Por Elias Jabbour
Nós brasileiros temos a saudável tendência de diante de uma grande incoerência usar de um bom senso de humor. Escrevo isso, pois diante do chamado boicote diplomático anunciado pelos Estados Unidos a primeira reação só pode ser o acreditar que estamos diante de uma piada de mal gosto. De uma grande piada diplomática.
Passado o momento de perplexidade somos obrigados a lidar com os fatos: sim, o imperialismo norte-americano, o maior poder assassino e corruptor da história, decidiu organizar boicotar um evento acusando a China de genocídio contra o povo uiguir. O assunto passa a ser mais sério na medida em que passamos a compreender não somente a hipocrisia por detrás disso, mas dos interesses que o cercam. Sombrios interesses.
Quem é o país que está a se “solidarizar” contra um suposto genocídio? É interessante notar que um país que propala o direito de si mesmo patentear a defesa da democracia e dos direitos humanos ter a popularidade de seus presidentes medida a partir de decisões de guerra.
Ou seja, os dois presidentes de maior popularidade na história recente dos Estados Unidos, Bush pai e Bush filho, atingiram quase 90% de popularidade após as decisões de desencadear duas agressões ao Iraque (1991 e 2003). Abrindo parêntese, a maior parte das agressões imperialistas nas últimas décadas são contra países e povos de cultura islâmica. A mesma distinção que eles mostram com o povo uigur, eles não mostraram aos muçulmanos do Iraque e de outras vítimas de suas agressões.
Os casos chocantes de tortura física e violação do direito dos presos em praticarem livremente sua fé religiosa nas prisões de Guantánamo e Abu Ghraib correram o mundo e deixaram em choque todos os verdadeiros defensores dos direitos humanos.
O saque ao museu histórico de Bagdá por parte de tropas dos EUA em 2003 pode ser visto como um dos maiores genocídios culturais da história. Evidente que todos esses eventos devem ser vistos como parte de um todo que é a tentativa de imposição de uma “ditadura militar global” utilizando-se de conceitos difusos para enganar a opinião pública internacional.
A democracia norte-americana é a maior fábrica de mentiras da história. Sábia foi a profecia do líder comunista Georgi Dmitrov, em seu histórico julgamento por ocasião do incêndio do Reichstag em 1933, vaticinou que o fascismo é um fenômeno típico do capitalismo e que certamente a próxima vaga fascista “viria do outro lado do atlântico”.
As acusações de genocídio do Estado chinês contra os muçulmanos uigures não conseguem são insustentáveis. O mundo vive uma época caracterizada por novas formas de golpes de Estado e tentativas de desestabilizar países e sociedades. Uma dessas formas é a chamada “tempestade semiótica”. Ou seja, uma acusação é feita e em questão de segundos milhares de notícias são espalhadas pelas agências ligadas aos interesses do imperialismo até que se torne uma “verdade”.
Os Estados Unidos não foram somente um país cujo sistema de apartheid racial encantou os ideólogos do nazismo na década de 1920 (é pública a admiração de Hitler e Himmler pela forma de funcionamento da sociedade norteamericana), mas é o melhor espelho do fascismo nos dias de hoje em matéria de fabricar mentiras.
Vou repetir o que já escrevi aqui antes. Sobre o Xinjiang, uma simples pesquisa é suficiente para demonstrar algumas falácias. Por exemplo, uma das acusações é de a China tem uma política de esterilização em massa que tem levado à queda da população Uigur de Xinjiang de 15,5 nascimentos por mil para 2,5 por mil.
No entanto, de acordo com o relatório do sétimo censo nacional, divulgado em maio deste ano, a taxa de crescimento populacional da etnia Han foi de 4,93%, e a população das minorias étnicas da China aumentou 10,26% em comparação com 2010. Nos últimos dez anos, a população das minorias étnicas em Xinjiang cresceu 14,27%.
Durante o mesmo período, a taxa de aumento da população das minorias e da etnia Han foram de 10,26% e 4,93%, respectivamente. Por outro lado, bom lembrar que as minorias étnicas chinesas ficavam fora da política de controle de natalidade implementada no início dos anos de 1980.
Por fim, a chamada “piada de diplomática”. Uma das características mais interessantes do imperialismo e que chama a atenção para a sua clara decadência é o fato deles terem perdido completamente o chamado “senso de ridículo”. É simplesmente constrangedor um país que mata, prende e tortura muçulmanos fora de suas fronteiras mostrar esse falso apreço pelos muçulmanos de Xinjiang.
Um país que acredita que as sociedades pautadas por crenças judaico-cristãs são superiores não tem condições de demonstrar apreço por nenhum povo que seja branco, de olhos azuis e de religião cristã. Esse senso de ridículo só pode ser comparado com os piores momentos de Hitler e Mussolini. Ambos mestres em fazer grandes piadas diplomáticas.
Elias Jabbour é professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ). Escrito em colaboração com o Grupo de Mídia da China