O editor de Cafezinho, Miguel do Rosário, analisa a conjuntura política a partir das pesquisas eleitorais divulgadas nas últimas semanas. Fala também das movimentações de Lula e dos erros estratégicos de Ciro.
O campo democrático deve ser unificar em torno de Lula
O editor de Cafezinho, Miguel do Rosário, analisa a conjuntura política a partir das pesquisas eleitorais divulgadas nas últimas semanas. Fala também das movimentações de Lula e dos erros estratégicos de Ciro.
Miguel do Rosário
Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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Paulo
19/12/2021 - 21h12
Se parte do Brasil quer Lula, eu lamento. Espero que a outra parte não queira Bolsonaro, pelo menos…Deixar essas duas opções para o 2º turno seria desastroso…
Alexandre Neres
19/12/2021 - 20h24
Quero dirigir este texto ao segmento progressista.
Sendo bastante benevolente, o campo progressista é composto dos seguintes partidos: PCdoB, PDT, PSB, PSOL, PT e Rede.
Não consigo enxergar a hipótese de abrigarmos o Cidadania e o PV neste grupo, este último é recheado de oportunistas que se deram conta de que a causa verde se reveste de certo atrativo e talvez o ato mais importante do Cidadania foi o ministro da Cultura do Governo Temer, Roberto Freire, ter ido a uma solenidade de entrega do Prêmio Camões a mando do vampiro agredir e armar um barraco contra o homenageado, o grande escritor Raduan Nassar, o qual diga-se de passagem doou a fazenda de sua família de 643 hectares para uma universidade pública (UFSCar). A meu ver, Cidadania e PV compõem a centro-direita tradicional, em meio a partidos como PSD, PSDB, MDB e que tais. Sou contra o PV participar da federação de esquerda, quer só levar vantagem.
Acho que as eleições de 2022 serão bastante difíceis, não podemos ficar de salto alto e nesse clima de já ganhou. Serão de suma importância para o porvir da nação.
Queria fazer um apelo aos amigos ciristas. Percebo que sumiram do blogue, não vejo mais os posts do Alan C, Miramar, Netho, Marco Vitis e muitos outros. Na minha opinião, Ciro cometeu uma série de grandes equívocos desde 2018. Que Ciro quisesse demarcar terreno contra Lula e o PT, que quisesse evidenciar a diferença de seu projeto para o do PT seria razoável, como também consigo entender que Ciro precisava se afastar e até pegar grandes nacos do PT para acabar com sua hegemonia em 2018. Para fazer prevalecer seu projeto, ele teria que derrotar e tirar o PT do lugar que ocupa de há muito. Porém, exagerou muito na dose. Xingar Lula de corruptor e de ladrão, entre outros epítetos, num momento em que o grande líder popular estava sendo vítima de lawfare e de um ataque diuturno por parte do PIG e do establishment. Ciro usou e abusou do lavajatismo e do udenismo, que foi utilizado ao longo da história não raro contra os trabalhistas, agora infelizmente está colhendo o que plantou, com requintes de crueldade. Ciro não reúne condições para bater chapa contra Lula, isso não é demérito para ele. A diferença de estatura entre os dois é gritante e só fez aumentar nos últimos tempos depois que os ataques forjados contra Lula vieram à tona, a grandeza do homem público só aumentou desde então.
O caminho das esquerdas foi apontado pelo saudoso Leonel de Moura Brizola no segundo turno de 1989. Essa lição foi inesquecível e nosso campo tem de marchar unido, apesar das legítimas divergências entre seus integrantes. Todos somos tributários de Brizola pelo que nos ensinou, ao abraçar o sapo barbudo depois de uma disputa renhida entre eles.
A nossa sorte é que estamos em 2022. Em nosso país, de 29 em 29 anos aparece um outsider com discurso moralista cujo governo se revela um desastre. Em 1960, Jânio Quadros apareceu com sua vassourinha para varrer a bandalheira. Em 1989, Collor apareceu caçando os marajás. Em 2018, Bolsonaro veio contra tudo isso daí, querendo destruir as instituições por dentro.
Ainda bem que Moro veio concorrer justamente nessas eleições, cuja campanha, se for adiante, será um fracasso ambulante. Moro não sabe se comunicar com o público, nem tem carisma, tem uma formação precária e não sabe nada do país. Moro representa a segunda via do bolsonarismo, porém é muito mais perigoso do que Bolsonaro, pois este ao menos sempre foi franco e honesto ao defender os maiores disparates, enquanto Moro é autoritário como seu rival, mas é dissimulado. Quem melhor definiu a duplinha de dois foi a conja: “Eu não vejo o Bolsonaro, o Sergio Moro. Eu vejo o Sergio Moro no governo do presidente Jair Bolsonaro, eu vejo uma coisa só.”
Um ponto que eu não poderia deixar de abordar é sobre a suposta chapa Lula-Alckmim. Raras vezes eu discordo do meu amigo Tiago Silva, como este é um caso desses, achei melhor expor meu ponto de vista. Depois de tudo que nós da esquerda sofremos desde 2015, é razoável que queiramos uma chapa puro-sangue, sem golpistas, pois fomos duramente atacados por todos os lados. No início, queria compor uma frente ampla de esquerda. O vice seria o Flávio Dino, o único em vejo qualidades para substituir Lula no curto prazo. O outro que vejo nessa linha é o Boulos, mas está muito cru ainda. Para mim, Boulos é o herdeiro natural do Lula no longo prazo. Mas sejamos realistas, nem o Dino reivindicou esse lugar, pois sabe que pouco acrescenta à candidatura Lula, até mesmo por ser do Nordeste.
