Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão.
Os versos imortalizados por Bezerra da Silva se aplicam bem aqui.
Carlos Fernando dos Santos Lima era um dos principais ideólogos da “República de Curitiba”.
Era um dos procuradores que mais davam entrevistas à grande imprensa, assim como também um dos mais agressivos contra qualquer um que ousasse criticar a operação.
Qualquer mínima crítica era logo classificada, por ele, como defesa da corrupção.
Lima ajudou a articular os fundamentos teóricos da operação que destruiu o sistema nacional de construção civil e engenharia, devastou a classe política, e pavimentou o caminho para o golpe de 2016 e a eleição de Bolsonaro em 2022.
Após Bolsonaro assumir o governo e Sergio Moro conquistar o Ministério da Justiça, Lima decidiu se aposentar aos 55 anos.
Por que alguém largaria um emprego público que está no topo da cadeia alimentar dos profissionais liberais do país?
Fácil: para ganhar mais dinheiro na famigerada “indústria de compliance”.
E agora a bomba.
O TCU descobriu que a empresa criada por Lima, a W Faria, recebeu R$ 28 milhões da Eletrobrás como pagamento de serviços de compliance.
Nada menos que 100% desse valores, segundo o TCU, foram irregulares, ou superfaturados.
Em linguagem popular, Lima teria recebido um pixuleco de quase 30 milhões de reais.
O modus operandi de Lima foi seguido por vários outros procuradores da Lava Jato, além do juiz Sergio Moro.
Os procuradores desestabilizaram grandes empresas nacionais, e depois se organizaram para lucrar com os despojos de guerra, vendendo “serviços de consultoria em compliance” para as mesmas companhias ou para escritórios de advogado que as representavam.
O relatório também envolve a ex-ministra do STF, Ellen Grace, representante da empresa Hogan Lovells, que recebeu R$ 81 milhões da Eletrobrás, dos quais 83%, segundo investigação do TCU, teriam sido superfaturados. A história da ex-ministra Ellen Grace é igualmente bizarra, mas fica para outra reportagem.
Moro também é investigado pelo TCU, por conta de seus negócios milionários com a Alvarez Marsal, empresa americana que passou a gerir a massa falida de algumas empresas afetadas pela Lava Jato, como a Odebrecht.
Diante de mais esse escândalo, não é mais possível dizer que a Lava Jato foi a ” maior operação de combate a corrupção da história”.
O contrário é mais verdadeiro.
A Lava Jato, e isso fica mais claro a cada dia que passa, foi uma operação essencialmente ilegal, que atropelou princípios constitucionais básicos, e que terminou com seus membros arrancando milhões de reais (ou dólares) das mesmas empresas que eles investigaram, desestabilizaram, desossaram e, em alguns casos, destruíram.
Se gritar pega ladrão…
Baixe aqui a íntegra do relatório completo do TCU.