Análise do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep):
Em um ano marcado pela recuperação da economia pós-pandemia, o relatório de produção e vendas da Petrobras do 4º Trimestre de 2021, divulgado ontem (09/02), apresenta queda na produção de petróleo em um cenário de expressiva alta no volume de vendas para o mercado interno.
Em 2021, a produção de petróleo e gás natural da Petrobras teve uma queda de 2,0% na comparação com o ano anterior, registrando a marca de 2,66 milhões de barris de óleo equivalente por dia (Mboed).
A queda na produção está em boa medida relacionada aos desinvestimentos concluídos pela Petrobras, ao longo de 2020 e 2021, de campos de terra e em águas rasas, sobretudo, na Região Nordeste.
A venda desses ativos, somada ao declínio natural de produção de alguns campos de petróleo e das paradas de manutenção em algumas plataformas do pré-sal, deve ter ocasionado a diminuição nos volumes totais de produção.
Embora a produção média de derivados tenha crescido relativamente pouco em comparação a 2020 (1,83 milhão de barris diários em 2020 para 1,85 milhão em 2021), o volume de vendas para o mercado interno obteve um salto expressivo de 8,6% em 2021 (de 1,66 milhão de barris por dia para 1,81 milhão), refletindo uma maior participação da Petrobras no mercado brasileiro em 2021.
E foram puxadas principalmente pelo aumento nas vendas de diesel (16,6%) e gasolina (19,2%). Esses dois combustíveis representaram pouco mais de dois terços do volume total de vendas da Petrobras ao longo do ano passado.
O crescimento nas vendas de derivados para o mercado interno aconteceu simultaneamente ao aumento no volume de importações, que tiveram expansão da ordem de 66,8% (de 214 mil barris por dia (bpd), em 2020, para 357 mil em 2021), sobretudo em virtude das importações extraordinárias de diesel e gasolina. Segundo a Petrobras, esse aumento das importações ocorreu em função da expansão da demanda no mercado doméstico.
Por outro lado, as vendas da Petrobras ao mercado externo sofreram uma retração igualmente significativa, de 19,4% no ano de 2021, na comparação com 2020, passando de 957 mil bpd em 2020 para 811 mil bpd em 2021), resultado particularmente influenciado pelo crescimento da demanda do mercado interno no 4º trimestre de 2021 e, consequentemente, pela maior necessidade de carga nas refinarias durante o trimestre.
Embora a Petrobras ainda não tenha divulgado os resultados financeiros do 4º Trimestre de 2021, previsto para o próximo dia 23, é muito provável que a empresa apresente um bom desempenho nesse período.
Considerando o aumento das vendas no mercado interno, acompanhadas pelas sucessivas altas dos preços dos últimos meses, tudo indica que esse resultado positivo estará associado à atuação da Petrobras no segmento de refino.
Soma-se a esses fatores o expressivo aumento na geração de energia elétrica, que obteve um aumento extraordinário de 94,7%, o qual foi acompanhado pelo crescimento de 25,0% das vendas de gás natural para o mercado interno.
Esses aspectos reforçam a importância estratégica do setor de Refino para a Petrobras e colocam em dúvida a política de desinvestimento em curso, que só neste último ano se desfez de três refinarias importantes (RLAM, REMAN e SIX).
De acordo com o Plano de Negócios e Gestão 2022-2026, a companhia pretende vender ainda mais três das suas 11 refinarias nos próximos anos, a REFAP (RS), REPAR (PR) e RNEST (PE). Se concluídas, essas vendas diminuirão a capacidade do parque de refino da Petrobras dos atuais 2,2 milhões de barris de petróleo por dia para cerca de 1,2 milhão de barris por dia em 2026.
Diante disso, a empresa deverá ficar exposta à maior volatilidade em relação aos preços internacionais, e amplia-se o risco de desabastecimento do mercado interno e de elevação dos preços médios para o consumidor final, como já está ocorrendo na Bahia no caso da Refinaria Mataripe (ex-RLAM).