O objetivo é reforçar o papel estratégico e importante da companhia não apenas para a produção e o abastecimento de combustíveis, mas para a sociedade civil e o desenvolvimento econômico e social do nosso país
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos filiados estão promovendo em todo o país o “Ato Nacional Contra as Privatizações e Precarização das Condições de Trabalho na Petrobrás’. A manifestação unificada conta com a participação de representantes da categoria e de movimentos sociais, além da Central Única de Trabalhadores (CUT).
“O nosso objetivo é reforçar o papel estratégico e importante da Petrobrás não apenas para a produção e o abastecimento de combustíveis, mas para a sociedade civil e o desenvolvimento econômico e social do nosso país”, afirma o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, que participou de dois atos realizados no Paraná. Nesta sexta-feira (15/10), marcou presença na Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), em São Mateus do Sul, e no dia 14/10 esteve na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária.
“Da Bahia (RLAM) ao Rio Grande do Sul (REFAP), estamos reforçando que esse processo de privatização faz mal ao país, que retira a riqueza das mãos do povo para transferir ao capital financeiro internacional. Se a Repar ainda não foi vendida é por causa da resistência e da luta que vêm sendo feitas nas portas das fábricas, com os trabalhadores demonstrando que são contrários à privatização e à precarização”, destaca Bacelar.
Ele lembra que as manifestações unificadas contra a venda dos ativos da Petrobrás acontecem desde agosto de 2021. Os atos já foram realizados no Rio Grande do Sul (Refinaria Alberto Pasqualini/Refap); Pernambuco (Refinaria Abreu e Lima/Rnest), São Paulo (Refinarias de Paulínia/Replan e Capuava/Recap); Minas Gerais (Refinaria Gabriel Passos/Regap; Bahia (Refinaria Landulpho Alves/Rlam); Rio de Janeiro (Refinaria Duque de Caxias/Reduc). No dia 29 de outubro, está prevista uma manifestação na porta do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no município de Itaboraí.
“A população precisa ter a clareza que as empresas estatais não devem ter o objetivo exclusivo de obter lucro apenas pelo lucro, pois são empresas que têm como acionista majoritário o Governo Federal. No caso da Petrobrás, a principal razão de sua criação foi a de assegurar a independência nacional em termos de abastecimento de petróleo, inclusive proporcionando combustíveis a preços razoáveis para fortalecer e expandir a cadeia produtiva – além de gerar milhares de empregos em todo o país. A atual gestão da Petrobrás, não satisfeita em garantir lucros altos apenas para os acionistas da companhia, esquece o seu papel social e continua a reduzir a quantidade de trabalhadores próprios e terceirizados. O resultado é a queda da massa salarial, da renda e também dos empregos, em um país com 15 milhões de desempregados”, lembra Bacelar.
O presidente do Sindipetro Paraná e Santa Catarina, Alexandro Guilherme Jorge, ressalta importância da unidade da classe trabalhadora. “Sabe quando não tem diferença de cor de crachá ou de uniforme? É quando você não tem emprego. Você vai fazer o que for preciso para dar sustento para a sua família. A nossa unidade tem que ser para termos trabalho e dignidade. Por isso a gente enfrenta e faz o que for preciso”, afirma Jorge.
Roni Barbosa, secretário nacional de comunicação da CUT, em sua fala durante a manifestação da Repar, destacou alguns acontecimentos recentes que foram marcantes na unidade. “Cerca de 150 trabalhadores da empresa GE que prestavam serviços na Repar foram demitidos e não receberam nada da rescisão do contrato de trabalho. A mesma coisa está acontecendo com a Método Potencial, que tinha 270 trabalhadores em atuação na refinaria, mas já demitiu 150, não pagou os direitos trabalhistas e atrasou os salários dos 120 que ficaram. Tínhamos uma cláusula no ACT (Acordo Coletivo de Trabalho) dos petroleiros que garantia a retenção de um valor do contrato de prestação de serviço para, pelo menos, pagar os direitos rescisórios dos trabalhadores. Agora os trabalhadores estão chamando a Petrobrás na Justiça e a empresa está simplesmente lavando as mãos. Precisamos reagir antes do calote acontecer, porque a Petrobrás também tem responsabilidade”, afirmou Barbosa.
Apesar de as terceirizações ocorrerem desde a década de 1980, a entrada de empresas privadas em atividades-fim na Petrobrás começou em 2016. A estatal, que em 2013 contava com 86 mil funcionários próprios, hoje conta com pouco mais de 41 mil empregados em seu quadro. Em contraponto à diminuição drástica de concursados, o número de terceirizados aumentou, chegando a 92 mil – quase o dobro do número de trabalhadores próprios. Segundo Cloviomar Cararine, economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), “em 2000, eram cerca de 50 mil terceirizados na Petrobrás. A partir de 2004 e 2005, subiu para 150 mil e em 2013 atingiu o ápice: 360 mil terceirizados”.
De acordo com o Cararine, esse crescimento é explicado pelo investimento feito em governos petistas na estrutura e logística da empresa. “Eram muitas obras de expansão, que faziam esse número subir cada vez mais. Por exemplo, se vai fazer uma reforma na refinaria, você contrata uma empresa e, junto, vem mais terceirizados. Isso gera esse boom de terceirizados”, aponta o economista, que também destacou que “com a queda de investimentos, com as obras paralisadas, cai o número de terceirizados. Entretanto, começa um movimento, que é terceirizar a produção mesmo, a atividade-fim. A partir dos anos 2000, começa a entrar terceirizado em áreas de manutenção, setor que até então era exclusividade do efetivo próprio. Não era ainda a atividade-fim, pois eles não estão tiram petróleo, mas fazem a manutenção das máquinas. A partir do golpe de 2016, você passa a ter a substituição de servidores por terceirizados em atividades próprias da Petrobrás”.