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Tarso Genro: Só a esquerda íntegra unida, articulada com o centro democrático, salva a República!

Por Tarso Genro Quando deixei de acreditar que um tipo como Bolsonaro jamais poderia ganhar uma eleição no Brasil democrático e passei a indicá-lo como uma “fascista em processo”, aprendi um pouco mais sobre as peculiaridades da História, como fonte de inspiração para analisar como ela, recorrentemente, se “afasta” das determinações da sua base material […]

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Por Tarso Genro

Quando deixei de acreditar que um tipo como Bolsonaro jamais poderia ganhar uma eleição no Brasil democrático e passei a indicá-lo como uma “fascista em processo”, aprendi um pouco mais sobre as peculiaridades da História, como fonte de inspiração para analisar como ela, recorrentemente, se “afasta” das determinações da sua base material e passa a compor um universo muito mais rico e desafiador. Eu me perguntava “mas onde está o partido deste ensaio de fascista?”, até “dar de cara” com uma resposta de Bobbio a Maurizio Viroli, quando ambos debatiam sobre Berlusconi.

Quando quero aprender um pouco mais sobre política e as suas relações com a cultura e a experiência coletiva, tenho por método primeiro consultar Bobbio, Gramsci, depois Hobsbawn e. frequentemente, alguns romancistas russos e americanos do século passado. A resposta de Bobbio a Viroli, no debate, é a seguinte: “O partido de Berlusconi é um partido pessoal em sentido próprio, uma vez que não é uma associação que criou um chefe, mas é um chefe que criou uma associação.” No caso de Bolsonaro, criou mais uma associação criminosa do que uma associação política em sentido próprio.

Na verdade, o fascismo não é uma escola de pensamento político uniforme, recortado sobre uma filosofia própria, (apesar de Mussolini), “é a ausência deliberada de filosofia o que lhe caracteriza” – assevera Polanyi – “pois só na Alemanha o fascismo foi capaz de chegar a essa fase decisiva, na qual uma filosofia política se transmuda em religião” (acrescento) encarnada num partido de Estado. O fascismo “em processo”, de Bolsonaro é uma especificidade do nosso desenvolvimento capitalista tardio e dependente, nos qual as classes dominantes não sofisticaram suas formas de dominação, nem construíram formas institucionais que mediassem de maneira convincente o seu ódio à igualdade e o seu desprezo à liberdade.

Talvez também em função da sua origem escravista não conseguiram formar partidos estáveis e históricos, capazes de armazenar sua autoridade de classe dirigente, substituindo-a – nesta hipótese – por outros aparatos, articulações sociais e comunicativas que respondessem diretamente ao estímulo de quem organiza, no plano global, as necessidades do complexo das classes dominantes no mundo.

Recordando as centenas de matérias que o “sistema Globo” tem divulgado sobre os desgovernos do bolsonarismo, pode se ter a falsa impressão de que os destinos democráticos e republicanos do país estão nas mãos generosas do “partido do mercado”. A impressão é falsa, pois para este não interessa a natureza do regime, nem a sua taxa de democracia possível, mas qual a opinião das agências de risco e qual o humor dos investidores em busca da maior rentabilidade, alheios a estas “bobagens” de “direitos humanos”, fome e liberdades públicas.

O mercado, na verdade, com suas estruturas de poder fincadas dentro do próprio Estado, nas agências de risco e nas organizações políticas (e frações destas) – com suas lideranças que despontam na mídia – não tem nenhuma preocupação com a democracia, muito menos com a República. Seu “espírito absoluto” são os fluxos do capital financeiro: república e democracia são, hoje, demandas integrais da esquerda, não do liberalismo político do século passado.

