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Importações brasileiras de diesel cresceram 61% em 2021

Mesmo com a crise econômica devastando empregos, orçamentos públicos e investimentos, as importações brasileiras de óleo diesel bateram um novo recorde histórico. Os dados são do governo federal, divulgados através do sistema Comexstat, vinculado à Secretaria de Comércio Exterior. No acumulado dos últimos 12 meses,  até novembro, o Brasil importou 12 milhões de toneladas de […]

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Mesmo com a crise econômica devastando empregos, orçamentos públicos e investimentos, as importações brasileiras de óleo diesel bateram um novo recorde histórico.

Os dados são do governo federal, divulgados através do sistema Comexstat, vinculado à Secretaria de Comércio Exterior.

No acumulado dos últimos 12 meses,  até novembro, o Brasil importou 12 milhões de toneladas de óleo diesel, principal combustível usado por veículos de transporte no país, aumento de 19% sobre o ano anterior.

Em valor, as importações brasileiras de diesel nos custaram US$ 6,7 bilhões em divisas nos últimos 12 meses, alta de 61% sobre igual período de 2020.

O aumento das importações brasileiras de diesel vai na contramão da produção nacional de petróleo, que tem batido recordes sucessivos, em virtude da entrada em produção de novas plataformas na área do pré-sal.

Segundo o Painel Dinâmico da Agência Nacional de Petróleo (ANP), a produção brasileira vem alcançando níveis inéditos desde 2020, chegando a atingir picos de 4 milhões de barris diários.

Em outubro último, a média diária de produção equivalente de petróleo e gás ficou em 3,61 milhões de barris diários.

Segundo a EIA, a agência de informações sobre energia do governo americano, o Brasil foi o único país sul americano que aumentou sua produção de petróleo em 2020.

Entretanto, os EUA também vem alcançando níveis recordes de exportação de petróleo.

Vamos focar aqui em diesel, que em inglês está classificado como “distillate fuel oil” (que engloba outros produtos também, mas principalmente o diesel para caminhão).

O gráfico abaixo deixa bem claro esse novo boom das exportações americanas de diesel nos últimos anos.

O Brasil tem sido um dos principais destinos dos derivados de petróleo produzidos nas refinarias norte-americanas, como mostra o gráfico abaixo, também da EIA.

O Brasil se mostrou um dos mais promissores mercados, sobretudo após a Lava Jato limpar o terreno, forçando o governo a suspender a construção de novas refinarias e as refomas previstas nas que já temos.

Segundo o EIA, a partir de 2015 e 2016, o Brasil saiu da quinta posição, para o segundo principal comprador do diesel americano, atrás apenas do México, que tem uma longa fronteira terrestre com os EUA.

A tabela abaixo, feita igualmente com base nos números da EIA, nos ajuda a ver que o Brasil ampliou dramaticamente as compras de diesel americano a partir de 2016, após a decisão da Petrobras de não mais investir suas próprias refinarias.

Antes de 2016, o Brasil nunca foi o destino de mais de 8% das exportações americanas de diesel. A partir daí, todavia, o Brasil passou ter sua participação crescendo ano a ano; nos últimos quatro anos, o Brasil respondeu por cerca de 15% de todo o diesel exportado pelo Tio Sam.

Com o governo Bolsonaro, a Petrobras parou de apostar na ampliação e modernização de seu parque industrial de processamento, suspendeu a construção de novas unidades, e decidiu vender suas principais refinarias.

As consequências tem sido dramáticas.

A dependência do mercado internacional fez o preço final do diesel aumentar exponencialmente nos últimos meses, sobretudo quando se compara ao poder aquisitivo médio dos brasileiros.

Em termos de salário mínimo, por exemplo, o diesel está em seu pior nível em mais de dez anos. Com uma diferença importante: há dez anos, a produção do pré-sal ainda não tinha amadurecido.

Hoje a gente tem mais petróleo do que nunca antes em nossa história, e mesmo assim nunca foi tão caro abastecer o o caminhão.

O mesmo raciocínio vale para a gasolina, o botijão de gás de cozinha, e o gás natural usado pelas indústrias. Todos são derivados de petróleo e tem experimentado altas de preço similares.

Apesar dos altíssimos preços cobrados nos postos nacionais de distribuição, nossos clientes lá fora não podem reclamar. Estão recebendo do Brasil quantidades crescentes de petróleo de excelente qualidade.

As exportações brasileiras de petróleo bateram recorde histórico nos 12 meses terminados em novembro, gerando quase US$ 30 bilhões, alta de 36% sobre o ano anterior.

