episódios são apenas alguns dos milhares que dão a dimensão da escalada da violência política no nosso país, principalmente após a eleição de Jair Messias Bolsonaro à presidência da República. 

Não é segredo para ninguém que esse desgoverno tem inflamado a intolerância e o ódio contra aqueles que pensam diferente dele. Sua atuação tem deixado claro seu profundo desprezo pela democracia e seus impulsos autoritários que, em última instância, tem ameaçado não só as liberdades individuais e coletivas dos cidadãos brasileiros mas, principalmente, suas vidas. Moa do Katendê e Marcelo Arruda foram assassinados por manifestarem suas crenças e opiniões políticas, que divergiam daquelas dos seus algozes.

Nessas eleições, temos ouvido falar sobre o perigo da “polarização”. Isso é um equívoco. Polarização sempre houve: o meu partido, o PT, sempre disputou eleições presidenciais acirradas. O que estava em jogo antes era a “polarização” entre dois projetos políticos para o nosso país, sempre com respeito ao pleito democrático e às regras do jogo. O que vemos agora é diferente: há um lado que manifesta profundo desprezo pela democracia, pelo Estado, pelas instituições, pelo povo e até mesmo pela urna eletrônica, enquanto o outro defende um país com oportunidades para todos, sem desigualdades e com a garantia de vida digna para a população.

Não pode restar nenhuma dúvida: vivemos um momento atípico e decisivo da nossa história. O bolsonarismo representa uma ameaça ao nosso futuro. O povo negro, as mulheres, os LGBTQIA+, os trabalhadores e as trabalhadoras são alvos desse desgoverno e dos seus seguidores. As forças progressistas precisam deixar de lado as divisões e unificar a luta em torno de uma solução que seja capaz de derrotar o ódio.

O que precisa ser pesado é que o Bolsonarismo põe em risco as nossas vidas e as nossas liberdades. A história está nos convocando para cumprir um papel fundamental na defesa da nossa sociedade e precisamos estar à altura deste chamado.

É pela vida de TODOS e TODAS nós! Pela memória de Moa do Katendê, Marcelo Arruda e tantos outros. Para que a gente não precise chorar mais mortos e nem ter medo de ser quem somos.

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