A pesquisa BTG Pactual / FSB, divulgada há pouco, traz algumas tendências já identificadas em outras sondagens recentes:
- Estagnação de Lula: mas estagnação em posição de liderança isolada, tanto na espontânea, como no primeiro e no segundo turnos, com oscilação negativa dentro da margem de erro.
- Migração dos votos da candidatura falecida de Sergio Moro para Bolsonaro.
- Consolidação de Lula como o campeão das mulheres, entre as quais chegou a 53% dos votos válidos, e dos eleitores de baixa renda, onde Lula já tem impressionantes quase 70% dos votos válidos.
- A candidatura de Lula vem crescendo de baixo para cima: o petista está se consolidando como o candidato dos pobres.
- Fragilização da candidatura de Ciro Gomes: distância cada vez maior do segundo lugar, aumento da rejeição, declínio do desempenho em cenários de segundo turno, além de um percentual crescente (61%) de eleitores dispostos a fazer voto útil em Lula.
No gráfico comparativo com a pesquisa de março, nota-se a seguinte movimentação: Lula oscila 2 pontos para baixo, de 43% para 41%, dentro da margem de erro, ao passo que Bolsonaro avança 3 pontos, de 29% para 32%.
Com isso, a diferença entre os dois, que era de 14 pontos em março, caiu para 9 pontos em abril.
O crescimento de Bolsonaro pode ser inteiramente explicado pelo afundamento da ala direita da terceira via, reunida na linha verde do gráfico abaixo, identificada como “outros candidatos”, que saiu de 13% em março para 5% em abril. A maior parte desse votos eram de Sergio Moro, que aparecia com 8% na sondagem de março.
A pesquisa identifica a formação de um movimento de voto útil, principalmente em benefício do presidente Jair Bolsonaro.
Mas já se começa a se visualizar que a mesma tendência também poderá beneficiar Lula.
Na verdade, a pesquisa sinaliza que Bolsonaro “secou” a ala direita da terceira via, chupando votos dos candidatos, já apresentados ou potenciais, mais identificados à direita ou centro-direita.
Na terceira via, agora só restou a sua ala esquerda, representada por Ciro Gomes, que ficou parado em 9% na estimulada, de março para abril, e em 4% na espontânea, no mesmo intervalo.
Entretanto, o cruzamento dos votos estimulados com a possibilidade de realização do “voto estratégico” (ou “voto útil”) mostra que, entre os nomes competitivos, Ciro Gomes é a candidatura mais vulnerável, a mais passível de ser desidratada pela decisão do eleitor de migrar para outro candidato.
Segundo a FSB, 61% dos eleitores de Ciro cogitam “deixar o nome de sua preferência para votar em algum outro candidato”.
E qual seria esse candidato?
A mesma pesquisa identificou que 60% dos eleitores de Ciro votariam em Lula no segundo turno, de maneira que, pela lógica, estes mesmos poderiam fazer o voto útil no petista ainda no primeiro.
Este é o maior trunfo de Lula no momento: enquanto Bolsonaro não tem mais para onde crescer, porque a ala direita da terceira via já secou, o petista ainda tem um lago cheio de peixes para pescar, que são os eleitores de Ciro Gomes, além dos indecisos, naturalmente.
Aliás, talvez por ter identificado esse risco, em pesquisas qualitativas feita por sua equipe de marketing, é que Ciro Gomes esteja intensificando os ataques a Lula: trata-se de proteger o seu eleitor contra a inevitável “tentação” de votar no petista já no primeiro turno.
Por outro lado, um possível excesso de zelo neste sentido, com ataques exagerados a um candidato que o seu próprio eleitor começa a ver que é o único que pode efetivamente derrotar Bolsonaro, pode ter o efeito contrário do desejado, e acelerar a decisão de voto estratégico por parte do eleitor cirista.
