A sessão especial do Senado, desta sexta-feira (22), comemorativa do Dia do Professor, foi marcada por registros da reinvenção dos professores que, desde 2020, tiveram que se adaptar rapidamente às circunstâncias da pandemia, mas sentem falta do devido reconhecimento.
A sessão foi realizada a pedido do senador Izalci Lucas (PSDB-DF), que também presidiu o Plenário virtual. Ao abrir a sessão especial, Izalci pontuou que começou sua vida como professor e se disse estarrecido com a contínua falta de respeito e de valorização da educação por parte dos governos.
— O que vemos são professores tratados com violência física e moral, além de escolas mal cuidadas e, quase sempre, sem infraestrutura adequada para dar a educação que nossas crianças e jovens precisam. A inversão de valores, neste país, é algo assustador. Como podemos exigir de nossas crianças e adolescentes que respeitem seus mestres se o Estado os trata como se bandidos fossem? — indagou.
Izalci disse que nunca ouviu discurso que não fosse de elogio à educação, mas poucos se dedicam ao assunto quando se trata de investimentos e transferência de recursos.
Presidente da organização Todos Pela Educação, Priscila Cruz, definiu que o professor “não é nem coitado, nem herói”, mas o principal profissional deste país, sendo digno de seguir uma carreira atraente e ter uma boa formação inicial. Ela pediu reconhecimento às dificuldades adicionais enfrentadas pela categoria em decorrência do período de pandemia.
— Os professores tiveram que mudar sua forma de atuação de forma rápida e ágil, e conseguiram se reinventar, garantindo a aprendizagem dos alunos. Claro que agora é muito importante, nesta retomada das aulas presenciais, a gente saber cuidar do professor — opinou, ao cobrar políticas públicas bem implementadas e em aperfeiçoamento contínuo.
Rodrigo de Paula, representando o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), registrou que a suspensão das aulas presenciais, em 2020, levou os professores a improvisar meios de ensino à distância sem nenhum apoio do governo. Para ele, essa precariedade revela as enormes desigualdades do setor educacional e levará o país a regredir na comparação com outras nações.
— Nós temos, até o presente momento, alunos da rede pública que estão há quase dois anos sem assistir aulas, porque o governo não teve competência de se reestruturar, de dar as condições para que os nossos educandos e os professores dessem continuidade.
Ana Elisa de Oliveira Resende, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), também pontuou que os professores “dormiram analógicos e tiveram que acordar digitais” com a pandemia, e defendeu a importância harmônica do professor e da escola na formação geral do cidadão.
— O desafio de garantir a aprendizagem de cada aluno, respeitando a sua particularidade, é muito complicado. Somente professores conseguem ter a capacidade para isso, e creio que as famílias puderam perceber isso durante a pandemia, a importância de um professor que tem uma expertise e que tenha preparo para ensinar — afirmou.
Diretora do Centro de Ensino Fundamental (CEF) Caseb, em Brasília, Angelita Amarante Garcia acrescentou que, diferentemente da percepção corrente, os professores trabalharam muito durante a pandemia e prestaram apoio importante aos alunos que sofreram psicologicamente com o isolamento. Ela pediu um olhar mais sensível da classe política para a valorização da educação e do professor.
— Que o professor não seja só respeitado, mas, sim, valorizado, com melhores condições de trabalho, com melhores recursos e também com melhores salários. Nós precisamos ter também uma paz, uma tranquilidade para poder nos dedicar, dia a dia, à nossa comunidade escolar, à nossa missão. E, para isso, precisamos ser reconhecidos — disse.
Luis Carlos Loyola, professor de português e robótica, ressaltou que na busca do reconhecimento, o professor não quer “ganhar mais”, e sim ter qualidade de vida.
— Isso envolve ele saber que a escola dele tem estrutura, que ele pode acolher os seus alunos, que ele, como professor, tem uma internet que vai funcionar, que ele pode fazer um trabalho mais sério ainda, mais sólido ainda e mais dedicado ainda para que isso dê certo. E tempo: tempo para se preparar, tempo para estudar, para fazer cursos.
Amábile Pacios, vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares de Educação (Fenepe) e membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), também lembrou o grande desafio da retomada da educação no país depois do período de pandemia. A estudante do ensino fundamental, Maria Eduarda Silva Reis, leu mensagem de apoio aos professores no enfrentamento de seus desafios.
Gicileide Ferreira de Oliveira, diretora do Centro de Ensino Especial do Guará (DF) – escola pública que atende a alunos com deficiência, definiu os professores como guerreiros que se doam em prol dos estudantes e alertou para a dificuldade de proporcionar inclusão e autonomia aos alunos em salas superlotadas.
Valquiria Theodoro, mãe e ativista pela educação especial, também citou a pandemia para cobrar adequação tecnológica da área educacional com “engajamento, foco e comprometimento” do poder público. E Maria das Graças de Freitas de Abreu, mãe de aluno do Centro de Ensino Especial do Guará, avaliou que o aprendizado da crise da covid deveria entrar como “uma graduação, uma especialização, um título a mais” nos currículos dos professores.
Fonte: Agência Senado