A entrada de Sergio Moro produziu um estrago possivelmente irreversível nas outras candidaturas da “terceira via”, particularmente as de Ciro Gomes (PDT) e João Dória (PSDB).
Isso já estava claro nas últimas pesquisas, e a Atlas Intel, divulgada há pouco, confirma a tendência.
A pesquisa Atlas divulgada já mostra Moro em segundo lugar entre aqueles que votaram branco ou não foram votar em 2018, atrás apenas de Lula.
Moro chegou a 13,7% e abriu quase 8 pontos de vantagem sobre Ciro (6,1%) nos votos totais.
Com exceção do Nordeste, onde Moro e Ciro seguem empatados com 7%, o ex-ministro de Bolsonaro abriu enorme vantagem sobre o pedetista nas demais regiões do país.
No Sul, por exemplo, Moro já tem 21%, 16 pontos à frente de Ciro Gomes, que tem apenas 5% na região.
O estrago de Moro sobre o bolsonarismo é relevante, mas não devastador. O ex-juiz ainda teria que crescer muito mais para se tornar uma ameaça real ao presidente.
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A Atlas Intel é uma pesquisa realizada inteiramente pela internet, mas tem obtido resultados satisfatórios nas últimas eleições brasileiras.
Os dados foram coletados entre os dias 27 e 29 de novembro. A margem de erro é de 1 ponto para mais ou menos.
Na liderança, temos Lula com 42,8% dos votos totais, no cenário extenso (com mais candidatos), e 43,8% nos dois cenários reduzidos.
Bolsonaro se mantém firme em segundo lugar, com 31,5% no cenário extenso, e 34,3% (sem Moro) e 31,8% (com Moro) nos cenários reduzidos.
É a primeira pesquisa Atlas com o nome de Sergio Moro, que se consolida em terceiro lugar, com 14%.
A principal vítima da entrada do ex-juiz é Ciro Gomes, que cai para o quarto lugar, com 6,1%, uma de suas piores performances desde janeiro de 2021.
Outra vítima é João Dória, que se eclipsa em insignificantes 1,7%, sua menor pontuação no histórico da Atlas.
A Atlas fez ainda dois cenários reduzidos, ou seja, com apenas 4 candidatos em cada. No primeiro, não há Sergio Moro. No segundo, há. A comparação entre os dois cenários mostra que os principais prejudicados com a entrada do ex-juiz são Bolsonaro e Ciro. No caso do presidente, ele perde um pouco mais de 2 pontos, mas continua ainda isolado em segundo lutar. O problema é pior para Ciro Gomes, que cai de 8,5% para 6,6%, distanciando-se ainda mais de um possível segundo turno contra Lula.
A pesquisa também trouxe dados estratificados, por escolaridade, renda, religião, voto em 2018.
O aspecto mais interessante desses números é o crescimento de Sergio Moro junto a setores escolarizados e de renda média.
Entre eleitores com ensino superior, por exemplo, Sergio Moro já tem 21% das intenções de voto, contra 10% de Ciro. No mesmo segmento, porém, Lula lidera com 36% e Bolsonaro tem 27%.
Entre eleitores com renda familiar mensal entre R$ 5.000 e R$ 10.000, Sergio Moro já tem 25% das intenções de voto, contra 8% de Ciro. Lula e Bolsonaro tem 30% neste segmento.
Analisando os votos por região, Lula lidera em todas, inclusive no Sul e em São Paulo. Bolsonaro está em segunda em todas.
Sergio Moro está em terceiro em todas as regiões, com exceção do Nordeste, onde empatou com Ciro Gomes (ambos com 7%). No centro-oeste, Moro já tem 15%, 11 pontos à frente de Ciro. No Sul, Moro já pontua 21 pontos, contra 5 pontos de Ciro. No estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, Moro chegou a 19%, contra 6% de Ciro.
Na divisão por religião e voto em 2018, o destaque vai para a força de Bolsonaro entre evangélicos, junto aos quais ele lidera em intenções de voto, com 47%, seguido de Lula, com 34%, Moro, 11%, e Ciro, 4%.
Entre católicos, porém, Lula lidera com 42%, contra 28% para Bolsonaro, 17% para Moro e 5% para Moro.
