Por Felipe Nunes
A sétima rodada da pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (12/01) mostra que o presidente Bolsonaro (PL) entrou em 2022 no mesmo patamar de avaliação de governo e intenção de voto dos meses anteriores.
Bolsonaro chega em 22 sendo o presidente com a pior avaliação entre os competidores à reeleição. FHC tinha 42% de avaliação positiva em jan/98, Lula tinha 33% de positivo em jan/06, Dilma tinha 36% de positivo em jan/14. Todos foram reeleitos.
3/ Embora avaliação não mudou, nos estratos, algumas mudanças interessantes aconteceram. Por exemplo, um fato inédito é o descasamento entre a avaliação por homens e mulheres. Homens rejeitam menos o presidente (49% -> 44%), as mulheres rejeitam mais (50% para 55%).
Por um lado, mulheres estão mais preocupadas com a Pandemia, assunto que voltou a ter relevância como principal problema no país, e que a população acha que o governo Bolsonaro trata muito mal. Principalmente pela posição contrária a vacinação de crianças.
Por outro, homens estão mais atentos à economia, assunto que perdeu relevância como principal problema no país, mas que encontra nos homens certo otimismo. Vejamos alguns números.
Entre nov/21 e jan/22 aumentou de 17% para 28% os brasileiros que acreditam que a pandemia é o principal problema do país no momento. Enquanto caiu de 48% para 37% os que dizem que é a economia o principal problema (mesmo com alta inflação, o medo da variante pegou).
Esse crescimento na preocupação com a pandemia se manifesta de forma geral, mas é mais acentuado entre as mulheres. A preocupação com a pandemia entre os homens é de 60%, entre as mulheres é 16 pontos maior,
76%.
É nesse ambiente de aumento de preocupação com a pandemia que o governo resolveu travar uma disputa de narrativas em relação à vacinação de crianças. Está perdendo. Para 72% dos brasileiros, vacinar as crianças agora é uma decisão correta.
Não por menos a desaprovação da população à forma como o presidente está lidando com o combate à COVID19 está maior, aumentou 7 pontos percentuais de dez/21 a jan/22. Mais uma vez, a diferença entre homens e mulheres em relação a este assunto chama muita atenção.
Enquanto a percepção negativa sobre a gestão Bolsonaro da pandemia não variou entre os homens, entre as mulheres, saiu de 47 para 61% (+14). Saúde e pandemia são assuntos que tocam mais sensivelmente às mulheres, é o que a pesquisa parece confirmar.
Em 2018, Bolsonaro tinha grande desvantagem entre as mulheres em todas as pesquisas a esta altura da campanha. O que mudou esse cenário em favor do presidente foi a ação direcionada para atrair mulheres evangélicas a partir da agenda de costumes e valores de Bolsonaro.
É uma incógnita se o presidente conseguirá promover a mesma mudança este ano tendo que justificar também seus resultados econômicos.
Se a população começou a ‘descontar’ o efeito negativo do cenário econômico, o segmento masculino anda otimista com o que pode acontecer com a economia: 43% dos brasileiros acham que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses, entre os homens, esse otimismo chega a 49%.
A avaliação geral não mudou, mas há diferenças de padrão se formando entre os públicos de eleitores masculinos e femininos. Essa, com certeza, será uma clivagem interessante de se acompanhar nos próximos meses.
A pesquisa também mostra o aumento na frustração dos brasileiros com o governo Bolsonaro. Entre jul/21 e jan/22, saiu de 48 para 55% os brasileiros que dizem que o governo é pior do que eles esperavam. Caiu de 19 para 15% os que estão surpreendidos positivamente.
Essas mudanças aconteceram em grande medida dentro da base Bolsonarista. Entre seus eleitores em 2018, 36% dizem estar frustrados com o governo hoje. Esse percentual era 28% em jul/21. Ao frustrar parte significativa de sua base, Bolsonaro diminui suas chances eleitorais.
No que diz respeito ao cenário eleitoral, tudo igual: o ex-presidente Lula segue com chances de vencer no primeiro turno, Bolsonaro isolado na segunda posição e a terceira via não sai do lugar. Lula tem 45% das intenções de voto, Bolsonaro 23%, Moro 9%, Ciro 5% e Dória 3%.
Embora a demanda pela ‘terceira via’ ainda seja relevante (próxima dos 30%), a fragmentação continua sendo um impeditivo para que algo diferente aconteça nessa eleição que não a polarização entre Lula e Bolsonaro.
O potencial de voto de Lula e Bolsonaro é tão mais alto do que o dos demais, 55% e 30% respectivamente, que falta espaço para que a terceira via se destaque neste cenário de alta fragmentação.
Ciro é quem aparece com mais potencial de crescimento entre todos os nomes, mas sobra pouco espaço com Lula no jogo. Por isso, Moro é a aposta da vez. Tem potencial para chegar a pelo menos 25% dos votos e não divide lugar com Lula e Bolsonaro. Seu desafio é atrair aliados.
Só faltou comentar que Lula vence todas as simulações de segundo turno, é quem tem a menor rejeição entre os conhecidos; e Bolsonaro perde em todos os cenários, é quem tem a maior rejeição entre todos os candidatos.
A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre os dias 6 e 9/1/22 com 2 mil entrevistas presenciais domiciliares em 120 municípios nas 5 regiões do país. A margem de erro estimada é de 2 pontos percentuais com 95% de nível de confiabilidade. Pesquisa registrada BR-00075/2022.
Felipe Nunes é PhD em Ciência Política, professor da UFMG, especialista em pesquisa de opinião e diretor da Quaest