Einstein nos ensinou que as dimensões do espaço e do tempo não estão separadas. Na verdade, formam uma só entidade, que a física passou a chamar, a partir da teoria da relatividade, de espaço-tempo.
Em pesquisa eleitoral, há um raciocínio parecido. Uma coisa é ter quase 50% dos votos válidos em janeiro. Outra coisa é manter o percentual ao final de maio. O espaço político do candidato não deve ser analisado separadamente do tempo político de uma campanha eleitoral.
Ou seja, quanto mais nos aproximamos das eleições, e Lula permanece na liderança isolada, a poucos pontos de uma vitória no primeiro turno, mais forte ele fica. Mesmo “parado” na liderança, o petista avança no espaço-tempo. A mesma coisa, mas num sentido oposto, vale para a terceira via. Vide o exemplo de Ciro. Uma coisa é ter 8% em meados de 2021. Outra coisa é continuar com 8% ao final de maio de 2022. Conforme o tempo passa, Ciro fica mais fraco, mesmo se permanecer “parado” em 8% a 10%, porque suas perspectivas de poder diminuem.
Segundo a Ipespe divulgada hoje, Lula tem 48% dos votos válidos. Na margem de erro, que é de dois pontos, ele poderia vencer no primeiro turno.
Em votos totais, Lula se mantém firme acima de 40% desde a metade do ano passado.
Na pesquisa de hoje, tem 44%, 12 pontos à frente dos 32% de Bolsonaro, que aparentemente drenou os eleitores da terceira via conservadora.
Ciro Gomes, por sua vez, 24 pontos atrás do segundo lugar e 36 pontos atrás de Lula, se distancia cada vez mais da possibilidade de chegar ao segundo turno.
Um ponto que chama atenção na Ipespe divulgada hoje, e confirmando o que todas as outras pesquisas tem mostrado, é a força de Lula entre eleitores de baixa renda: o petista tem 56% dos votos válidos nessa faixa, o dobro dos 28% de Bolsonaro. Ciro tem 6,7%, Dória 4,5% e Tebet 2,2% dos válidos neste segmento.
Mesmo que Lula não conquiste os dois pontos que faltem, nessa pesquisa, para uma vitória no primeiro turno, o seu desempenho num segundo turno aponta uma vantagem de quase 20 pontos para o petista: 53% X 34%. Lula vem mantendo essa vantagem sobre Bolsonaro desde agosto de 2021. São números muito consolidados, portanto.
Na hipótese, hoje remota, de um segundo turno entre Lula e Ciro Gomes, o petista venceria ainda mais facilmente, com uma vantagem próxima a 30 pontos: 53% x 25%.
A vantagem de Lula no cenário de segundo turno contra Ciro reforça o argumento de que sua candidatura não tem mais competitividade. Ciro não pode mais dizer aos eleitores antipetistas de que ele é “o único que vence Lula no segundo turno”. É o contrário. Ciro é o candidato mais facilmente derrotável no segundo turno, e por uma razão simples: o candidato não tem mais o voto da esquerda, e também não ganhou confiança da direita.
Outro grave obstáculo argumentativo de Ciro é seu desempenho fraco num eventual segundo turno com Bolsonaro. Enquanto Lula venceria o incumbente com quase 20 pontos de vantagem, Ciro está perto de um empate técnico, apenas 4 pontos à frente de Bolsonaro.
Conclusão
Os números reforçam os argumentos em favor do voto estratégico para Lula, que podem vir principalmente do eleitorado de Ciro Gomes, cujo programa de governo é parecido com o do PT (contra privatizações, a favor de mais investimentos públicos, etc).
Os eleitores de Ciro, na medida em que chegarem a conclusão de que o pedetista encontra-se isolado, sem palanques nos estados, sem aliados, e, sobretudo, com uma quantidade de votos que não mais o torna um candidato competitivo, tendem a fazer voto estratégico contra Bolsonaro, através do voto em Lula.
Os 8% de votos de Ciro, se transferidos para Lula, podem resolver a eleição no primeiro turno, garantindo uma transição muito mais segura e tranquila para um governo mais democrático.
A íntegra do relatório pode ser baixada aqui.