Entre quem votou em branco em 2018, Sergio Moro já está em segundo lugar, com 29%, perdendo apenas para Lula, que tem 40% desses eleitores. Bolsonaro tem apenas 4% e Ciro 8%. Entre quem não votou em 2018, Moro também chegou ao segundo lugar, com 22% dos votos, mas ainda muito atrás de Lula, que tem 48% de votos junto a esses eleitores.
Bolsonaro tem 10% e Ciro 8% dos votos de quem não foi votar em 2018.
A pesquisa também trouxe cenários de segundo turno.
Lula ganha de todos.
E Bolsonaro perde de quase todos (ganharia apenas, e com margem apertada, de João Dória).
As vitórias mais folgadas de Lula seria contra João Doria (vantagem de 32 pontos) e Ciro Gomes (21 pontos).
Abaixo, alguns números estratificados dos cenários de segundo turno. Um dado que chama atenção é que Lula tem 60% dos votos de eleitores com renda familiar até 2 salários, contra 29% de Bolsonaro. Bolsonaro apenas ganha de Lula, e ainda sim por margem estreita, entre eleitores com renda familiar entre R$ 2 mil e R$ 3 mil por mês. Na faixas de renda mais alta, como os que ganham acima de R$ 3.000, Lula tem mais votos. Entre quem ganha mais de R$ 10.000, o ex-presidente abre uma vantagem de 24 pontos: 54% X 30%.
A íntegra da pesquisa pode ser baixada aqui.
Francisco
01/12/2021 - 14h40
Observa-se nas pesquisas em questão, que na pesquisa B com Moro (pela primeira vez na série histórica), a opção Moro soma em relação a pesquisa A com a opção Doria, todos os 5,7% eleitores de Doria, 2,5% de Bolsonaro, 1,9% de Ciro, nenhum eleitor de Lula e, pasmem, 4,6% da opção ‘Não Sei, Brancos e Nulos’ (7,8% na pesquisa A e 3,2% na pesquisa B).
Essa observação torna-se por demais ‘interessante’, ao considerar-se que na série de eleições entre 2002 e 2018, as opções ‘Brancos e Nulos’ (não há opção ‘Não Sei’ na urna) apresentaram média em torno de 9% dos votos, sendo o máximo 10,39%, em 2002, e o mínimo 8,41%, em 2006, e portanto os 3,2% nas opções referidas na pesquisa B com Moro, estatisticamente não se sustentam em relação a série histórica das últimas 5 eleições.
Tá mais pra funilaria com martelinho, que estatística de fato.
dcruz
01/12/2021 - 08h01
Ha que se prestar atenção devida a esse Moro. Nesse cara mora todo o perigo de uma continuidade idealizada pelos donos do poder. Ele tem todas as condições de ocupar o lugar do Bozo, seria bem ao gosto das elites, apararia todas as arestas deixadas pelo genocida. Na mente da direita, ainda mais direita do que nunca, “eis o nosso candidato, elegemos um louco, mas esse aí pode perfeitamente cumprir o papel que sempre desejamos”. Portanto, todos aqueles que não querem mais esses farsantes nazistas no poder abram o olho, novo fenômeno bozonazista pode estar sendo gerado. .
Paulo
30/11/2021 - 18h44
Moro passa a ser a alternativa aos extremos, não resta dúvida, o que, aliás, já era esperado. Não sei, porém, se será alternativa para mim. Vamos aguardar!
Tiago Silva
30/11/2021 - 17h19
Ahhhh e o politiqueiro do Moro (que confessa sua prevaricação e corrupção passiva em livro próprio) tem tudo nessa toada para ocupar o Polo da Direita se demonstrando bolsonarista mais viável que o próprio Bolsonaro…
E mesmo sendo improvável sua eleição em 2022… Esse personagem neofascista continuará em evidência em papel semelhante a um Guaidó Brasileiro (e defendendo os mesmos interesses estrangeiros) para atentar o próximo governo todos os dias sem necessitar se associar com o Centrão/Direitão parlamentar que retira votos, para que na eleição de 2026 o PIG o coloque ainda mais como “salvador da pátria” (“Novo Collor”).
