Haddad ao Cafezinho: se continuar atacando Lula, terceira via pode ajudar a reeleger Bolsonaro

Hoje tive a oportunidade de conversar por cerca de trinta minutos com o ex-ministro Fernando Haddad, sobre diversos assuntos: eleições para o governo de São Paulo, aliança com PSB, Ciro Gomes, estratégias da terceira via.

Foi uma entrevista por telefone meio de surpresa, em tom de conversa, então o conteúdo segue em forma de artigo, com algumas aspas.

PSOL

Haddad me ligou após eu lhe enviar perguntas sobre um suposto tensionamento entre PT e PSOL em torno da disputa pelo governo de São Paulo.

Há três dias, a Monica Bergamo publicou nota intitulada “Exigências do PSOL para apoiar Lula desagradam lideranças do PT”.  Hoje a coluna de Guilherme Amado traz informações no mesmo sentido.

Segundo Haddad, houve um mal entendido porque não haveria – é Haddad que diz – essa exigência, por parte do PSOL.

A situação de São Paulo, diz o petista, é muito complexa, em virtude do seu tamanho, e do peso que o estado tem na eleição nacional.

Para o petista, as duas legendas poderão ter candidaturas separadas, sem que isso impeça, necessariamente, uma aliança nacional em torno de Lula.

Ele assegurou que o diálogo entre os dois partidos permanece muito bom.

Passei a tarde hoje tentando falar com o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, para confirmar essas informações, mas ainda não consegui até o fechamento da matéria.

São Paulo

Para Haddad, a oposição nunca teve um momento tão bom em São Paulo, e que há perspectivas reais de alternância de poder pela primeira vez em décadas.

O ex-ministro lembrou que até mesmo a realização de segundo turno foi um fenômeno raro no estado, acontecendo apenas duas vezes, uma vez com Genoíno, outra com Marcio França.

Haddad disse que um dos cenários prováveis é que PT e PSOL sigam, cada um, com suas candidaturas, mas com um acordo pre-estabelecido de se unirem no segundo turno, o qual, segundo o petista, será “muito bonito”.

PSB

Falamos também da aliança entre PT e PSB. Haddad ponderou que, apesar de não haver nada fechado ainda, os diálogos já estão muito “avançados”.

Haddad confirmou que a aliança com o PSB é uma das prioridades do PT, e que se ela tivesse sido feita em 2018, talvez o destino das eleições fosse outro.

Haddad disse que o PT tem expectativa de montar um bloco formado por PSB, PSOL, PCdoB e Pros, partidos com os quais os diálogos estão mais avançados, o que daria uma boa musculatura à campanha de Lula.

Conversamos também sobre a entrevista que Marcio França deu ao Valor, no qual ele sugere que o apoio do PT a sua candidatura para governador ajudaria a consolidar a aliança nacional entre os dois partidos.

Haddad disse que não leu a entrevista, mas recebeu informações sobre seu conteúdo. Deu uma risadinha ao mencionar o fato de que o PSB, assim como o PSOL, também quer o apoio do PT. Mas desconversou sobre a possibilidade de um apoio a França em São Paulo, dizendo apenas que tem um excelente diálogo com o socialista, sinalizando que algum tipo de acordo – não necessariamente apoio a sua candidatura – poderia ser feito.

Terceira via

Para Haddad, os candidatos da terceira via identificaram que, ao contrário do que se esperava, os votos dos bolsonaristas arrependidos não estão migrando para candidatos não-petistas, e sim para Lula, e eles tentam interromper esse processo.

Por isso, o fogo cerrado em Lula, sobretudo da parte de Ciro Gomes.

A terceira via está preocupada, segundo Haddad, que Lula possa ganhar no primeiro turno, e por isso o ataca.

Haddad admitiu, todavia, que os ataques crescentes a Lula podem enfraquecer o petista e beneficiar o presidente Jair Bolsonaro.

“Se Lula chegar fraco ao segundo turno, Bolsonaro pode ganhar”, alertou.

Segundo Haddad, diante do risco da barbárie de um governo Bolsonaro, é preciso responsabilidade.

Ciro

Conversamos também sobre Ciro Gomes.

Para Haddad, o pedetista é “fraco de análise política”, porque dizia, há poucas semanas, que Bolsonaro não completaria seu mandato, e o que vem acontecendo é o contrário:  Bolsonaro segue forte e até vem crescendo um pouco nas pesquisas.

Haddad disse que, após as vaias e agressões a Ciro Gomes, se solidarizou imediatamente com o pedetista, mas que ele “colheu o que plantou”.

“O sujeito planta, planta, planta, três anos fazendo agressões a mim, ao Lula, e ao PT. Uma hora colhe”, disse.

“A gente até fala para o pessoal não fazer, mas não é possível controlar”, disse o petista.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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