Seja como for, a candidatura de Ciro Gomes está cada vez mais distante de um segundo turno. Em março, a distância dele para o segundo lugar (Bolsonaro) era de 20 pontos. Agora é de 24 pontos. Outras pesquisas também vem mostrando o crescimento desse intervalo, entre Ciro e Bolsonaro. Mesmo em pesquisas onde Ciro oscila um ponto para cima, Bolsonaro cresce mais que isso, piorando a situação relativa do pedetista.
Nessa pesquisa BTG Pactual / FSB, um outro obstáculo se interpõe entre Ciro e suas chances de chegar ao segundo turno: o forte crescimento de sua rejeição,o que pode refletir o incômodo crescente, por parte do eleitorado progressista, com os ataques cada vez mais virulentos contra Lula. E não há como esse incômodo não contaminar parte do próprio eleitorado cirista, fortalecendo a sua disposição, que já é alta, de optar pelo voto estratégico.
O percentual de eleitores que respondeu que “não votaria de jeito nenhum” em Ciro Gomes subiu 8 pontos no último mês, de 41% para 49%.
Lula também viu sua rejeição crescer, mas em menor grau: 4 pontos, de 41% para 45%. E Lula é líder nas pesquisas, muito mais conhecido, de maneira que sua rejeição é meio que neutralizada por sua boa pontuação positiva.
No mesmo gráfico, por exemplo, pode-se ver que o percentual de votos “com certeza” em Lula se manteve o maior dentre todos os candidatos, em 34%, contra 26% de Bolsonaro e apenas 5% de Ciro Gomes.
Um outro trunfo de Lula é que ele herda a maior parte dos votos de todos os candidatos alternativos, mesmo aqueles de centro-direita, como Doria e Tebet.
Embora esses candidato não tenham muitos votos, e essa tendência de migração, portanto, não tenha tanto impacto nas pesquisas, é um indicativo poderoso de que Lula ampliou sua capacidade de penetração em segmentos sociais ideologicamente muito diversos.
Segundo a pesquisa, 42% dos eleitores de João Dória votariam em Lula no segundo turno, contra apenas 15% que escolheriam Bolsonaro. Um percentual enorme dos eleitores de Dória, ou 43%, afirmam que não votariam em ninguém.
A mesma coisa vale para Janones, cujo eleitor tende muito mais para Lula do que para Bolsonaro: 59% dos entrevistados que declararam voto em Janones no primeiro turno disseram que votariam em Lula no segundo, contra 35% que votariam em Bolsonaro.
Quanto a Simone Tebet, 29% de seus eleitores migrariam para Lula no segundo turno, contra 18% para Bolsonaro.
Ainda sobre Ciro: dentre todas as alternativas à polarização, o seu eleitor é o mais “lulista”, mais até que os eleitores de Vera Lúcia, do PSTU.
Outros dados estratificados
Alguns dados estratificados, todavia, são preocupantes para Lula. Por exemplo: Bolsonaro lidera entre homens, com 41%, contra 36% de Lula e 9% de Ciro.
Entre mulheres, por outro lado, Lula abriu 23 pontos de vantagem: 47% X 24%! No comparativo com março, Lula cresceu 3 pontos entre mulheres. Em votos válidos, o petista já tem 53% dos votos entre eleitoras do sexo feminino. Mulheres representam 52% do eleitorado, segundo a BTG.
Lula lidera entre eleitores de todas as escolaridades, inclusive aqueles com ensino superior, entre os quais tem 35%, contra 32% de Bolsonaro e 15% de Ciro.
Entretanto, o mais impressionante trunfo de Lula é sua votação maciça entre eleitores mais pobres, sobretudo aqueles das classes D e E, com renda familiar até 1 salário.
Segundo a pesquisa, Lula tem 60% dos votos totais dessa faixa do eleitorado, contra 11% de Bolsonaro e 6% de Ciro Gomes. Em votos válidos, isso corresponderia a 67% dos votos.
Se o petista conseguir evitar abstenção alta por parte dos eleitores pobres, tem vitória garantida.
Segundo a mesma pesquisa, os brasileiros com renda familiar até 1 salário representam 25% do eleitorado total.
