Além de não decolar nas pesquisas eleitorais, a campanha do ex-juiz parcial Sérgio Moro (Podemos) também não está conseguindo arrecadar recursos para entrar de vez na campanha presidencial.
Com isso, Moro já tem demonstrado preocupação nas conversas com seus aliados. A situação calamitosa da campanha do ex-juiz tem feito com que sua desistência entre no radar. Até o momento, ele nega veementemente essa possibilidade.
A expectativa do Podemos era fechar alianças com o Cidadania, Partido Novo, Patriota e União Brasil (fusão entre DEM e PSL).
Porém, a federação entre Cidadania e PSDB foi aprovada no último sábado, 19, e tirou o partido das tratativas com a campanha de Moro. Vale lembrar que no dia da votação, a opção por federar com o Podemos teve apenas 14 votos entre 110 dirigentes do Cidadania.
Até o momento, o Podemos só anunciou a filiação do deputado federal Kim Kataguiri (UB-SP), um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL). As negociações com outros deputados, como Alexis Fonteyne (Novo-SP) e Alex Manente (Cidadania-SP), não prosperaram.
Com informações do Valor
Paulo
22/02/2022 - 23h06
Pois é, a narrativa supera a realidade…E quem poderá contrastá-la, que não os lúcidos?
Alexandre Neres
22/02/2022 - 10h26
Artigo publicado no jornalão dos Marinhos hoje. Só o fato de ter sido publicado já é muito significativo. Até tu, O Globo?
Um trauma legal
Por João Bernardo Kappen, advogado criminalista
Há coisas que não devem ser esquecidas para que não sejam repetidas, e há coisas que precisam ser lembradas, como os traumas, para que sejam superadas. Uma delas é que a Constituição brasileira diz que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Só pode ser considerado culpado quem tem contra si uma sentença penal condenatória definitiva, sem possibilidade de recurso. E quem não tem, é o quê? Inocente. É o que prescreve a Constituição, goste-se ou não. Assim, a tese que se repete por aí de que o ex-presidente Lula não é inocente porque não foi absolvido não passa do desejo pessoal de interferir no processo eleitoral que se avizinha. Ele — como todos os que estão na mesma situação — é inocente justamente porque não tem contra si uma sentença penal condenatória definitiva.
Não existe nenhuma margem para outra interpretação. O Direito não se resume a este subjetivismo desenfreado em que qualquer um interpreta a Constituição e as leis da forma que lhe convém. Interpretação tem regras e limites.
O trauma, entretanto, que sempre precisaremos lembrar, para superar, chama-se Sergio Moro. Como juiz, corrompeu o sistema de Justiça Criminal e o Estado Democrático de Direito. Lembremos que, em 2008, durante o julgamento de um habeas corpus impetrado no Supremo Tribunal Federal contra atos praticados pelo então juiz Moro, o ministro Joaquim Barbosa disse que ele agia como um policial, e não como um juiz, acompanhado pelos demais ministros, que o declararam parcial. Em 2013, o Supremo novamente se viu às voltas com a parcialidade do juiz e, na ocasião de um julgamento, o ministro Celso de Mello disse que Moro perseguia os advogados dos réus, o que resultou no envio de um ofício para o Conselho Nacional de Justiça. Depois veio a Lava-Jato, e Moro fez o que fez, até ser declarado novamente parcial.
Como político, Moro se associou ao deputado que passou a vida defendendo a ditadura militar brasileira, o fuzilamento de pessoas e o conhecido torturador Brilhante Ustra, depois de ajudá-lo a se eleger presidente divulgando um grampo telefônico ilegal e trechos selecionados de uma delação premiada a que teve acesso enquanto juiz.
Agora, o ex-juiz quer a Presidência da República. Mas que qualificações teria para ser presidente alguém que não conseguiu ao longo de sua vida pública como juiz entender seu papel e respeitar as leis? Enfim, o aprimoramento do sistema de Justiça Criminal brasileiro depende da superação dos danos causados por figuras como Moro, e para isso precisamos lembrar. Por isso Moro é inesquecível.