Muitos apoiadores do ex-ministro e pré-candidato a presidência Ciro Gomes (PDT) falam, em tom de crítica obviamente, sobre a reaproximação do ex-presidente Lula com caciques do MDB que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff.
É lógico e natural que essa movimentação do petista é passível de críticas, isso faz parte do jogo democrático, principalmente dos seus virtuais adversários.
Mas por outro lado, os apoiadores de Ciro usam isso como cantilena moral para dizer que o pré-candidato do PDT carrega uma “pureza” e que em nome de uma “superioridade esquerdista” o ex-ministro não quer aproximação com esses grupos políticos.
Isso não faz sentido nem mesmo para os propósitos eleitorais de Ciro que já declarou abertamente que deseja montar seu palanque com partidos que apoiaram claramente o impeachment da petista. São eles: PSD de Gilberto Kassab e o DEM de ACM Neto que em breve dará lugar ao União Brasil.
Além disso, é prudente se perguntar que tipo de tratamento Ciro Gomes daria ao Congresso Nacional, enquanto presidente da República, se caso os partidos vistos por ele e sua militância como inimigos, imorais e golpistas fossem maioria nas duas Casas.
Não é preciso ter diploma de cientista político para saber que ninguém governa sozinho, ainda mais num país que estará em clima de terra arrasada após a passagem de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Parafraseando o próprio Ciro, “não será tarefa de anjo”, será necessário muito diálogo, humildade e paciência.
Mas enquanto os ciristas reforçam a cantilena sobre PT e MDB, é preciso se questionar quantas alianças ou conversas o pré-candidato Ciro Gomes maturou até o momento? Quantos partidos, movimentos ou lideranças sinalizam que devem apoia-lo? E para os governos estaduais, o PDT está apresentando nomes com chances de vencer somente com o apoio de Ciro?
Os fatos mostram que o próprio pedetista cria atritos que o impedem de avançar. Em outras palavras, posso analisar com tranquilidade que Ciro Gomes joga a casca de banana para ele próprio escorregar. O seu último deslize foi dizer que estava seguro que Lula trabalhou pelo impeachment de Dilma.
“Hoje eu estou seguro que o Lula conspirou pelo impeachment da Dilma. Estou seguro por tudo que eu tinha visto lá dentro [nos bastidores] e não compreendia”, disse no podcast do Estadão. Sendo bem sincero, nem ele acredita nisso.
Uma das coisas que o diferenciava nas eleições de 2018 era sua defesa incansável de um Projeto Nacional de Desenvolvimento. Essa movimentação se converteu em votos (de esquerda, majoritariamente) e o pedetista conseguiu o êxito de ficar em terceiro lugar. Quem trabalha com política sabe que nem todo candidato tem a capacidade de conquistar mais de 13 milhões de votos numa eleição altamente polarizada.
Sendo assim, ninguém coloca em cheque os conhecimentos de Ciro Gomes sobre os problemas do Brasil, ele é um quadro preparado e importante para o debate, mas não tem como negar que sua artilharia verbal tem feito com que muitos eleitores se declarem arrependidos ou até mesmo envergonhados de terem dado sua confiança e voto ao ex-governador do Ceará.
Por fim, só posso imaginar que se o filósofo chinês Confucio estivesse frente a frente com Ciro Gomes é provável que ele diria ao pré-candidato do PDT uma frase simples, mas grandiosa. “A humildade é a base sólida de todas as virtudes”.