Por Antonio Lavareda
Segundo pagamento do Auxílio Brasil ainda não melhorou a percepção da Economia, nem mudou o quadro eleitoral
1. OPINIÃO DE QUE A ECONOMIA VAI NO “CAMINHO CERTO” PARA DE SUBIR, MANTENDO-SE EM 26%. E O CONTINGENTE QUE ACHA QUE SEGUE “NO CAMINHO ERRADO” CONTINUA ELEVADO (65%).
Somam 17,5 milhões as famílias contempladas pelo Auxílio Brasil iniciado em dezembro, cujo efeito, como é sabido, se espraia nas localidades onde residem seus beneficiários. Porém, ainda sem consequências visíveis na opinião pública.
2. AVALIAÇÃO POSITIVA DO GOVERNO (“O/B”, 23%) OSCILA UM PONTO, RECUANDO PARA O PATAMAR DE AGO-SET 2021, O MAIS BAIXO DA SÉRIE.
As opiniões negativas (“R/P”) vão a 55%. Na mesma direção, na leitura dicotômica, a aprovação oscila um ponto (29%) e a desaprovação se mantém em 64%.
3. ÔMICRON: AUMENTOU O NÚMERO DE CASOS MAS A MENOR LETALIDADE FAZ O MEDO DA COVID, EMBORA ELEVADO, RETROCEDER TRÊS PONTOS (DE 71% PARA 68%).
Nessa rodada, a pesquisa não indagou sobre o desempenho do governo Bolsonaro especificamente nesse aspecto. Mas, a deduzir do noticiário, as opiniões não devem ter mudado muito desde o levantamento de quinze dias atrás, quando 25% classificaram-no como “O/B”, enquanto 59% tinham opinião negativa (R/P).
4. NO PLANO ELEITORAL, A NOVIDADE DA PESQUISA É O EMPATE NO TERCEIRO LUGAR: MORO, 8% X CIRO, 8%. AFORA ISSO, PERMANECEM AS DEMAIS POSIÇÕES NO RANKING.
Lula aparece com 44%; Bolsonaro, 24%; Doria, 2%; Rodrigo Pacheco, Simone Tebet e Alessandro Vieira, com 1% cada um. André Janones não foi incluído na lista. Ciro se beneficiou da cobertura pela mídia do lançamento oficial. Não se podendo esquecer que continua liderando o quesito “segunda opção”, com 23%, conforme o levantamento.
No segundo turno, Lula segue à frente de todos: 54 X 30, Bolsonaro; 50 X 31, Moro; 51 X 25, Ciro; e 52 X 19, Doria. Nessas, como nas listas com outros nomes, houve só pequenas alterações, refletindo fatos da pré-campanha.
Por exemplo, os duros ataques recentes entre Lula e Moro não os ajudaram, cada qual perdendo um ponto no cenário de segundo turno entre eles. Xingamentos esse ano terão efeito bumerangue. A gramática será diferente daquela de 2018.
5. A PREOCUPAÇÃO DE LULA, FUSTIGADO PELOS DEMAIS CANDIDATOS, SERÁ MUITO MAIS MANTER O MÁXIMO POSSÍVEL DAS SUAS INTENÇÕES DE VOTO ATUAIS DO QUE FAZÊ-LAS CRESCER.
Se a eleição fosse agora e ele tivesse, de fato, nas urnas esses 44%, o equivalente a mais de 65 milhões de votos — lembremos que é sobre o eleitorado total — isso representaria sete pontos percentuais acima do que obteve no primeiro turno em 2006 (37,1%) e quase 10 pontos sobre a performance de 2002 (34,2%). Para termos uma noção do quanto é superlativa essa hipotética votação baseada nas pesquisas, é bom assinalar que nem FHC, único presidente eleito duas vezes no 1º turno, chegou sequer a 40% do eleitorado total. Foram 36,3% em 1994, e 33,9% em 1998.
6. E QUAL O PROBLEMA DO PRESIDENTE BOLSONARO? É QUE ELE PERDEU CERCA DE 15 MILHÕES DE ELEITORES. E O VOLUME DAS DEFECÇÕES É UMA VARIÁVEL DECISIVA PARA UM INCUMBENTE.
Votaram nele, em 2018, 34%, arredondados, sobre o total do eleitorado no primeiro turno e hoje ele marca 10 pontos menos. Retomar o máximo possível desse contingente é o seu desafio. Onde isso ocorreu? Não foi no Nordeste, frequentemente apontado como o seu calcanhar. Não é essa região a responsável pelo declínio.
Nela, ele tem hoje os mesmos percentuais que o sufragaram no primeiro turno (TSE), perto de 19% dos votos totais. Da mesma forma, não houve redução expressiva do seu apoio entre os mais pobres de todo o Brasil. No segmento de renda inferior a dois salários mínimos ele atinge hoje, praticamente, seu patamar de três anos atrás. Onde está o problema?
Os eleitores que o presidente perdeu possuem renda nas faixas de 2–5 SM e +5 SM. Residem sobretudo no Sudeste. E os frustrados são na grande maioria homens. Entre as mulheres, onde seu apoio sempre foi reduzido, a perda foi relativamente menor.
7. POR OUTRO LADO, A ESTABILIDADE DE BOLSONARO NOS ÚLTIMOS MESES, COM CERCA DE UM QUARTO DOS ELEITORES, DESPERTA INQUIETAÇÃO NOS CANDIDATOS DA TERCEIRA VIA.
Nesse campo, Sergio Moro voltou a ficar abaixo dos dois dígitos que assinalava em novembro (11%), quando desembarcou, lançou-se na disputa, e empolgou as manchetes. Isso lhe é preocupante.
Sua esperança hoje reside: a) em conseguir o tempo de TV e outros recursos do União Brasil; e b) na possibilidade de que o receio da consolidação de Lula produza uma maior vocalização do tema “corrupção” na grande mídia, e isso seja mimetizado no repertório das outras candidaturas, todos passando a jogar água no moinho do “dono” do tema, o juiz da Lava Jato.
A unificação da terceira via aguarda que a volta da propaganda partidária na TV, esse semestre, dê aos que pretendem representá-la o empurrão de que precisam para se tornarem competitivos. Mas nem todos atores pretendem esperar por isso.
Dentro de alguns partidos cobiçados para participarem de coligações presidenciais se fortalece o sentimento de que talvez seja mais vantajoso simplesmente não apoiar nenhum nome.
Porque nas disputas estaduais, que prometem ser as mais “nacionalizadas” dos últimos tempos, melhor será a legenda do postulante ao governo ficar “sem” candidato presidencial, do que ser carimbada pelo apoio ao candidato “errado” nas circunstâncias locais.
Antonio Lavareda é sociólogo, cientista político e diretor do Ipespe