CUT e FUP – O genocídio da população negra brasileira, mais afetada pelas altas taxas de mortalidade por Covid-19 do que a não negra, será um dos temas que serão denunciados no dia 20 de novembro, feriado que celebra o Dia da Consciência Negra. Este ano, a mobilização unificou as pautas específicas do movimento negro às lutas urgentes da classe trabalhadora brasileira para fazer grandes atos por Fora Bolsonaro em todo o país.
A gestão e o comportamento do presidente Jair Bolsonaro são responsáveis pela tragédia econômica e social vivida pelos brasileiros e a população negra, por diversos aspectos, é a mais impactada. “Trabalhadores e trabalhadoras estarão nas ruas porque não aceitam mais este governo que já ceifou a vida de mais de 600 mil pessoas, um governo que promove a fome, o ódio e a cada dia, provoca mais tragédias e destruição”, diz o presidente da CUT, Sérgio Nobre, convocando a classe trabalhadora a participar dos atos.
A unificação das lutas neste ato #20NForaBolsonaroRacista, que tem também pautas como a geração de emprego decente, pelo fim da fome e da miséria e contra a política econômica do governo Bolsonaro foi consenso entre as entidades que integram a Campanha Nacional Fora Bolsonaro e as que organizam, já há alguns anos, os atos de 20 de novembro. Entre elas, a Coalizão Negra por Direitos.
A secretária-Adjunta de Combate ao Racismo da CUT, Rosana Fernandes, reforça que as principais pautas da classe trabalhadora, que tornam urgente o impeachment de Bolsonaro, são pautas que, na verdade, impactam mais a população negra. “A fome e a miséria estão nas periferias, onde a maioria da população é negra, discriminada e historicamente com menos oportunidades na sociedade”, diz a dirigente.
Os protestos já estão organizados em mais de 60 cidades até o momento – tanto no Brasil quanto em cidades do exterior. Ainda há coletivos, sindicatos e organizações que estão em processo de preparação de atos, que posteriormente serão divulgados.
Nas redes
Além ruas, os protestos serão feitos também nas redes sociais com a hashtag #20NForaBolsonaroRacista. O secretário de Comunicação da CUT, Roni Barbosa convoca todos que não tiverem condições de ir às ruas neste sábado a se mobilizar nas redes sociais protestando contra o desgoverno Bolsonaro. “Todos aqueles e aquelas que acreditam que uma sociedade mais justa, igualitária, sem discriminação e preconceito é possível, têm de fazer sua parte neste dia – exigir o fim do governo Bolsonaro. Um Brasil melhor só é possível com este genocida fora do poder”, diz o dirigente.
Racismo e Covid
“Não bastassem os índices da violência contra a população negra e a menor expectativa de vida, os números da pandemia mostraram que o índice de mortes por Covid-19 entre negras e negras é maior do que para a população não negra”, afirna Rosana Fernandes.
Um dos dados do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Covid) do Senado, que apurou a a atuação e omissão do governo Bolsonaro no enfretamento desastroso à pandemia, levantado pelo Instituto Polis, mostra que a taxa de mortalidade por Covid-19 entre homens negros era de 250 por 100 mil habitantes enquanto a de brancos era de 157 óbitos por 100 mil habitantes.
Outro dado, do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que negros representam 57% dos mortos pela doença enquanto brancos são 41%.
O Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo também mostra que a Covid-19 matou mais negros do que não negros. Entre esta população, em 2020, 47% dos óbitos registrados tiveram como causa a doença. Já entre a população branca o índice foi de 28,1%.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização que reúne 38 países, entre eles o Brasil, elaborou um relatório que mostra que em nosso país, o risco de morte por Covid é 50% maior para a população negra.
Para a secretária adjunta de Combate ao Racismo da CUT, este é um retrato das consequências do racismo no país, que perdura desde os tempos da escravidão, vinha sendo combatido com políticas afirmativas durantes os governos populares de Lula e Dilma, mas que desde 2019, com Bolsonaro, voltou a ser naturalizado por parte da sociedade.
Ela explica que a pandemia mata mais negros e negras por uma série de fatores, mas há dois que se destacam. “Um deles é o fato de que a vacinação começou na faixa etária mais alta e quem tem a expectativa de vida maior no Brasil, não é a população negra”, diz Rosana Fernandes.
Portanto, sendo os não negros os primeiros a serem vacinados, estes garantiram uma proteção maior contra o vírus do que os negros, que continuaram mais vulneráveis. A expectativa de menor longevidade entre os negros se dá pelas condições vida impostas a essa população. “Os lugares onde não há saneamento básico, água tratada, acesso a serviços públicos são as periferias, onde a maioria da população é negra”, afirma a líder sindicalista.
Além disso, as moradias são precárias, pequenas e com número grande de familiares, portanto, com maior risco de contágio entre os próprios familiares que não têm o ‘privilégio’ de poder manter um mínimo de distanciamento social.
Outro fator para a taxa de mortalidade por Covid-19 ser maior para negros e negras é que esta população também não teve outro ‘privilégio’ – o de trabalhar em casa durante a pandemia.
“Aqueles que não perderam o emprego, tiveram de se sujeitar aos riscos no transporte público, no comércio que continuou funcionando como os supermercados, os entregadores de aplicativos, grande parte dos profissionais que trabalham na saúde como assistentes e na limpeza dos hospitais, assim como os trabalhadores na limpeza pública – categorias em que majoritariamente os trabalhadores são os negros e negras”, pontua a secretária-Adjunta de Combate ao Racismo da CUT Nacional.
Expectativa de vida menor
“Em pleno século XXI, com avanços tecnológicos constantes, toda a modernidade, é um escândalo abrir a porta de casa e dar de frente com um córrego, com esgoto correndo a céu aberto, não ter água potável”. Ao relatar esta realidade, Rosana Fernandes afirma que é grave ainda haver falta de saneamento básico em muitos locais.
A maioria das pessoas expostas a essa condição é negra e a falta de condições mínimas é fator determinante para a degradação da saúde humana, explica a dirigente.
Outra causa é a falta de acesso aos serviços públicos essenciais, como a saúde. “É um problema dos governos municipais, estaduais e federais que investem pouco na saúde pública brasileira. Como a população negra depende disso, fatalmente é prejudicada”, afirma Rosana, que complementa afirmando que muitas vezes o hospital é longe e a pessoa sequer tem o dinheiro do transporte para chegar até lá.
Ela cita como causa da menor longevidade os altos índices de violência contra a população negra. De acordo com o último Atlas da Violência, elaborado pelo Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em dez anos (2008 a 2018), os casos de homicídio de pessoas negras (pretas e pardas) aumentaram 11,5%, enquanto de pessoas não negras apresentou queda de 12,9%.