Do lado de Bolsonaro, o seu mais importante trunfo é sua vantagem entre eleitores de classe média. Lula lidera somente até o eleitorado com renda até 2 salários. A partir daí, Bolsonaro está a frente. Entre eleitores com renda de 2 a 5 salários, que representam 39% do eleitorado, Bolsonaro tem 41%, contra 34% de Lula e 10% de Ciro.
A vantagem de Bolsonaro cresce entre eleitores com renda superior a 5 salários, para 47%, contra 27% de Lula e 12% de Ciro.
Os brasileiros com renda familiar acima de 5 salários representam 17% do eleitorado. Um aspecto positivo para Lula é que Ciro tem seu melhor desempenho junto a essa faixa mais classe média do eleitorado, e poderá se beneficiar do voto estratégico deste segmento, talvez ainda no primeiro turno.
Outra vantagem de Bolsonaro é o voto evangélico. Segundo a pesquisa, o presidente lidera isolado entre os evangélicos, com 46% dos votos, contra 31% de Lula e 7% de Ciro.
Os evangélicos representam, ainda conforme a BTG, 26% do eleitorado (contra 50% para os católicos).
Não se deve comparar números segmentados de pesquisas, por suas margens de erro são muito altas, então pedimos ao leitor que mantenha isso em mente.
No comparativo com a pesquisa de março, Lula avançou entre os mais pobres: em março ele tinha 58% dos votos entre eleitores com renda familiar até 1 salário; hoje tem 60%.
Entre eleitores com renda acima de 5 salários, todavia, Lula despencou de 35% para 27%.
Bolsonaro, por sua vez, avançou junto ao eleitorado evangélico, passando de 37% para 46%. Esses números segmentados, reitero, tem margens de erro extremamente altas, então essas oscilacões bruscas de uma pesquisa para outra são normais. Trago os dados aqui apenas por curiosidade, e porque eles sinalizam uma tendência de polarização classista, com os eleitores mais pobres se reunindo ao redor de Lula, e os mais ricos, ao redor de Bolsonaro.
Mas essa tendência não me parece tão forte como já foi em 2018, ou mesmo em eleições anteriores, porque é neutralizada por outro fator: Lula também lidera entre eleitores mais instruídos. E o voto realmente “orgânico” ou “ideológico” da classe média deve ser sempre correlacionado ao nível de escolaridade. Se os mais instruídos continuarem votando em Lula, como mostra a pesquisa, eles constituem uma barreira muito sólida contra o avanço de Bolsonaro na classe média.
Importante observar, além disso, que os números da BTG Pactual / FSB, especialmente aqueles relativos a segmentação por renda, não são corroborados por outras pesquisas, especialmente as presenciais, como Quaest e Datafolha. Nestas, Lula ganha ou empata em todas as faixas de renda, incluindo as mais altas. Na Quaest de abril último (ver gráfico abaixo), Lula tem 43% entre eleitores com renda familiar entre 2 e 5 salários, contra 33% de Bolsonaro e 7% de Ciro. No Datafolha de março último (também ver gráfico), Lula lidera com 36% X 33% entre eleitores com renda entre 2 e 5 salários, e só perde a partir daí. Tanto na Quaest como na Datafolha, Lula lidera ou empata entre eleitores mais instruídos.
Segundo turno
Lula mantém uma vantagem confortável no segundo turno, contra todos seus adversários. Ganha de Bolsonaro de 52% X 37%, vantagem de 15 pontos.
Num eventual embate contra Ciro Gomes, o petista venceria por 48% X 27%, vantagem de 21 pontos.
Um cenário de segundo turno entre Bolsonaro versus Ciro Gomes, o pedetista venceria, mas sua vantagem caiu muito em relação a março, de 16 para 7 pontos (mais um sinal de fragilização de sua candidatura).
A pesquisa mostra ainda que a rejeição a Lula se mantém bastante superior a de Bolsonaro: enquanto 46% dizem votar em Lula, mas NÃO em Bolsonaro, 34% dizem que votariam em Bolsonaro, mas NÃO em Lula.
