PPI segue ignorando custos nacionais e dolarizando preço dos derivados do petróleo
FUP – “Se a produção de petróleo e derivados aumentou utilizando basicamente petróleo produzido no Brasil, por que os brasileiros continuam pagando preços dolarizados?”, é o questionamento do coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, ao se deparar com o relatório de produção e venda da Petrobrás do primeiro trimestre de 2022, divulgados pela companhia na última quarta-feira, 27.
No documento liberado, a empresa comemora recordes na produção de óleo e gás em campos do pré-sal, além de “recorde de 56% de participação de diesel S-10 na produção total de diesel” e “novo recorde de processamento de óleo pré-sal”. O relatório também anuncia o início da produção de dois novos poços no campo de Roncador, na Bacia de Campos, e o aumento do Fator de Utilização (FUT) nas refinarias.
Para a FUP, a política de preços adotada pela Petrobrás em outubro de 2016, no governo do ex-presidente Michel Temer, segue ignorando os custos nacionais de produção e dolarizando os preços dos derivados do petróleo. Deyvid Bacelar lembra que, enquanto a gestão da Petrobrás mantiver o Preço de Paridade de Importação (PPI), a população seguirá pagando a conta dos acionistas.
“Socializamos os investimentos e privatizamos os lucros. Quem paga os dividendos para os grandes fundos de investimentos nacionais e internacionais é o povo. Por trás do super lucro está o PPI, com reajustes dos combustíveis com base nas cotações internacionais do petróleo, variação cambial e custos de importação de derivados, mesmo o Brasil sendo autossuficiente em petróleo”, afirma.
O constante aumento dos combustíveis teve o maior impacto em um dos índices que mede a inflação, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) de abril, com alta de 7,51%.
A elevação no preço dos combustíveis teve influência no custo de demais produtos, principalmente alimentícios, levando a inflação ao maior patamar desde 1995. Enquanto isso, tudo indica que a Petrobrás continuará obtendo super lucro, enriquecendo seus acionistas, como observa Henrique Jäger, consultor da FUP e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
“O aumento da produção, tanto de petróleo quanto de derivados, e a manutenção da política de internacionalização dos preços cobrados dos brasileiros, deve garantir um lucro recorde para a Petrobrás no primeiro trimestre deste ano. Se a política atual não for alterada, vamos ter mais uma distribuição recorde de dividendos referente ao ano de 2022”, afirma Jäger.
A Petrobrás também coloca em sua nota que há investimentos no parque de refino da companhia. Mas, segundo análise dos pesquisadores do Ineep Mahatma Ramos dos Santos e Rafael Rodrigues da Costa sobre o Relatório de Produção e Vendas Petrobras no 1T/2022, a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM) afetou negativamente a capacidade produtiva da Petrobrás neste 1° trimestre de 2022. Houve queda de 5,2% na produção de derivados no trimestre, quando comparado ao mesmo período do ano anterior, e a produção total de derivados caiu de 1,82 milhão de barris por dia para 1,72 milhão.
“Essa redução está diretamente relacionada à venda da RLAM, atual Refinaria Mataripe (BA), que detém a segunda maior capacidade de refino do país. Nem mesmo operando com sua capacidade ‘máxima possível dentro de condições seguras’ a Petrobrás conseguiu compensar o efeito negativo da sua decisão política de sair do refino na Bahia”, observa o estudo.
O documento também mostra que o desempenho operacional da empresa no período reafirma a importância do segmento do refino para a Petrobrás, lançando dúvidas sobre a política de desinvestimentos em curso. De acordo com o documento do Ineep, apenas em 2021 a estatal se desfez de três refinarias e pretende, até 2026, vender outras três. Essas negociações diminuiriam, segundo a própria Petrobrás, a capacidade de seu parque de refino.
Essa estratégia, aponta o estudo, “deve expor ainda mais a empresa à maior volatilidade em relação aos preços internacionais, além de ampliar os riscos de desabastecimento do mercado interno e, por conseguinte, elevar os preços médios para o consumidor final, como já acontece na Bahia”.