O ex-procurador Deltan Dallagnol, que protagonizou os abusos mais grotescos da Lava Jato, hoje é um homem que se diz “perseguido” pela justiça.
Enquanto a Lava Jato era a operação queridinha dos setores mais reacionários e golpistas da mídia, seus responsáveis sentiam-se livres para promover uma verdadeira farra de gastos. O TCU identificou, por exemplo, que foram autorizados, usando critérios duvidosos, pagamento de diárias e passagens a membros da Lava Jato. Foram despesas de milhões de reais, a maioria das quais, segundo a análise técnica do TCU, foi desnecessária e abusiva.
A medida que a investigação avança no TCU (podendo prejudicar a candidatura do ex-procurador a deputado federal pelo Paraná), o ex-procurador usa de todos os artifícios disponíveis para atrasar o processo. A ironia é que a estratégia usada pelo “Dallagnol investigado” de hoje é diametralmente oposta ao “Dallagnol investigador” de ontem.
Quando chefiava a Lava Jato, Dallagnol abusava dos holofotes para tratar qualquer esforço defensivo dos réus como “chicana”. Hoje, quando ele mesmo se vê enrolado nas barras da justiça, Dallagnol é o próprio chicanista, como se vê em seus embargos junto ao TCU, reclamando da rapidez com que o processo contra si vem tramitando na instituição.
Quando foi investigado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Dallagnol já havia se utilizado do mesmo artifício, e com sucesso. Ele conseguiu adiar, por mais de 40 vezes, a tramitação do processo que Lula iniciou contra ele no CNMP, por abuso de poder e violação de direitos constitucionais, no caso do Powerpoint.
No TCU, porém, Dallagnol não vem encontrando a vida fácil que tinha no CNMP. Despacho do ministro Bruno Dantas, relator que cuida do caso, rejeitou categoricamente o pedido do réu de postergar o seu processo.
A reação de Dallagnol tem sido previsível. Ele vem atacando o juiz Bruno Dantas, insinuando motivações políticas, para prejudicar a sua eleição para deputado. Os tempos de herói da direita, que se exultava a cada vez que Dallagnol praticava ou chancelava um abuso contra Lula, ou contra outro político e empresário importantes, parecem ter marcado o ex-procurador para sempre. Ele ainda acha que está no centro do palco político, e que o TCU dá alguma importância para sua candidatura.
Alguém deveria avisar Dallagnol que ele, politicamente, é carta fora do baralho. Os setores golpistas que o incensaram enquanto era procurador da Lava Jato, vêem-no agora apenas como uma prova viva constrangedora dos crimes que praticaram contra a democracia e contra a própria soberania nacional, violada por uma operação irresponsável e destrutiva.
De qualquer forma, importante observar que a investigação do TCU contra Dallagnol, por desvio de recursos públicos, é só a ponta do iceberg. Dallagnol ainda precisa ser investigado por muitos outros crimes, infinitamente mais graves, e que eu dividiria em três grandes grupos:
- os grandes crimes jurídicos da Lava Jato, cujo caso mais escandaloso resultou na prisão ilegal do ex-presidente Lula;
- os crimes contra o sistema econômico nacional, como se viu na fúria para destruir quase todas as grandes empresas de engenharia do país;
- os crimes contra a soberania brasileira, que ficaram explícitos nas ações de Dallagnol e seus cúmplices no MP e no Judiciário, para instrumentalizar agentes do Estado americano com argumentos para que estes impusessem multas multibilionárias a Petrobrás, além de criar uma situação que fez o governo federal suspender, por tempo indeterminado, projetos estratégicos, como a construção das refinarias, da usina nuclear Angra 3, do submarino nuclear, entre outros.