E apenas 11% disseram que não votariam nem em Lula nem em Bolsonaro, ou seja, o voto nem-nem tem um teto extremamente baixo.
O impacto do vice
A pesquisa apurou a influência do nome do vice-presidente na formação do voto, e descobriu que se trata, sim, de um fato relevante para o eleitor: 29% responderam que o nome do vice é “importante e decisivo para o meu voto”, contra 23% que disseram que “não é importante, nem decisivo”.
Neste sentido, Lula também largou na frente, porque a escolha de seu vice, Geraldo Alckmin, mostra uma candidatura mais consolidada e organizada que a de seus adversários, e o nome, em si, foi bem recebido pelo público que interessa, ou seja, pelos eleitores do próprio Lula e pelos indecisos.
Entre eleitores de Lula, 39% responderam que a escolha de Alckmin aumentou sua vontade de votar em Lula, ao passo que apenas 9% responderam que diminuiu.
Entre indecisos, 19% responderam que a escolha de Alckmin aumentou a possibilidade de votar em Lula, enquanto apenas 8% responderam que diminuiu.
Entre eleitores de outros candidatos, 28% responderam que a escolha de Alckmin aumentou a possibilidade de fazer um voto estratégico em Lula.
Ou seja, a presença de Alckmin, de maneira bem clara, fortaleceu a imagem de Lula junto ao eleitorado.
Já com a escolha do general Braga Netto para vice de Bolsonaro, deu-se o contrário. Ela parece ter enfraquecido a reeleição do presidente.
Entre eleitores do Bolsonaro, uma maioria de 44% aprovou o nome de Braga Netto, e apenas 2% rejeitaram. Mas entre indecisos e eleitores de outros candidatos, a presença de Braga Netto foi rejeitada. Entre indecisos, apenas 3% responderam que Braga Netto aumentou a possibilidade deles votarem em Bolsonaro, ao passo que 26% disseram que diminuiu. Entre eleitores de outros candidatos, 4% disseram que Braga Netto aumentou a possibilidade de fazerem voto útil em Bolsonaro, enquanto 38% disseram que essa chance diminuiu.
A pesquisa também trouxe dados de avaliação do governo. Observou-se ligeira melhora, dentro da margem de erro, mas os números ainda são negativos para o presidente, apesar de que se mostram mais que suficientes para lhe garantir uma vaga no segundo turno.
Conclusão
Os números da BTG Pactual / FSB, analisados com objetividade e frieza, reforçam o favoritismo de Lula.
Bolsonaro parou de cair e passou a receber muito voto útil de todos aqueles que, por alguma razão, não querem a volta do PT.
Mas Lula se mantém firme na liderança, e continua crescendo de baixo para cima, a partir dos eleitores mais pobres, que formam a maioria esmagadora do eleitorado.
A fragilização da candidatura de Ciro Gomes, por sua vez, é um outro fenômenos a ser observado, porque poderá levar seus eleitores a migrarem para Lula ainda no primeiro turno.
Nessa pesquisa, Ciro viu sua rejeição subir 8 pontos, distanciou-se do segundo lugar, e perdeu pontos em cenários de segundo turno. Como a mesma sondagem apurou que 61% dos eleitores de Ciro estão dispostos a fazer “voto estratégico” ainda no primeiro turno, ou seja, escolher um outro candidato, é forte a possiblilidade de que, nas próximas pesquisas, já se identifique um movimento significativo de migração de eleitores de Ciro para Lula.
Dados técnicos
Foi uma pesquisa dos institutos IRI e FSB, com duas mil entrevistas telefônicas realizadas entre os dias 22 e 24 de abril de 2022, ao custo de R$ 128.957,83, pagos pelo BTG Pactual, conforme nota apresentada ao TSE.
A íntegra da pesquisa BTG Pactual / FSP pode ser baixada aqui (formato desktop) ou aqui (formado celular).
Adevir
25/04/2022 - 17h11
Por isso q a esquerda sempre quer empobrecer todo mundo. É o voto de cabresto moderno.
Por isso q não há como se alinhar à esquerda.