Infelizmente, essas divisas frequentemente nem entram no Brasil. Boa parte delas são distribuídas para sócios minoritários estrangeiros, incluindo aí operadores de bolsa em Nova York, ao invés de serem usadas para investimentos em pesquisa e tecnologia, em estudos para desenvolvimento de energias renováveis, e uma política pública de preços que permitissem ao país atravessar o momento sinistro de desemprego e recessão que vivemos. 

Nos primeiros 11 meses do ano (jan/nov), a importação brasileira de diesel representou o custo mais pesado em nossa balança comercial. Foram gastos US$ 6,4 bilhões apenas com diesel, 72% de aumento sobre o ano anterior.

Além disso, de janeiro a novembro o Brasil também importou US$ 3,7 bilhões em petróleo bruto, aumento de 50% sobre o ano anterior. Essa importação também é consequência da falta de refinarias no Brasil, porque o parque de refino que possuímos ainda não foi adaptado, por incrível que pareça, para processar o tipo de petróleo encontrado no pré-sal, de maneira que ainda precisamos importar grandes quantidades de matéria-prima.

A importação de diesel e petróleo bruto, somadas, nos custaram mais de US$ 10 bilhões em jan/nov. Para efeito de comparação, a importação de vacinas para uso humano, no mesmo período, apesar de terem crescido 724%, em virtude da necessidade de combater o coronavírus, não ficou em mais de US$ 2,8 bilhões.

Se somarmos os principais derivados de petróleo importados este ano (jan/nov), que são diesel, petróleo bruto, gás natural líquido, naftas e ureia (usada como fertilizante), o Brasil gastou mais de US$ 18 bilhões, o que corresponde a 9% de todas as importações do país.

Os prejuízos econômicos causados pela animosidade política, ideológica, contra qualquer investimento público em refino de petróleo, nascida com a Lava Jato e com toda a agitação midiática criada em torno da operação, foram incalculáveis.

Para se ter uma ideia, o Brasil tem hoje participação insignificante no mercado mundial de refinados de petróleo.

Segundo o site OEC, o Brasil responde por menos de 1% das exportações mundiais de refinados. Apesar de já ser o sétimo maior produtor mundial, o Brasil está em vigésimo novo lugar no ranking das exportações de derivados ou refinados de petróleo.

Enquanto isso, a Coreia do Sul, que não tem reservas nem produção significativa de petróleo, é a sexta maior exportadora global de refinados!

Alguns países adotaram a estratégia de exportar quase todo o petróleo já refinado.

É o caso da Índia, cujas exportações de petróleo se dão apenas em sua forma industrializada. Cingapura, China, Coreia do Sul também exportam petróleo apenas em sua forma refinada.

Os EUA também adotava messa estratégia até pouco tempo. Hoje os EUA exportam também grandes quantidades de petróleo bruto, mas ainda assim mais de 50% de suas exportações de petróleo se dão na forma do produto refinado.

No caso do Brasil, produtos refinados representam menos de 20% de nossas exportações de petróleo, e mesmo assim, esses números estão inflados porque o Brasil exporta volumes muito expressivos de produtos refinados de baixa qualidade.

Na tabela abaixo, é possível observar a importância do petróleo para a economia global. Em 2019, as exportações mundiais de petróleo, em todas as suas formas, totalizaram US$ 1,7 trilhão.

A Rússia foi o maior exportador mundial de petróleo em 2019, ganhando quase US$ 190 bilhões com a venda do produto, tanto bruto como refinado. Em segundo lugar, veio a Arábia Saudita, que exportou US$ 166,9 bilhões em 2019.

Os EUA vieram em terceiro lugar, mas eles se destacam como os maiores exportadores do mundo de derivados.  Em 2019, os EUA exportaram US$ 84,8 bilhões em derivados, contra U$ 66 bilhões da Rússia, US$ 21,8 bi da Arábia Saudita e apenas US$ 5,7 bilhões do Brasil.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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William

06/12/2021 - 21h58

A Abreu e Lima “nasceu” para refinar o diesel e tá lá…levaram rasteira do Chavez, começaram a assaltar antes de sair do papel e o investimento não se pagará nunca.

Ao invés de nascer foi abortada…do jeito que a esquerda gosta.

A merdalha esquerdista conseguiu dar prejuízo a uma empresa petrolífera que é monopólio num pais de 200 milhões de pessoas.

Hoje a Petrobrás dá lucro e não é mais utilizada para os fins que a gente bem conhece….


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