Por Gilberto Maringoni
Sou um entusiasta da candidatura Lula. Ela é a única chance real de derrotarmos a extrema-direita. Por isso, li com muita preocupação o artigo do ex-ministro Guido Mantega na Folha de S. Paulo sobre as diretrizes que devem balizar a campanha presidencial petista. Aliás, o artigo é anos luz mais preocupante do que, por exemplo, a possibilidade do ex-governador Geraldo Alckmin vir a compor a chapa petista.
Já escrevi diversas vezes que Alckmin não é um problema significativo. Vices não apitaram nada sobre a condução dos governos petistas e não influenciaram a condução de suas políticas econômicas. É possível que Alckmin agregue um setor da direita que se descola do bolsonarismo e facilite uma vitória em primeiro turno.
O artigo de hoje expressa o que o PT puro sangue pensa sobre a condução da economia. Daí minha apreensão.
GUIDO MANTEGA FOI O MELHOR MINISTRO da Economia dos anos petistas. Aplicou uma política que tinha o desenvolvimento como uma de suas metas – apesar da decisão de Lula em manter o Banco Central nas mãos do sistema financeiro – e foi responsável por aproveitar o dinamismo do setor externo entre 2006-10. Entrou no governo graças à saída da dupla Dirceu-Palocci, que, em alguns momento,s radicalizou medidas ultraliberais dos anos FHC. Foi demitido de forma desleal por Dilma Rousseff, no final de 2014. Entre os economistas do PT, é sem dúvida o que mais se pauta pelo desenvolvimento.
A presidenta eleita para um segundo mandato decidiu planejar uma recessão – que denominou de “o maior ajuste fiscal de nossa História” –, com o propósito de recuperar a margem de lucro das empresas através da compressão salarial.
A fórmula definida era velhíssima: aumentar rapidamente o desemprego – como nos ensinou Michal Kalecki (1899-1970) – para “disciplinar” os trabalhadores, que ficariam com receio de protestar para não serem demitidos.
No lugar desse genovês de fala tranquila, Dilma colocou a dupla Joaquim Levy-Nelson Barbosa, com sólidas ligações com o mercado financeiro. Deu no que deu.
NÃO QUERO SER INDELICADO, MAS O ARTIGO DE MANTEGA É PÍFIO. Salta aos olhos os temas que não são mencionados, como A. Teto de gastos (que impede qualquer política de investimentos e de ação do Estado), B. Política de paridade de preços da Petrobrás (responsável pelos valores abusivos cobrados por gasolina e gás) e C. O governo Dilma II (2015-16), que foi apagado da História. Puf!, sumiu, nunca existiu.
O curioso é que em entrevista à Folha de S. Paulo em 16.01.2021, o mesmo Mantega afirmou o seguinte sobre aquela administração:
“Agora, em 2015 houve um tombo na economia que causou um déficit e aumentou a dívida. Mas aí mudou a política econômica e voltou o neoliberalismo [em 2015, Dilma troca Mantega por Joaquim Levy, então diretor-superintendente da gestora do Bradesco]”.
SOBRE TETO DE GASTOS, vale sempre lembrar que o ex-ministro Nelson Barbosa foi o primeiro a lançar a ideia, no início de 2016. Não à toa, Barbosa nunca se refere à PEC 95 como a do “teto de gastos”, mas a do “teto do Temer”. Há pressão desmedida da Faria Lima, da mídia e até de setores progressistas por sua manutenção (o mesmo acontece com a PPI da Petrobrás).
Se isso acontecer, podemos ter, num hipotético governo Lula (a eleição ainda não está ganha) uma frustração popular maior que a desencadeada pela ex-presidenta Dilma Rousseff em seu segundo mandato. Com a manutenção do teto, não existe a menor possibilidade de acontecer “um ambicioso plano de investimentos públicos e privados, de modo a ampliar a infraestrutura e aumentar a produtividade, gerando muitos empregos”, como escreve Guido Mantega.
O ARTIGO FALA CORRETAMENTE DO ALTÍSSIMO DESEMPREGO. Mas se o PT continuar “esquecendo” que a absurda marca de dois dígitos foi decisão de um governo seu, teremos um flanco aberto ao longo da campanha. Como o partido nunca explicou a contento as razões da decisão, a vulnerabilidade é preocupante. O mesmo vale para a frase “A economia brasileira terminou 2021 estagnada e vai continuar assim por todo o ano de 2022”. Não nos esqueçamos que o tombo no PIB 2015-16 foi de quase 8% negativos!
Em meio a isso tudo, há a inevitável piscadela para o mercado, ao exaltar que o PT no governo “compatibilizou aumento de verbas sociais com os maiores superávits primários da economia brasileira”. “Maiores superávits primários” – cortes orçamentários em favor do pagamento da dívida financeira – agora tornaram-se mantras do desenvolvimento?
