Há notícias boas para Lula na pesquisa Quaest entre eleitores do Rio de Janeiro, divulgada hoje, e também alguns sinais preocupantes.
Comecemos pelas boas.
Lula cresceu dois pontos na espontânea, de 21% para 23%. Se uma candidatura avança na espontânea, não há de que reclamar muito, porque esse é o eleitorado mais importante, o mais fiel.
Bolsonaro avançou 1 ponto na espontânea, e agora tem 25%.
Ciro Gomes permaneceu estagnado em 1% na espontânea, e todos os outros candidatos somam apenas 2%.
Outra notícia muito boa para Lula é que ele ficou firme no cenário de segundo turno, com 47%, mesmo percentual de março. Não perdeu um ponto. Bolsonaro, por sua vez, cresceu 2 pontos, e foi para 38%, 9 pontos atrás de Lula.
A notícia preocupante para Lula está na estimulada, que mostra o ex-presidente perdendo 4 pontos e empatando com Bolsonaro, em 35%.
Entretanto, como Lula cresceu na espontânea e não perdeu nenhum ponto no cenário de segundo turno, sua candidatura demonstrou robustez.
Aparentemente, o que houve no Rio de Janeiro foi uma reacomodação do voto evangélico, um setor onde o bolsonarismo é muito organizado.
Como a pesquisa anterior não trazia a estratificação por religião, não dá para medir a variação, mas com base nos números de agora, eu arriscaria um palpite: o crescimento de 4 pontos de Bolsonaro na estimulada veio do voto evangélico, setor no qual Bolsonaro agora tem 50% dos votos totais, contra 25% de Lula e 4% de Ciro.
Por outro lado, Lula tem 40% entre católicos, contra 28% de Bolsonaro e 9% de Ciro.
Esse crescimento de Bolsonaro junto aos eleitorado evangélico é um fenômeno nacional, mas que repercute com mais força no Rio de Janeiro, que é o estado onde esse segmento é mais representativo.
Segundo a Quaest, os evangélicos representam 33% do eleitorado fluminense. Ainda assim, é importante destacar, eles estão atrás dos católicos, que correspondem a 35%.
Outras religiões correspondem a 11%, e o eleitorado fluminense “sem religião” é de 20%.
Em votos válidos, o peso do bolsonarismo no eleitorado evangélico fica mais evidente: Bolsonaro chega a 61% dos votos evangélicos do Rio de Janeiro, contra 30% de Lula e 5% de Ciro.
Deter o avanço do bolsonarismo junto à comunidade evangélica fluminense será o maior desafio para Lula.
Entretanto, a pesquisa traz alguns trunfos importantes para Lula, a começar por seu bom posicionamento na capital e periferia.
Segundo a Quaest, Lula lidera na capital com 36%, contra 30% de Bolsonaro e 6% de Ciro.
Na Baixada, os dois estão empatados, mas Lula tem ligeira vantagem numérica: 38% X 37%.
Bolsonaro lidera apenas no interior, onde pontua 39%, contra 32% de Lula.
A vantagem de Lula na capital é um fator estratégico, porque ajudará o ex-presidente a construir sua campanha a partir do centro, irriadiando-o naturalmente para o interior.
A propósito, a força de Lula na capital coincide com a de Marcelo Freixo, que também lidera na capital. Com isso, há uma convergência interessante, que ajudará muito a construir a campanha Lula-Freixo a partir de setores influentes da metrópole.
A vantagem de Lula entre o eleitor jovem é outro trunfo estratégico de Lula, porque o eleitor jovem é mais ativo em redes sociais, e, portanto, mais apto a produzir e compartilhar conteúdo político em favor de seu candidato.
Segundo a Quaest, Lula tem quase o dobro dos votos de Bolsonaro entre eleitores com idade de 16 a 24 anos: 43% X 23%. Ciro tem apenas 5% desse eleitorado.
Na faixa seguinte, de eleitores com 25 a 34 anos, Lula também lidera, embora com vantagem menor: 37% X 34%.
Conclusão
Os números mostram um movimento de reoganização das forças bolsonaristas, a partir sobretudo de suas bases evangélicas. É preciso ficar atento se já houve um esgotamento dessa tendência, pois Lula também possui muitos eleitores da comunidade evangélica, que ainda podem reagir à tentativa de lideranças religiosas pró-Bolsonaro de usar sua influência para fazer proselitismo eleitoral.
De qualquer forma, a pesquisa não é ruim para Lula, pois seu crescimento na espontânea e sua posição firme no segundo turno – reitero – é um sinal muito forte de solidez política.
A mesma pesquisa diz que 58% dos entrevistados acham que Bolsonaro não merece ser reeleito. Essa rejeição do presidente junto ao eleitorado fluminense pode avançar durante a campanha, na medida em que os eleitores de Lula, especialmente os mais jovens, entre os quais o petista goza de larga vantagem, começarem a se mobilizar de maneira mais ativa.
Baixe a íntegra da pesquisa aqui.