A sétima rodada da pesquisa Genial/Quaest divulgada este mês (12/01) mostra que o presidente Bolsonaro (PL) entrou em 2022 no mesmo patamar de avaliação e intenção de voto dos meses anteriores. Segundo a pesquisa, 22% do eleitorado brasileiro avalia o trabalho do presidente como ‘bom’ ou ‘ótimo’ e 50% o considera ‘ruim’ ou ‘péssimo’.
Bolsonaro chega no último ano do seu primeiro mandato sendo o presidente com a pior avaliação entre os competidores à reeleição. FHC tinha 42% de avaliação positiva em janeiro de 98 e 16% de negativo, Lula tinha 33% de positivo e 27% de negativo em janeiro de 2006, Dilma tinha 36% de positivo em janeiro de 2014 e 27% de negativo. Todos eles foram reeleitos.
Diferença entre avaliações (por sexo)
Embora a variação na avaliação governo entre dez/21 e jan/22 tenha sido nula, nos estratos, algumas mudanças interessantes aconteceram. Por exemplo, um fato inédito é o descasamento na série histórica entre a avaliação do governo por homens e mulheres. Os homens rejeitam menos o presidente (49% para 44%), as mulheres rejeitam mais (50% para 55%).
Por um lado, mulheres estão mais preocupadas com a Pandemia, assunto que voltou a ter relevância como principal problema no país e que a população acha que o governo Bolsonaro lida muito mal. Principalmente pela posição contrária a vacinação de crianças. Por outro, homens são mais atentos à economia, assunto que perdeu relevância como principal problema no país, mas que encontra nos homens certo otimismo. Vejamos alguns números:
Entre nov/21 e jan/22 aumentou de 17% para 28% o percentual de brasileiros que acreditam que a pandemia é o principal problema do país no momento. Enquanto caiu de 48% para 37% os que dizem que é a economia o principal problema.
Esse crescimento na preocupação com a pandemia se manifesta de forma geral, mas é mais acentuado entre as mulheres. A preocupação com a pandemia entre os homens é de 60%, entre as mulheres de 76%.
Enquanto as mulheres estão mais preocupadas com a saúde…
É nesse ambiente de aumento de preocupação com a pandemia que o governo resolveu travar uma disputa de narrativas em relação à vacinação de crianças. E está perdendo. Para 72% dos brasileiros, vacinar as crianças agora é uma decisão correta.
Por isso, a desaprovação da população à forma como o presidente está lidando com o combate à COVID19 aumentou 7 pontos percentuais de dez/21 a jan/22. Mais uma vez, a diferença entre homens e mulheres em relação a este assunto chama muita atenção!
Enquanto a percepção negativa sobre a gestão Bolsonaro da pandemia não variou entre os homens, entre as mulheres, saiu de 47 para 61% (+14). Saúde e pandemia são assuntos que tocam mais sensivelmente as mulheres, é o que a pesquisa parece confirmar.
Em 2018, Bolsonaro tinha grande desvantagem entre as mulheres em todas as pesquisas a esta altura da campanha. O que mudou esse cenário em favor do presidente foi a ação direcionada para atrair mulheres evangélicas a partir da agenda de costumes e valores que a campanha Bolsonaro imprimiu. É uma incógnita se o presidente conseguirá promover a mesma mudança este ano tendo que justificar também seus resultados econômicos.
Homens se mostram otimistas quanto à Economia
Se a população começou a ‘descontar’ o efeito negativo do cenário econômico, o segmento masculino da sociedade anda otimista com o que pode acontecer com a economia. Se no total, 43% dos brasileiros acham que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses, entre os homens, esse percentual de otimistas chega a 49%.
A avaliação geral não mudou, mas há diferenças de padrão se formando entre os públicos de eleitores masculinos e femininos. Essa, com certeza, será uma clivagem interessante de se acompanhar nos próximos meses.
A decepção também cresceu mesmo entre apoiadores do governo
A pesquisa também mostra o aumento na frustração dos brasileiros com o governo Bolsonaro. Entre julho/21 e janeiro/22, passou de 48 para 55% os brasileiros que dizem que o governo é pior do que eles esperavam. E caiu de 19 para apenas 15% os que foram surpreendidos positivamente pelo governo.
Essas mudanças aconteceram em grande medida dentro da base Bolsonarista. Entre os eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018, 36% dizem estar frustrados com o governo dele hoje. Esse percentual era de 28% em julho/21. O presidente vai chateando parte significativa de sua base, o que diminui suas chances de ter a confiança deles novamente.
No que diz respeito ao cenário eleitoral, tudo igual: o ex-presidente Lula segue com chances de vencer no primeiro turno, Bolsonaro isolado na segunda posição e a terceira via não sai do lugar. O petista aparece com 45% das intenções de voto, seguido pelo presidente Bolsonaro (PL), que tem 23%. Sergio Moro aparece com 9%, Ciro com 5% e Dória com 3%.
Fragmentação impede viabilização de 3ª via
Embora a demanda pela ‘terceira via’ ainda seja relevante (próxima dos 30%), a fragmentação continua sendo um impeditivo para que algo diferente aconteça nessa eleição que não a polarização entre Lula e Bolsonaro.
O potencial de voto de Lula e Bolsonaro é tão mais alto do que o dos demais, 55% e 30% respectivamente, que falta espaço para que a terceira via apareça neste quadro de alta fragmentação. Ciro é quem aparece com mais potencial de crescimento entre todos os nomes, mas sobra pouco espaço com Lula no jogo. Por isso, Moro é a aposta da vez. Tem potencial para chegar a pelo menos 25% dos votos e não divide lugar com Lula e Bolsonaro. Seu desafio é atrair aliados.
Só faltou comentar que Lula vence todas as simulações de segundo turno, é quem tem a menor rejeição entre os conhecidos; e Bolsonaro perde em todos os cenários, é quem tem a maior rejeição entre todos os candidatos.
A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre os dias 06 e 09/01/22 por meio de 2.000 entrevistas presenciais domiciliares em 120 municípios nas 5 regiões do país. A margem de erro estimada é de 2 pontos percentuais com 95% de nível de confiabilidade. A pesquisa está registrada no TSE sob o número BR-00075/2022.
Felipe Nunes é PhD em Ciência Política, professor da UFMG, especialista em pesquisa de opinião e diretor da Quaest
Saladino
20/01/2022 - 15h59
O jogo é jogado. E sequer começou. O salto alto fino costuma ser o primeiro a quebrar. Um “tertius” está disponível para afastar a mesmice, a repetição e o nada ilusionista.