NÃO QUERO CANSAR os que eventualmente me leem, mas o ex-ministro chega ao fim do artigo dizendo: “Para enfrentar essa situação desafiadora, as forças democráticas deverão elaborar um programa de desenvolvimento econômico e social para a reconstrução do país”. Sim! Isso é necessário. Estamos em janeiro. Quais serão as bases desse programa? Se forem os tópicos arrolados por Guido Mantega, teremos dificuldades sérias.
O Brasil precisa de um choque roosevoltiano na economia, ou um choque varguista, para ficarmos com o produto nacional. É Estado no posto de comando, quebra dos constrangimentos atuais (teto de gastos e Lei de Responsabilidade Fiscal), desmonte das reformas pós-golpe (em especial a trabalhista), recuperação dos bancos públicos e da Petrobrás e doses cavalares de investimento estatal.
Isso para começar a conversa.
Paulo
08/01/2022 - 21h31
Nelson, c tá é louco q eu caio nessa.
Paulo
07/01/2022 - 09h20
Xará, o “mito”, q nao é meu, prometeu sim. Mas pra cumprir teria q aprovar no congresso, o q não ocorreu e faz parte do processo. Mas as ideias estão dadas. Mais cedo ou mais tarde ocorrerá.
Batista
06/01/2022 - 11h25
Pelos ‘comentários’ dos que esperneiam em agonia no Cafezinho, frente a situação ainda incompreensível, mas que faz sentirem que alguma coisa desanda a estar fora da ordem na realidade paralela e plana na qual gravitam e que não se trata do marreco revelar-se paraguaio logo após o lançamento da candidatura ou do solitário camarão não ter sido mastigado ou ainda do comunitário vídeo de dancinha pornofunk na lancha, postado no TIK TOK, vislumbra-se o aproximar do fim da pandemia de mediocridade que assola o país desde 2016 e junto, espera-se também, o da pandemia de Covid que assola o mundo desde 2020.
Feliz Primavera de 2022…
Rudi
06/01/2022 - 08h02
O senhor Maringoni é um tio do pave. Sempre contra. E tem assessoria dos robôs neste caso.
Lula lá.
John Jahnes
06/01/2022 - 01h08
AH, ciristas desorientados, Ciro é só 4º ou 5º lugar e depois, nunca mais. Tem que se candidatar a Senador, Deputado ou Vereador se quiser continuar na política. Como Vereador poderá ter a chance de ser Presidente, mas Câmara Municipal.de Fortaleza. RIP todos.
JOHN JAHNES
06/01/2022 - 00h59
Quanta besteira. Tanto no artigo quanto nos comentários. Fico pensando porque escrevem se não têm a mínima noção da realidade e ficam profetizando babaquices. Vão entrevistar o LULA e depois escrevam sobre o que ele pensa, não dos seus vizinhos políticos que pensam que terão cargos no governo dele. (Talquei?)
Paulo
05/01/2022 - 22h24
Xará, mas o seu “mito” não havia prometido tudo isso? O que aconteceu?
Paulo
05/01/2022 - 22h21
?
Zulu
05/01/2022 - 20h13
O que essa merdalha petistoide fez foi estimular o crédito desenfreado e dizer aos brasileiros que não eram mais pobres para fingir que estavam fazendo algo para eles.
Os coitados acreditaram e se lascaram, os bancos faturaram como nunca e os brasileiros entraram no SPC e nunca mais irão sair.
O resto foram assaltos dioturnos aos cofres públicos, bilhões jogados no lixo ou enviados para ditaduras amigas, negocios com grandes empresas e imprensa para se financiar e ficar no poder, contas públicas estouradas, mensalão, petrolão, 65.000 homicídios ao ano, ecc…uma desgraça sem fim.
Mas o importante é que as 9 horas da noite começe a novela e os brasileiros esqueçam de tudo.
Valter
05/01/2022 - 19h23
“Alckmin não é um problema significativo. Vices não apitaram nada sobre a condução dos governos petistas e não influenciaram a condução de suas políticas econômicas.” Mau-rigoni está esquecendo três coisas : 1) a desgraça de Temer, no governo Dilma. Ele apitou muito e acabou por detonar um governo fraco , 2) a presidência da República com Bolsonaro está uma bagunça, é preciso reestruturar a instituição, pois está um oba-oba, até Mourão pegou gosto pela politicalha. 3) Tem uma cacetada de militar nas boquinhas que apoiaria Alckmin e despachariam Lula, sem pensar duas vezes. Ou Mau-rigoni é muito inocente, ou não bate bem da cabeça. Ou quem sabe os dois.
Paulo
05/01/2022 - 19h13
O Estado tem q é sair de cena. Isso sim. Onde o estado se coloca ele atrapalha. E Vargas foi o PIOR presidente do Brasil. Plantou as bases do populismo lulopetista e semeou as crises futuras com gasto público desenfreado. Precisamos é de capitalismo e livre mercado. Menos burocracia, menos regulações, menos leis, menos Estado, menos políticos. Mais liberdade, mais comércio, mais livre iniciativa, mais individualismo, mais capitalismo e livre mercado. É só o q funciona. O resto é papo de quem quer mamatas estatais.
