Por Antonio Lavareda
O governo começa o ano com pé esquerdo na questão sanitária que, com a escalada da variante Ômicron e da influenza, voltou a ter centralidade na mídia. Novas polêmicas, incluindo a vacinação das crianças, cobraram seu preço.
A avaliação da atuação do Presidente especificamente na Pandemia, em recuperação desde outubro, cai cinco pontos, para 20%. É o menor valor na série desde março passado. Enquanto o “Ruim ou Péssimo” vai a 57%. O medo em relação ao vírus deu um salto: de 63% para 71%.
Ao invés da Pandemia ir ficando para trás, se distanciando da eleição como imaginavam os aliados do Presidente, ganha fôlego a hipótese acenada por especialistas de que outros surtos poderão ocorrer entre nós. Ou seja, o vírus pode se tornar endêmico e um novo pico de casos eventualmente acontecer em plena campanha.
No campo econômico, a percepção de que o país está no rumo certo recupera três pontos, indo de 23% a 26%. O número dos que pensam o contrário (“Rumo Errado”) diminui, mas ainda é muito elevado – 66%, dois terços da população.
Para uma reversão mais significativa desse quadro captado pela pesquisa a oito meses do pleito, apenas o Auxílio Brasil pode não se mostrar suficiente.
O governo se vendo desafiado a apresentar resultados expressivos em três áreas: inflação, onde as previsões até são boas, apostando-se que caia pela metade em relação aos 10% do ano anterior; desemprego, que tem mostrado contínua redução mas se mantém em patamares muito altos; e, por fim, o crescimento da economia, onde a maioria das projeções aponta uma irrisória expansão do PIB, inferior a 1%. Ou seja, não é uma tarefa fácil.
O pequenos avanço no front econômico ao que parece foi anulado pelo desgaste na Pandemia. Com isso, a avaliação do governo ficou estável os percentuais são exatamente os mesmos de dezembro: 24%, “ÓTIMO/BOM”; 54%, “RUIM/PÉSSIMO”; 22%, “REGULAR”.
Na mesma linha, a “Aprovação” estacionou nos 30%, ao passo que a “Desaprovação” oscilou um ponto para baixo, com 64%. É importante observar, até porque isso tem óbvia consequência no plano eleitoral, que desde julho, descontadas flutuações mínimas de um ponto para cima ou para baixo, a “Aprovação” se mantém nesses 30%.
Nem tão desligados assim: 80% dos eleitores estão conscientes de que teremos eleição presidencial este ano. Já quanto aos outros cargos, nem tanto. 52% mencionam a de Governador; 50% a de Deputado Federal; 47% citam a de Senador; e o mesmo número, 47%, a de Deputado Estadual.
Isso é coerente com o grau de envolvimento demonstrado em relação a cada categoria de pleito. Vindo na frente a disputa presidencial, já atraindo no momento o interesse de 65% dos entrevistados.
Esse número se aproxima do total de eleitores que devem participar da eleição efetivamente, com os chamados “votos válidos”. Número que presumivelmente deve ser assemelhado aos 73% da eleição presidencial de 2018 ou aos 69% das municipais de 2020.
Não se deve esquecer que a alienação (nulos, em branco e abstenções) é largamente subdimensionada em todas as pesquisas.
As intenções de voto no primeiro turno se mantêm nos patamares de dezembro: Lula (44%) e Bolsonaro (24%) liderando, e o ranking dos competidores permanece com praticamente os mesmos números.
No momento, Lula tem uma maioria confortável sobre todos os adversários no segundo turno. Quando foi retirado o nome de Moro de uma lista e mantidos todos os demais, o saldo líquido do deslocamento das suas intenções de voto (9%) mostra que o candidato que mais se beneficiou foi Ciro Gomes (+2), seguido por Bolsonaro (+1), Doria, (+1), Alessandro Vieira (+1), e Simone Tebet (+1). Lula, Rodrigo Pacheco e Felipe D’Avila não herdaram nada do ex-ministro.
E QUANTO À CANDIDATURA “UNIFICADORA” DA TERCEIRA VIA?
O calendário avança e ainda não há sinais efetivos dela.
Como já tive oportunidade de observar outras vezes, essa coordenação – desistências, apoios, etc – envolve um processo difícil, delicado, que mexe com a dimensão racional e a emocional dos atores em questão, além de depender do xadrez das estratégias dos partidos no conjunto das eleições gerais, sobretudo nas dez maiores unidades da federação.
O otimismo daqueles players que nesse instante pontuam baixo nas pesquisas recebeu um grande alento na virada do ano, com o resgate da propaganda semestral dos partidos na TV.
No passado, essa propaganda jogou um papel muito importante na alavancagem de pré candidatos. Roseana Sarney, Serra, Lula e Dilma se beneficiaram dela muito antes das campanhas começarem. A audiência da TV aberta não é mais a mesma, porém ainda tem uma força descomunal.
O tempo das inserções já foi requerido pelas principais legendas. O MDB terá 20 inserções nacionais em março e 20 em junho para tentar “empinar” Simone Tebet. E o PSD, com seu tempo concentrado em junho, poderá fazer igual com Rodrigo Pacheco.
O mesmo valendo para os demais candidatos distribuídos no semestre. Agora, pensemos juntos: quem não aguardaria os efeitos dessas veiculações para só então abdicar dos seus sonhos?