A principal mudança observada na pesquisa CNT/MDA divulgada nesta quinta-feira é a consolidação, acima da margem de erro, de Sergio Moro na terceira posição, deslocando Ciro Gomes para o quarto lugar.
Outro destaque é a liderança firme de Lula, na margem de erro para vencer no primeiro turno.
A CNT/MDA foi realizada entre os dias 9 e 11 de dezembro, através de entrevistas presenciais com 2002 pessoas. A íntegra do relatório pode ser baixada aqui.
Na conversão para votos válidos, Lula teria 51%, suficiente para uma vitória no primeiro turno. Na pesquisa anterior, feita em julho, Lula tinha 50% dos votos válidos.
Bolsonaro, por sua vez, perdeu 3 pontos e agora teria 30% dos votos válidos.
Moro cresceu 4 pontos e pontua 11% dos votos válidos.
Ciro Gomes emagreceu 1 ponto e agora tem 6%.
Em votos totais, o quadro ficou assim: Lula 43%, Bolsonaro 26%, Moro 9%, Ciro 5%, Doria 2%.
A pesquisa trouxe ainda o potencial de votos de cada candidato, com três perguntas: votaria com certeza, poderia votar e não votaria de jeito nenhum.
Reunimos em dois gráficos as respostas sobre o voto “com certeza” e o “não votaria de jeito nenhum”.
Os destaques do “voto com certeza”, mais uma vez, vão para a força de Lula, cujo voto “com certeza” subiu de 35% para 40%, e o esvaziamento de Ciro, que saiu de 4% e agora tem 3%.
No gráfico seguinte, chama atenção a queda na rejeição da Lula, de 44% em julho para 40% em dezembro, ao passo que todos os outros candidatos tem rejeição acima de 50%. Bolsonaro permanece com altíssima rejeição, de 59%. Doria, governador de São Paulo, e pré-candidato pelo PSDB, é o mais rejeitado de todos: 64% dos entrevistados responderam que não votariam nele de jeito nenhum.
Outro dado interessante trazido pela pesquisa CNT/MDA é sobre a “segunda opção de voto”.
O que mais chama atenção, nesse quadro, é que 41% dos eleitores de Ciro tem Lula como segunda opção. Ou seja, dos 5% de intenções de votos totais do ex-ministro Ciro Gomes, 40 em cada 100 pode migrar, em tese para o líder nas pesquisas.
Na pesquisa espontânea, onde o entrevistador não apresenta opções, Lula cresceu dois pontos e lidera com 30,1%, ao passo que Bolsonaro perdeu um pouco mais de 1 ponto e agora tem 20,1%.
Moro oscilou um ponto para cima e agora tem 1,9%, mesmo percentual de Ciro Gomes. O percentual de indecisos é de 37%, o que é relativamente baixo para uma pesquisa realizada a 10 meses das eleições.
A pesquisa trouxe ainda alguns cenários de segundo turno.
Num hipotético segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o petista ampliou sua vantagem em relação a pesquisa anterior. Em julho, Lula ganharia com vantagem de 19,3 pontos. Hoje, a vantagem seria de 21,3 pontos.
Já num eventual embate entre Ciro e Bolsonaro, deu-se o oposto. Apesar de Ciro ainda ganhar de Bolsonaro, sua vantagem diminuiu. Em julho, Ciro exibia vantagem de 9,5 pontos sobre Bolsonaro. Agora em dezembro, essa vantagem caiu para 5 pontos, muito próximo de um empate técnico.
Já um confronto entre Lula e Moro teria, como resultado, uma vitória do ex-presidente com uma vantagem confortável de 50,7% X 27,4%, uma vantagem de 23 pontos.
Uma das tabelas da pesquisa CNT mostra que Sergio Moro terá dificuldade em se apresentar como campeão do combate à corrupção, ao menos num contraste contra Bolsonaro, porque o presidente, apesar das inúmeras denúncias, ainda mantém um capital razoável nesse quesito. Os entrevistados responderam que o “combate à corrupção” é a área de atuação onde Bolsonaro teve sua melhor atuação em seus 3 anos de governo. Por outro lado, essa resposta poderia ser explicada pela falta de opção, entre seus eleitores, de outra qualidade para lhe atribuir, já que o presidente não tem nada de bom a mostrar nas áreas de economia, emprego, educação, saúde e infra-estrutura.
Uma parte expressiva dos eleitores (60% dos entrevistados), segundo a pesquisa, considera que os debates na TV serão importantes para ajudar na decisão de voto. Por outro lado, esse percentual deve ser igualmente ponderado pela seguinte ponto: quando o eleitor consolida sua opção, ele tende sempre a achar que o seu candidato venceu os debates.
Interessante ainda notar que ideias dos candidatos sobre economia, emprego, saúde e inflação são considerados pelos eleitores como os temas mais relevantes na sua decisão de voto. O tema “melhoria da economia do emprego” foi considerado o mais relevante para 49%.
O “combate à corrupção” é considerada como uma das “mais importantes por 24% dos eleitores.
A segurança pública, por sua vez, é considerada um tema relevante para apenas 9,6% dos eleitores.
A pesquisa perguntou ao entrevistado quando ele acredita que vai definir seu voto. Para 57%, a decisão já está tomada. Outros 26% responderam que devem esperar o início do horário eleitoral e debates. E 15% disseram que deverão se decidir apenas na última semana.
Essas questões também devem ser ponderadas. O potencial de surpresa que deriva dessas respostas não é tão alto como parece, porque há sempre uma tendência , entre os indecisos, de votarem naqueles candidatos de seu entorno social. Então se há um eleitor indeciso de uma cidadezinha do sul, cujos familiares e amigos devem votar em Bolsonaro, a tendência é que ele também vote em Bolsonaro. O mesmo vale para o eleitor indeciso de uma comunidade sertaneja do nordeste, cuja população deve optar por Lula: há uma tendência grande dele também votar em Lula.
A tabela abaixo mostra que quase metade dos eleitores quer mudanças radicais na forma de se governar o Brasil. Esse é um dado a ser considerado pelos estrategistas de campanha.
A tentativa de Bolsonaro de se desvencilhar da responsabilidade pelo preço dos combustíveis e alimentos não está dando tão certo como ele deseja. No tocante ao preço dos alimentos, 37% culpam Bolsonaro e apenas 14% os governadores. Já no tema dos combustíveis, 32% culpam Bolsonaro e 19% os governadores.
Uma maioria esmagadora dos eleitores tem percebido o “aumento de pedintes e moradores de rua”. Esse dado é importante porque sugere que o tema da assistência social tenderá a ser muito importante nas eleições de 2022, e isso poderá beneficiar um candidato como Lula, que tem uma forte imagem associada ao combate à pobreza.
O avanço da vacinação e a relativa normalização da vida cotidiana conseguiu diminuir a rejeição do eleitorado a Bolsonaro no quesito combate à pandemia.