Por tudo que passamos, a questão do sucessor de Lula é de suma importância. A princípio, concordo que Alckmin pouco acrescenta em termos eleitorais. Que Alckmin é conservador, da Opus Dei, tem a questão Pinheirinho, tem a invasão das escolas estaduais etc. Concordo também com a Esther Solano, quando diz que essa chapa seria triste, ainda que necessária. Não obstante, vejo a chapa Lula-Alckmin como mais um sintoma da genialidade de Lula. Numa campanha em que ninguém se encontra, a tal terceira via não consegue dar um passo, o único fato que mexe com a campanha foi essa união antes impensável entre Lula e Alckmin. Querem colocar Lula e Bolsonaro como extremos opostos, com essa chapa Lula está se retirando do lugar em que quiseram confiná-lo, com uma tacada de mestre. Se Alckmin, não ajuda em termos eleitorais, ajuda em muito para a governabilidade. Nós da esquerda precisamos nos libertar de algumas coisas e pensar pragmaticamente. Nos anos 60, tivemos uma atitude heroica ao combater a ditadura, mas chega a ser risível pensar que com aqueles gatos pingados se conseguiria mobilizar a sociedade e enfrentar os militares ante tanta assimetria. Espero que desta vez não prevaleça a máxima do Dr. Ulysses de que a legislatura seguinte é sempre pior do que a anterior, mas de antemão podemos afirmar que seremos minoria e que a direita continuará dominando o Congresso.
Talvez se no primeiro governo Lula tivéssemos nos aliado ao PSDB e não ao Centrão, quem sabe a história não teria sido diferente. De lá para cá o PSDB foi cada vez mais para a direita. Se tivéssemos composto, feito acordos em alguns pontos, quiçá seria melhor do que termos nos aproximado do Centrão para governar. Não sejamos inocentes nem moralistas, quem governa no Brasil, para aprovar seus projetos, precisa dos votos do Centrão. O Brasil tem um problema político estrutural que não será resolvido com demagogia nem com super-heróis, haja vista Sergio Morto. Lula agiu certinho no seu governo, indo pela via adequada de fortalecer as instituições de controle (CGU, PF, MPF etc.), as quais por fazerem parte da elite do atraso perseguiram o líder que mais as deu condições para atuar. Também tinha que negociar com deputados e senadores, muita vez só preocupados com seus próprios interesses, pois faz parte da liturgia do cargo e Lula é mestre na arte conciliatória.
Alckmin é conhecido como um político sério, cumpridor de acordos e segundo consta foi dos últimos a aderir ao impeachment de Dilma. A princípio, é confiável até prova em contrário. Pelo lado de Alckmin, a chapa também é bonita de se ver. Alckmin foi candidato a presidente em 2018 e teve pouquíssimos votos. Um dos seus maiores erros foi ter escolhido Dória como sucessor. Dória aderiu a Bolsonaro e o largou na mão. Este ano, Dória procurou Alckmin para dizer que achava mais adequado que ele concorresse para deputado federal, não só o vetando para governador para emplacar o neófito Rodrigo Garcia como também para o senado. Alckmin engoliu seco e calado. Ser vice-presidente e ocupar um cargo mais elevado é sua volta por cima. Alckmin vai dar o troco em Dória em grande estilo e ainda vê-lo amargar uma votação mais reduzida do que Geraldo teve em 2018. A contragosto, sou obrigado a concordar com Eliane Catanhêde, ao afirmar que: “Você não pode desprezar a genialidade política do ex-presidente Lula. Ele realmente tem uma capacidade de compreensão de jogo político impressionante”.
Quando me dirigi aos progressistas no começo do texto foi porque numa eleição disputada entre Haddad e Bolsonaro, que sempre deixou claro a que veio, nunca fez a menor questão de esconder, quem se omitiu, votou em branco, votou nulo e não foi votar porque não quis, merece ser chamado na responsa com todas as letras: você não é apenas um isentão, você é cúmplice de genocida, suas mãos estão manchadas de sangue!
A eleição de 2022 será um divisor de águas, a mais importante de todas. Não será simplesmente uma briga entre esquerda e direita. Será uma questão de vida ou morte para um país que mostra enorme dificuldades de cumprir a sua sina de país do futuro. O objeto de disputa no ano que vem se dará entre civilização e barbárie! Por isso, conclamo todos os progressistas a apoiarem possivelmente a chapa Lula-Alckmin para resgatar nossa democracia de uma vez por todas, com uma convivência pacífica entre os contrários, mas sem deixarmos de nos mobilizar para acabar com a miséria e reduzir a desigualdade social!
Antonio Morais
19/12/2021 - 02h27
Parabéns Miguel. Senti firmeza. Chega de raiva, de tentar difamar as pessoas, a esquerda não deve ir por esse caminho.
William
18/12/2021 - 22h54
Ainda não entenderam que o jogo mudou e que não vão conseguir impor mais nada aos brasileiros ?
A maioria dos brasileiros não é de esquerda e o PT era uma imposição do sistema para se lambuzar com bilhões de dinheiro público…. acabou.
marco
18/12/2021 - 20h28
Duvido muito que os eleitores de Ciro Gomes migrem para Lula na atual conjuntura, ainda mais colocando a “Opús Dei” na linha de sucessão.
Fanta
18/12/2021 - 16h57
“campo democrático…?”
Quem não faz parte desse “campo” é antidemocrático ?
Inventaram outra idiotice ?
Ronei
18/12/2021 - 16h53
Que o Miguel do Rosário grudou no escroto de Lula assim que o STF inventou moda para torná-lo elegível a gente havia entendido muito bem.