Elvio magalhaes
06/01/2022 - 06h21
É só olhar como a China se tornou uma potência, rivalizando hoje com os EUA em todos os setores. Países periféricos não se desenvolvem sem ESTADO.
Paulo
07/01/2022 - 09h12
Elvio Magalhães, Estônia, Letônia e Lituânia te mandam lembranças.
Nelson
07/01/2022 - 23h38
Tens toda a razão, Élvio. Eu só faria uma correção. Na verdade, não são somente os países periféricos que “não se desenvolvem sem ESTADO”.
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Os países ricos, do chamado primeiro mundo, também precisaram do Estado, forte, para chegarem a níveis elevados de desenvolvimento. E continuam a manter seus Estados fortes, pois sabem que sem Estado forte sua pujança esmaeceria em pouquíssimo tempo.
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Conforme o também eminente economista, Ladislau Dowbor, nos países ricos o Estado comporta nada menos de 40% da economia. No Brasil, comporta apenas 30%.
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Ou seja, ao contrário do que 11 em cada 10 órgãos da mídia hegemônica e 11 em cada 10 de seus comentaristas dizem, e repetem à exaustão, sem nem ao menos ruborizarem, o Estado brasileiro não é grande demais, mas pequeno demais para as necessidades do nosso povo e os desafios do país.
Nelson
07/01/2022 - 23h23
Meu caro. Tu estás a falar e a pensar exatamente como os países ricos, Estados Unidos à frente, querem que falemos e pensemos, os que habitamos o chamado Terceiro Mundo. Não há um único país desenvolvido que tenha lá chegado sem um Estado forte por detrás a indicar e mesmo a impor os rumos a seguir.
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Nenhum dos países ricos atingiu níveis mais elevados de desenvolvimento praticando o liberalismo que tu pedes. Todos eles fortaleceram seus Estados para fazerem frente aos desafios de desenvolverem suas economias.
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Ao conseguirem se desenvolver, esses países passaram a prescrever aos países pobres exatamente o liberalismo que nunca praticaram. O objetivo era claro: evitar que os pobres se utilizassem do mesmo expediente, um Estado forte, para se desenvolverem e, um dia, se tornassem fortes competidores deles.
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E não é este pacato cidadão aqui quem diz isso, mas gente muito mais gabaritada do que eu. São economistas e historiadores que não têm o rabo preso com o sistema capitalista e que ousam contar a verdadeira história do desenvolvimento das nações.
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O linguista e filósofo estadunidense, Noam Chomsky, por exemplo, afirma que, se os Estados Unidos aceitassem passivamente as exigências feitas pelo Estado inglês no século XVIII, estariam até hoje vendendo peles. Mas, o Estado yankee, como medida de proteção a sua indústria e a seu mercado interno nascentes, impôs tarifas alfandegárias altíssimas aos produtos ingleses.
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Não é à toa que, desde que o ideário neoliberal começou a ser empurrado goela abaixo de grande parte dos povos do mundo inteiro – a primeira experiência, muito exitosa para o capital, foi o Chile, há quase meio século -, os países ricos, Estados Unidos à frente, passaram, por meio do duo FMI/Banco Mundial, a prescrever e a impor aos pobres as privatizações e desregulamentações, o tal de Estado mínimo.
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A empresa privada não tem visão de coletivo, de comunidade, de nação. Sua prioridade primeira, não raro a única, é a obtenção de lucros para seu(s) dono(s) e/ou acionistas. Estou aqui a demonizar a iniciativa privada. De modo algum. Estou a descrever o mundo como ele é, de uma forma que é cuidadosamente escondida pela asfixiante propaganda capitalista. Nem posso exigir da iniciativa privada que tenha preocupações com o coletivo.
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Por outro lado, você deve imaginar que estou aqui a tecer loas ao Estado a demonstrar verdadeira adoração a ele. Nada disso. O caso é que, no estágio atual da humanidade, não há saída, para qualquer país, a não ser fortalecer seu Estado. O povo que viver sob um Estado fraco, estará, na verdade, submetido aos ditames do Estado forte de uma potência estrangeira.
Nelson
07/01/2022 - 23h30
Duvidas do que afirmei acima, meu caro? Então, dês uma olhada no que nos conta o eminente economista Mário Pochmann; algo que só vem reforçar o que escrevi. Segundo ele, cidadão muito bem informado, levantamento feito em 58 países, mostra que, em 2020, houve a reestatização de 924 serviços que tinham sido privatizados e a criação de outros 483 novos serviços públicos.
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Ainda segundo Pochmann, os países que mais reestatizaram foram, pela ordem:
Alemanha – 411
Estados Unidos – 220
França – 156
Espanha – 116
Reino Unido – 110
alex
05/01/2022 - 18h48
O Pos-Italia da Odebrecht acha que os brasileiros sao cretinos como ele…mas nao é bem assim.
alex
05/01/2022 - 18h47
O Pos-Italia da Odebrecht acha que os brasileiroros sao cretinos como ele…mas nao é bem assim.