A busca dos caminhos “democráticos” pelos ex-liberais clássicos é limitada, na verdade, às condições de utilização das estruturas institucionais da democracia e do seu poder político, para facilitar o processo de acumulação de capital pelo rentismo

sem trabalho; ou melhor, eles – os liberais ex-clássicos – que não aportaram no Estado Social, são indiferentes aos que vivem do trabalho, na sua acepção do século passado. Alguns o fazem – é verdade – numa forma mais “civilizada”, outros – todavia – são fãs da barbárie miliciana, indiferentes à fome e atuantes no negacionismo remunerado. Estes últimos conformam ideologicamente a maioria das “elites” econômicas do país.

Quais os fatos dão sustentação a este juízo sobre a postura dos liberais economicamente “radicas”, hegemônicos no país, tanto no que toca à questão democrática como no que diz respeito à questão republicana? Eles estão indicados numa pergunta chave, cuja resposta faz a ponte das grandes políticas das classes dominantes locais – nos dias de hoje – com a ética dominante nos estratos superiores da sociedade política. Ei-la: por tudo que Bolsonaro fez e disse, na sua vida pregressa, em defesa da morte, da tortura e do fascismo, somados a sua supina ignorância em economia, política e história – além de ser um grande mal-educado – seria possível que pessoas educadas, mentalmente sadias não projetassem o que seria um Governo dele?

Ao levantar essa dúvida, mais do que uma questão atinente à capacidade cognitiva das ditas elites, o que se questiona é o que realmente elas queriam de um Presidente. Suponho, neste contexto, que elas queriam exatamente este Presidente que temos agora, porque só ele – na sua incompreensão militante do todo – seria capaz de aliançar o autoritarismo fascista com o reformismo ultraliberal dos aventureiros de Chicago, testados previamente na ditadura de Pinochet.

Ao dizer isso não se reputa que a Globo não esteja exercendo uma função importante, se opondo politicamente ao bolsonarismo, tal qual ele se apresenta no cenário local e global, em função dos monstruosos crimes que o Presidente tem praticado. As denúncias das mortes em série – provocadas pela política charlatã do Governo em relação à Covid – tem importância na luta imediata pela democracia, mas (reparem!), para a Globo desde que esta luta não implique em renunciar à liquidação das funções públicas do Estado e suspender as reformas destrutivas do Estado Social do Pacto de 88, que o bolsonarismo tem praticado religiosamente.

O problema estratégico que temos que desvendar, todavia, integra a questão democrática com a questão republicana. Ambas hoje, estão ancoradas na necessidade de liquidação do fascismo bolsonárico (protofascismo ou neofascismo), articuladas na liderança do “chefe”, ao mesmo tempo distópico e fanático. Ele casa – em sua sinistra personalidade -, a distopia antirrepublicana e o fanatismo antidemocrático. Bolsonaro tem, atrás de si, um conjunto de “trincheiras e casamatas” no Estado, que afastam o cidadão comum da ação política e o fazem descrer de políticas tolerantes e inclusivas.

Só uma esquerda unida em torno, em primeiro lugar, da democracia política como dogma e, em segundo lugar, em torno da República de 88,como projeto histórico, pode bloquear o fascismo. E assim recuperar e fazer vencer a agenda majoritária da luta contra a fome, a agenda ambiental, do crescimento e do emprego, a defesa da soberania da nação como cooperação interdependente. Isso interessa a um campo político mais amplo do que a esquerda: o grande campo que pode esvaziar o fascismo e retirar o que não é centro – é centrão – da tutela política do país e do domínio do orçamento da República.

(*) Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil.

Texto publicado originalmente no portal Sul21

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Paulo

18/10/2021 - 20h03

Quero passar longe dessa “república” q ele imagina.

Paulo

18/10/2021 - 09h40

Só a esquerda salva a República? Que o diga o projeto de PEC que altera a composição e forma de escolha dos membros do CNMP, de autoria do “camarada” Paulo Teixeira, que jogará a última pá de terra sobre as esperanças de coibir a criminalidade política no Brasil, não é mesmo, sr. Tarso Genro? Como diria Carlos Drummond de Andrade, fatigado de mentira…Aliás, sobre essa PEC, por que será que os petistas empedernidos do Blog nunca se manifestam? Eu só queria…Compreender…Será que só o Paulo e mais um ou dois aqui não têm temas interditos?