O roteiro também parece bem evidente, mas torço para que o Brasil tome jeito e não deixe sob impunidade esse “Juiz Ladrão” (em países como EUA ,Europa estaria ou em Guântanamo ou em prisão perpétua por crimes lesa-pátria) que só tem compromisso com a Antidemocracia, Elitismo e Entreguismo.
Tiago Silva
30/11/2021 - 17h08
Já parecia bem evidente que a estratégia de Ciro Gomes era equivocada (aliás parece também que Ciro e seus assessores não cansam de irem por caminhos equivocados eleitoralmente)…. Só sendo muito cego para não enxergar!
Tentar surfar no “antipetismo” para tentar ganhar votos de uma classe média de sapatênis que sempre teria uma opção mais bolsonarista que o próprio Bolsonaro (Moro, Gentili ou até o Dória que não é também confiável para os eleitores de Direita)… Ou optar por uma estratégia de fanatização nas redes sociais para formar Cirolipasminions (que se assemelhariam em muito a Bolsominions) também é equivocada, pois criariam militontos que não permitiriam coesão ou coordenação na Esquerda. O pior é que Ciro se afastou do Polo da Esquerda por se tornar não confiável para eleitores de Esquerda e nunca conseguiu ser a primeira opção para eleitores de Direita que se frustraram com Bolsonaro.
Em uma sociedade muito polarizada pelo menos desde 2014, querer ser “terceira via” é não entender a realidade brasileira e nem o sentimento do povo que está ou em busca de vingança contra Bolsonaro ou ainda segue esse Mito de forma fanatizada (principalmente entre pentecostais e filhotes/netos da Ditadura).
Moro está buscando se demonstrar mais Bolsonarista que o próprio Bolsonaro ao se colocar como “anti-sistema” (mesmo também sendo representante desse sistema), se colocar como mais neoliberal e até mais neofascista… para se mostrar mais viável contra o perigo da reversão das Deformas e ocupar o Polo da Direita no lugar do Bolsonaro.
Ciro errou em não centrar suas forças desde 2018, mas principalmente desde 2019 em diante contra o politiqueiro do Sérgio Moro e a Farsa-Jato, pois seria uma oportunidade de que os frustrados com o desgoverno Bozo ao invés de fluírem para Moro… irem para Ciro, mas Ciro preferiu se queimar em um “antipetismo” antes do próprio Lula começar a demonstrar suas incoerências (como nessa associação descabida com Alckimin ou outro “Novo Temer”).
O Lula seria melhor copiar o Bidden ao fazer uma campanha com poucos movimentos e tentando aglutinar a Esquerda (como se viu Bidden buscando Bernie Sanders e Kamala Harris ao invés dos Clintons), daí contra o Trumpismo representado por Bolsonaro ou Moro… seria melhor se associar simbolicamente com Bernie Sanders Brasileiros (Requião ou Boulos), ou Obamas Brasileiros (Paulo Paim ou Sílvio almeida) ou Kamala Harris Brasileira (Djamila Ribeiro ou mulheres de força como Marília Arraes)…. Porém, Lula é melhor parado do que se deixar levar pelo pragmatismo exacerbado e burro do PT de SP (Aloprados ou Haddad que contribuiu para o desastre do encontro com Maluf e agora quer outro desastre com Alkimin). E ao invés de tanto cortejar o PSB (se anulando ao colocar Alkimin como “Novo Temer” ou não deixando Marília Arraes ter sua vez em Pernambuco), deveria cortejar Boulos que teria capacidade de ocupar o lugar de Lula no Polo da Esquerda contra o neofascismo de Bolsonaro ou Moro (assim como recentemente na América Latina políticos de Esquerda superam políticos de centro-esquerda e da extrema direita… algo que poderia ocorrer no Brasil a depender do Boulos ou alguém que engaje mais que o pragmatismo petista).
Falta ainda muito tempo para as eleições de 2022 que se definirá mais apenas no período eleitoral do ano que vem, mas uma certeza óbvia é que o Brasil está muito polarizado desde 2014 e que no segundo turno vai quem se demonstrar mais como um Polo na Esquerda ou na Direita e menos como uma “terceira via” para o centro/capital.
#Fica a dica
Lincoln
30/11/2021 - 16h58
Excelente trabalho de análise das pesquisas.
???