Por Paulo Roberto Damasceno
A pandemia de Covid-19 e o decorrente impacto econômico e social provaram mais uma vez: sem a Caixa Econômica Federal, assistir à população quando ela mais precisa seria simplesmente impossível. Foi o banco público, presente de norte a sul do Brasil, que viabilizou a distribuição do auxílio emergencial em meio à crise. E esse é apenas um exemplo: a estatal é responsável por dezenas de outras políticas públicas fundamentais — como o Minha Casa Minha Vida —, sem as quais milhões de pessoas não poderiam ter acesso a padrões básicos de qualidade de vida, moradia, educação, saneamento e mais.
Frente a essa realidade, torna-se ainda mais preocupante o atual processo de desmonte enfrentado pela Caixa atualmente, nas mãos do presidente da instituição, Pedro Guimarães, e do governo Bolsonaro. A venda recente de áreas importantes e lucrativas do banco, como parte da Caixa Seguridade, e o plano de abrir outros setores para o mercado, a exemplo da DTVM Caixa, precisam chamar a atenção da sociedade como um todo: se o banco público continuar sendo fatiado, com suas partes mais rentáveis sendo entregues à iniciativa privada, em breve pouco restará para financiar históricos programas sociais.
Em Minas Gerais, o impacto do progressivo enfraquecimento do banco para a população tem potencial para ser devastador. É a estatal que garantiu o acesso ao Bolsa Família para mais de 1,1 milhão de famílias mineiras. Dessas, 695,5 mil (61,1%) receberam auxílio emergencial durante a pandemia, sem o qual muitas não teriam conseguido sequer se alimentar. Só a Caixa, vale ressaltar, tem a capacidade de alcançar todos os que precisam desses benefícios: o banco responde por 19,1% das agências bancárias no estado – muitas localizadas, inclusive, em municípios afastados onde bancos particulares não têm interesse em operar.
Na área de habitação, a centralidade da Caixa para os brasileiros também é incontestável. Só em Minas Gerais, o Programa Minha Casa Minha Vida construiu 155.251 unidades habitacionais, investindo R$ 6,6 bilhões na realização dos sonhos de casa própria, além de movimentar a economia e gerar empregos no setor de construção. A instituição responde, ainda, por 89,7% dos financiamentos imobiliários — sendo apenas 4% de bancos privados, menos preocupados em atender clientes de baixa renda.
Nenhum desses programas seria viável se a Caixa não fosse um banco público forte, lucrativo e eficiente, como ainda é hoje em dia. Se engana quem acha que o plano de privatizações graduais em andamento pode beneficiar a instituição.
A atual gestão do banco pode até se vangloriar de altas nos balanços, mas são apenas fruto das recentes vendas. Do lucro de R$ 10,8 bilhões anunciado pela Caixa no primeiro semestre, por exemplo, R$ 3,3 bilhões são relativos à venda de ativos da Caixa Seguridade e R$ 2,2 bilhões a ações do Banco Pan.
O problema, porém, é que a abertura para o mercado traz resultados positivos apenas a curto prazo, mas compromete a rentabilidade da empresa no futuro. Para se ter uma ideia, o governo já anunciou que pretende vender a DTVM, Caixa Cartões e Caixa Loterias nos próximos meses: juntos, os três negócios dão lucro de R$ 6 bilhões por ano. Lucro que poderia ser investido em atender a população.
O desmonte da Caixa, portanto, não é um problema apenas dos trabalhadores do banco, mas de todos os brasileiros: sem o banco, a população perde políticas públicas, desenvolvimento, oportunidades e qualidade de vida.
Paulo Roberto Damasceno, presidente da Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal de Minas Gerais (Apcef/MG)
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