Marco Vitis

18/10/2021 - 00h04

Uma dúvida relevante:
o título cita “Só a esquerda ÍNTEGRA unida”. Mas no texto o adjetivo ÍNTEGRA não aparece. Por que essa inconsistência ?
Já que o texto oculta o adjetivo fiquei sem saber quem compõe a tal “esquerda íntegra”.

Netho

17/10/2021 - 23h07

Ululante o silêncio em relação ao Lula e, não por coincidência, a menção à “esquerda íntegra”.

EdsonLuiz.

17/10/2021 - 20h13

Só alguns ‘drops’ para refrescar os seguidores de farsantes como Tarso Genro:

Designar bolsonaro como fascista, protofacista ou a designação sinônima do que é bolsonaro vai coincidir entre todos os democratas saudáveis. Mas essa designação não será coerente nem legítima se quem estiver designando for um agente político fascista que entregou dois pugilistas que se arriscavam para conquistas a liberdade ao regime ditatorial cubano.

E mais: Tarso Genro entregou os pugilistas cubanos à ditadura que ele apóia; já o assassino italiano Cesare Battisti, que a democracia italiana solicitou ao Brasil e a Tarso Genro que devolvesse para ser julgado pelas crimes bárbaros que praticou, Tarso protegeu esse assassino aqui no Brasil.

Quando o PT saiu do poder, o assassino Cesare fugiu do Brasil para a Bolívia e, incrível, o regime boliviano entregou o assassino à democracia italiana para ser julgado.

O termo ‘fascista’, muito aplicado a quem é de extrema-direita, encontra muita correlação com práticas da extrema-esquerda também. Aplica-se a bolsonaro e fica assimilada a qualquer prática autoritária de jagunços políticos.

Mas vejam, e não com surpresa: o fascista bolsonaro, em seus sete mandatos como deputado federal, desde quando bolsonaro era oposição junto com o PT aos governos até quando o PT já era governo também, ele, o fascista bolsonaro votou 86% de todas as propostas nesses 28 anos junto com o PT. Sim, 86 de votos do PT nesse tempo coincidem com os votos de bolsonaro. E bolsonaro era eleitor de Lula. Não se espantem! Eu jamais vou mentir ou distorcer fatos e dados. Podem conferir!

Eu poderia debulhar os números da economia corretos que esses pulhas do PT e do bolsonarismo praticaram juntos e que levou à tragédia que temos vivido, com toda a dinâmica desastrosa criada na economia pelo PT e continuada por bolsonaro, mas o tempo vai ser imenso e os drops serão muito amargos.

Não se iluda com farsantes, mesmo quando aparecem com esse raciocínio enganador que Tarso Genro usa.

*Ainda bem que fascismo de esquerda ou de direita não é coisa genética nem geográfica: o que em Tarso Genro é assimilado a fascismo não se aplica a sua filha Luciana Genro, que foi candidata a presidenta pelo PSOL nas eleições de 2014. Também não se aplica ao digníssimo Olívio Dutra, ex-governador do Rio Grande do Sul pelo PT.

Eu mesmo sou neto de um português nascido na mesma aldeia de Salazar e dele contemporâneo. Vovô determinava a vovó, aqui no Brasil, costurar camisinhas infantis verdes para o seu timinho de futebol Serra da Estrela Futebol Club, mas nem a genética nem a geografia fez de mim um fascista.

Viva Olívio Dutra!
Viva Luciana Genro!
Viva para a partezinha do PT que é progressista!
Uma vaia para Tarso Genro!

edsonmaverick@yahoo.com.br

Galinzé

17/10/2021 - 12h33

“O maior exemplar do fascista hoje é quem, autoproclamado antifascista passa o tempo a chamar de fascista bem quem fascista não é.”
(Leonardo Sciascia)


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