A aparente recuperação de Bolsonaro deve ser creditada, sobretudo, ao desencanto com os candidatos da terceira via.
Mas é importante ressaltar: Lula não caiu.
Ao contrário, Lula cresceu para 28% na espontânea e para 45% na média da estimulada, um ponto a mais em ambos os gráficos.
Crescer um ponto pode parecer pouco, mas não é. Um ponto, no Brasil, corresponde a 1,4 milhão de eleitores.
Nos cenários 2,4, 5 e 6, que excluem o nome de Sergio Moro, o ex-presidente Lula oscila entre 50% e 53% dos votos válidos, o que significaria vitória em primeiro turno.
A pesquisa aponta que o eleitor de Lula está mais determinado do que antes: quase 80% de seus eleitores agora afirmam que a decisão de votar no ex-presidente é “definitiva”. Para efeito de comparação, entre eleitores de terceira via, esse percentual é próximo a 30%.
Na evolução dos cenários de segundo turno, Lula mantém uma vantagem de 20 pontos sobre Bolsonaro, desde o início do histórico. Contra Ciro, o ex-presidente Lula venceria com vantagem superior a 30 pontos.
Outro trunfo importante de Lula é que ele hoje tem a menor rejeição entre todos os candidatos competitivos, 46%.
O candidato do PSDB, João Dória, é o mais rejeitado, com 63%, seguido de Bolsonaro, com 61%.
Ciro Gomes viu sua rejeição crescer 3 pontos no último mês e agora é de 58%, quase empatada com a de Bolsonaro.
É possível que, a partir das próximas pesquisas, Lula seja beneficiado com o mesmo movimento que hoje beneficia Bolsonaro: o voto útil.
Da mesma maneira que o eleitor de Sergio Moro, diante da desistência do ex-juiz, ou após constatar sua inviabilidade eleitoral, tomou a decisão de votar em Bolsonaro, o mesmo pode acontecer com o eleitor de Ciro Gomes.
Nessa pesquisa, Ciro Gomes caiu.
Em março, Ciro tinha 8% nos cenários sem Moro. Em meados do ano passado, igualmente em cenários sem Moro, Ciro chegou a pontuar de 10% a 12% na Quaest.
Hoje Ciro tem 6% a 7%, a depender do cenário. No cenário 1, que ainda traz Sergio Moro, Ciro caiu para 5%, dois pontos a menos que no mesmo cenário de pesquisa de março.
Na espontânea, Ciro não conseguiu se descolar dos 1%.
Na estimulada, Ciro tem apenas 4% entre eleitores de baixa renda – e igualmente não emplacou na classe média.
Se este movimento – de migração dos votos de Ciro para Lula – se acelerar nos próximos meses, aumentarão as chances do petista vencer as eleições no primeiro turno.
O presidente Bolsonaro, por sua vez, experimentou uma alta de 3 pontos na espontânea, passando de 19% para 22%. E cresceu 5 pontos na média da estimulada, de 26% para 31%.
Os votos somados da terceira via, reunidos no gráfico com a média da estimulada sob o nome “Outros”, desabaram de 19% para 12%.
Segundo o CEO da Quaest, o cientista político Felipe Nunes, as causas para a recuperação de Bolsonaro devem ser creditadas a dois fatores, um econômico (ou “distributivista”), e outro político. O fator econômico é o Auxílio Brasil, que agora, está claro, passou a influenciar o voto de muitos eleitores. Entre os que recebem o Auxílio Brasil, a imagem negativa do governo caiu de 54% para 46% no último mês, enquanto a positiva subiu de 19% para 24%.
O fator político, segundo Nunes, é o “desencanto” dos eleitores com o desempenho dos candidatos da terceira via, sentimento que parece ter se consolidado ainda mais após a saída de Moro do pleito.
Aqueles que votaram em Bolsonaro no segundo turno de 2018, e que tinham migrado para outros candidatos, voltaram a Bolsonaro.
Segundo a Quaest, 63% dos eleitores de Bolsonaro em 2018 permanecem dispostos a votar novamente nele. Esse percentual chegou a cair para 46% em outubro de 2021, mas começou a subir este ano.
Entre eleitores com renda familiar até 2 salários, que correspondem a 33% do total de eleitores, o ex-presidente Lula amplia sua vantagem sobre os adversários, e chega 56% dos votos totais, ou 62% dos votos válidos.
O petista também leva vantagem, de 10 pontos, entre eleitores com renda entre 2 e 5 salários, que correspondem a 43% do eleitorado: Lula 43% X 33% Bolsonaro.
No extrato superior, com renda acima de 5 salários, que corresponde a 23% do eleitorado, há empate entre Lula e Bolsonaro, ambos com 36%. Ciro Gomes tem 8% neste segmento, Doria 2%.
Nos gráficos segmentos por região, chama atenção a hegemonia de Lula no Nordeste, onde o petista tem 64% das intenções de voto, contra apenas 18% de Bolsonaro, 5% de Ciro e virtualmente zero de outros candidatos. Ou seja, o Nordeste se tornou, definitivamente, uma fortaleza lulista inexpugnável.
Mas o petista também lidera no Sudeste e Centro Oeste, perdendo apenas no Norte e no Sul.
O Sul – que corresponde a apenas 8% do eleitorado, contra 27% do Nordeste e 44% do Sudeste – é a região onde Bolsonaro tem seu melhor desempenho, chegando a 44% dos votos, contra 32% de Lula e 10% de Ciro.
Na divisão por escolaridade, Lula ganha em todos os segmentos. Entre eleitores que tem até o ensino fundamental, que compõem 39% do eleitorado, o petista tem 61% dos votos totais, contra 20% de Bolsonaro, 4% de Ciro Gomes, 2% de Janones e 1% de Dória.
Entretanto, a pesquisa sinaliza a deterioração das expectativas econômicas do eleitor, o que pode prejudicar o presidente Bolsonaro ao longo dos próximos meses. Para 59% dos entrevistados, a “capacidade de pagar as próprias contas” piorou em abril.
A pesquisa Quaest é presencial. Foi patrocinada pelo banco Genial Investimento, e custou R$ 268.742,48. A íntegra do relatório pode ser baixada aqui.
Separamos abaixo os principais gráficos da pesquisa.