Por Rodrigo Neves
Os anos recentes têm sido dramáticos para o Estado do Rio. Perdemos mais de 700 mil empregos com carteira assinada, e milhares de empresas fecharam ou saíram daqui. O desemprego — o maior do país — e a perda de renda são uma realidade em quase todas as famílias. Nossos jovens e crianças estão sem aulas há praticamente dois anos, e os resultados do Enem mostram que a qualidade do ensino do estado foi uma das que mais caíram no Brasil.
A falta de coordenação por parte do governo do estado e o negacionismo produziram o maior nível de letalidade da pandemia no país. A violência crônica e a expansão acelerada do domínio de territórios pelo crime organizado, sobretudo o tráfico e a milícia, demonstram a completa perda de autoridade do Estado. Essa grave crise, a maior da nossa história, tem várias causas, mas remonta à formação do estado, primeiro com a mudança da capital federal para Brasília, em 1960, e depois com a fusão autoritária, abrupta e sem planejamento de 1975.
De lá para cá, perdemos 35% de participação no PIB brasileiro e despencamos de segundo para sétimo lugar em empregos na indústria de transformação. Uma trajetória de décadas de esvaziamento econômico, desorganização urbana e aumento da criminalidade, agravados nos últimos anos.
O despreparo, a omissão e o radicalismo, além do loteamento político do estado, ampliarão a crise — mesmo com o alívio fiscal momentâneo decorrente da privatização da Cedae. Há saídas e futuro para o Rio, mas não podemos errar.
Precisamos na prática refundar o estado, pactuando junto ao próximo presidente da República o pleito de garantir o status de cidade federal ao Rio — como outros países fizeram com ex-capitais —, trazendo para cá ministérios que têm relação com a capitalidade carioca, que persiste na Cultura, no Turismo, na Defesa e na Energia.
Proponho modernizar a administração estadual, reequilibrar estruturalmente as contas públicas, colocar em prática um forte programa de integridade e prevenção à corrupção, fazer uma gestão orientada para resultados que gere cooperação efetiva entre o estado e os municípios, construir um Plano Estratégico Participativo que induza o desenvolvimento do interior e da região metropolitana para integração do território estadual. Além disso, implementar complexos industriais e de serviços em parceria com o setor privado, em áreas que o Rio tem vantagens extraordinárias, como, por exemplo a da saúde e de óleo e gás. E fortalecer nossa liderança no audiovisual, entretenimento, inovação e tecnologia. Por fim, iniciar logo em 2023 um amplo programa emergencial para criação de frentes de trabalho e renda básica para os mais pobres, um “new deal ecológico”, com ações em especial nas áreas de reflorestamento, saneamento, habitação de interesse social e transporte público.
O foco da próxima administração estadual deve ser a geração de emprego e renda, a educação em tempo integral (os Cieps 2.0), a modernização da gestão da saúde pública e o restabelecimento da autoridade no campo da segurança pública. É essa a agenda que precisamos implementar para resgatar a esperança de milhões de cariocas e fluminenses no futuro do Estado do Rio.
Rodrigo Neves é sociólogo e ex-prefeito de Niterói
Texto publicado originalmente no Jornal O Globo
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