Apesar de ainda faltar cerca de 10 meses para as eleições presidenciais, cujo primeiro turno acontece no dia 2 de outubro, a movimentação política de candidatos e partidos já começou há tempos. A partir do janeiro, tudo deve ser intensificar, especialmente em virtude de uma novidade, as federações partidárias, que devem ser registradas no TSE seis meses antes das eleições, ou seja, até início de abril.
Esses fatos ressaltam a importância das pesquisas nesse final de ano, e o ciclo parece ter se encerrado com a divulgação do Datafolha, há alguns dias, e o Ipespe, hoje.
O Datafolha já foi amplamente divulgado. Mas o relatório ainda não saiu, então ainda faremos uma análise com base nos números estratificados por região, renda, religião, raça, sexo, idade, etc.
Falemos agora do Ipespe, cujo relatório pode ser baixado aqui.
Comecemos pelos números principais, da pesquisa estimulada, para a qual o Ipespe apresentou dois cenários: a lista 1, mais enxuta, e a lista 2, com mais candidatos.
Na lista 1, Lula tem 44%, o que corresponderia a 49,4% dos votos válidos, o que não seria suficiente para uma vitória no primeiro turno, pois faltaria ainda 0,6% + 1 voto. Na pesquisa anterior, de novembro, Lula tinha 42%, ou seja, cresceu 2 pontos.
Bolsonaro pontuou 24% na lista 1, um ponto a menos do que na pesquisa anterior. Sergio Moro e Ciro perderam dois pontos, cada um, e agora tem 9% e 7%, respectivamente.
Fizemos um histórico do voto estimulado em Lula e Ciro desde maio de 2020 até dezembro de 2021. Nota-se o crescimento vigoroso de Lula, consolidando-se acima de 40%, e o esvaziamento de Ciro, que se manteve em torno de 10%, mas termina o ano com 7%.
Muitos analistas consideram que a pesquisa espontânea oferece o melhor desenho do momento político, sobretudo quando se trata de uma eleição que ocorrerá daqui a dez meses.
Neste caso, é impressionantne observar o desempenho de Lula, cujo voto espontâneo tem crescido vigorosamente nos últimos meses, chegando a 36% do total. Bolsonaro, por sua vez, mantém um eleitorado fiel, em torno de 23% a 25%, que é um percentual constante desde meados de 2020. Hoje ele tem 23%.
Todos os outros candidatos somados tem 7%, percentual que vem se mantendo estagnado desde o início de 2021.
Num segundo turno hipotético entre Lula e Bolsonaro, nota-se a famosa “boca do jacaré” se abrindo, com vantagem para o petista, que pontuaria 53% X 31% Bolsonaro, uma vantagem de 22 pontos!
Num improvável cenário de segundo turno entre Lula e Ciro Gomes, o presidente levaria a melhor com 52% X 25%, uma vantagem de 27 pontos!
O gráfico sobre o desejo de mudança ou continuidade num próximo governo também dá vantagem a Lula, pois uma maioria esmagadora de 58% responderam que defendem que se “mude totalmente a forma como o Brasil está sendo administrado”. Como Lula é o principal líder da oposição, essa tendência o ajuda a se consolidar.
O gráfico de probabilidade de votos também é favorável a Lula, porque ele é o candidato com menor rejeição entre os competitivos. Enquanto apenas 44% responderam que não votariam de jeito nenhum em Lula, esse percentual chegou a 62% para Bolsonaro. Ciro, por sua vez, é rejeitado por 45%, e Moro por 53%.
Opinião: considerando o calendário eleitoral, e o grande número de pesquisas que mostram, sistematicamente, uma situação semelhante, são grandes as possibilidades de que os principais partidos definam sua estratégia já nas próximas semanas.
Sergio Moro, que parecia uma promessa, termina o ano estagnado. Mas ainda pode oferecer alguma supresa nos próximos meses, pois a alta rejeição de Bolsonaro, somada à afinidade ideológica entre o eleitor do presidente e a candidatura Moro, ainda podem gerar um fenômeno relevante de migração de votos de Bolsonaro para Moro.
Não nos parece, contudo, que Moro tenha capacidade para tirar votos de Lula.
Outra “vítima” de Moro é Ciro Gomes, cuja estratégia, muito focada em ataques ao “lulopetismo”, certamente pensando em seduzir o eleitorado antipetista, foi agora inteiramente neutralizada pela entrada do ex-juiz na disputa.
O eleitor conservador, que votou em Bolsonaro mas está arrependido, encontra em Moro um candidato muito mais próximo do que pensa.
Lula, por sua vez, não está “jogando parado”, como dizem alguns analistas. Ele está em movimentação intensa, como vimos neste final de semana, em que participou do mais badalado jantar político dos últimos anos, e que serviu para fazer uma aproximação entre ele e Alckmin, e entre PT e outros partidos e forças, como PSB e PSD.
É possível que antes do fim do ano, PT e PSB cheguem a um acordo preliminar sobre três assuntos estratégicos para 2022: as eleições em São Paulo (governo e senado), as eleições nacionais e a construção de uma federação partidária unindo os dois partidos.
As condições políticas favorecem um acordo amplo e generoso entre PT, PSB, PCdoB e PSD, com ou sem federação, para as eleições estaduais e nacionais.
Há rumores, por exemplo, de que o PT costura um acordo com Marcio França, pelo qual ele seria o candidato ao Senado numa chapa que teria Haddad como candidato ao governo do estado, e ao mesmo tempo haveria promessa de um ministério para Márcio, para que o seu suplente, do PSD, assumisse a vaga.
Enfim, a perspectiva de poder oferece, a Lula, largos horizontes para poder negociar acordos políticos para as eleições regionais e nacionais de 2022, visando desde já criar condições favoráveis para sua governabilidade.