Para César Maia, fusão entre PSL e DEM criará legenda mais à direita

O vereador do Rio, César Maia, que ainda compõe os quadros do DEM, avalia que a fusão do seu partido com o PSL vai ocasionar num super partido mais alinhado as pautas da direita.

“Pelo que tenho acompanhado, a fusão formará um partido de direita e não de centro-direita. O DEM estava indo por um caminho de centro e optou por migrar para a direita. É uma decisão com foco apenas nas eleições de alguns governadores e deputados”, disse ao O Globo.

Leia a entrevista na íntegra!

De zero a dez, qual a chance da fusão entre DEM e PSL realmente se concretizar nos próximos meses?

Sete. Temos que aguardar os desdobramentos, especialmente nos estados. As informações que tenho recebido é que a escolha dos presidentes dos diretórios estaduais será confusa. Veja o caso do Rio. Um acordo de ACM Neto com o pastor Silas Malafaia levou o deputado Sóstenes Cavalcante à presidência do DEM no Rio. Mas, se houver mesmo a fusão, o presidente será o Waguinho, prefeito de Belfort Roxo pelo PSL. Em São Paulo, difícil saber como vai se resolver. Esse processo de fusão vai demorar no mínimo 90 dias.

A união dos dois partidos é boa para a centro-direita brasileira?

Pelo que tenho acompanhado, a fusão formará um partido de direita e não de centro-direita. O DEM estava indo por um caminho de centro e optou por migrar para a direita. É uma decisão com foco apenas nas eleições de alguns governadores e deputados.

O senhor acha que ACM Neto foi desleal com seu filho Rodrigo Maia em fevereiro na questão da liberação da bancada do DEM para apoiar Arthur Lira na disputa pela presidência da Câmara com Baleia Rossi?

Não tenho como avaliar. Mas os fatos posteriores mostram que havia uma pressão para empurrar o DEM para direita. Rodrigo já ocupava explicitamente o campo do centro.

O senhor sairá do DEM assim como Rodrigo?

Sair do partido sem fusão exigiria uma solução jurídica com advogados de um lado e outro. Com fusão não haverá complexidade. Bastará uma escolha.

A relação ruim de Gilberto Kassab com Rodrigo Maia não torna difícil a ida de vocês dois para o PSD, movimento feito pelo prefeito e aliado Eduardo Paes?

São dois profissionais e sabem bem que não estarem longe é bom para os dois.

Como o senhor acha que Bolsonaro chegará para a eleição de 2022?

Na balança de probabilidades, o mais provável é desistir da candidatura sem decepcionar seu time por ficar fora do segundo turno. E desenhará uma desculpa para seus aficionados : tipo, “assim não dá para governar”. Ele já vem repetindo esse discurso. Sem Bolsonaro, Lula perderá o sparring preferencial e começará a perder musculatura. O quanto perderá depende da qualidade política das alternativas e dos discursos propositivos oferecidos. Não seria surpresa se a eleição de 2022 ocorresse em torno de outros dois nomes excluindo Lula e Bolsonaro. Em junho de 1994, Lula estava eleito. O Plano Real em julho desmanchou seu favoritismo. Fernando Collor só surgiu na pesquisa para valer também em junho. Ambos os casos no ano da eleição. Falta muito ainda.

Como avalia os outros nomes cogitados para a Presidência até o momento?

Na disputa do PSDB entre João Doria e Eduardo Leite, não vejo como São Paulo deixará de disputar a cabeça. Basta ver toda a história da República. Há também que se aguardar a decisão de Rodrigo Pacheco e esperar ele esquentar nas pesquisas. A opção por Minas Gerais é inteligente. Abre um caminho. Trata-se do segundo colégio eleitoral do país.

Pacheco deixará o DEM?

Acredito que sim. Segundo se diz, a conversa com o PSD avançou muito. E, como senador, ele pode mudar de partido quando quiser.

E o seu correligionário Luiz Henrique Mandetta, alguma chance de ser candidato ou vice em outra chapa?

Se vier a fusão da forma anunciada, não vejo espaço para ele. Esse novo partido será criado para eleger deputados apenas.

O que tem achado da estratégia de Ciro Gomes de bater tanto em Lula quanto em Bolsonaro?

É uma escolha apressada imaginando que o desgaste de Lula em função do Lava-jato abriria um vetor para ele. Acho uma estratégia equivocada.

Foi essa, aliás, a estratégia do MBL nas manifestações do dia 12 de setembro, que levou um público muito baixo para as ruas. Está errado ser contra Lula e Bolsonaro ao mesmo tempo?

Certamente errado. Mas se deve ir bem além do anti-Bolsonaro. A crise brasileira múltipla exige a escolha de uns três ou quatro temas propositivos. Emprego entre eles. O desemprego entre os jovens está em 30%.

Não acha que a economia melhora um pouco ano que vem e ajuda a melhorar a popularidade de Bolsonaro?

É claro que não. Dois exemplos: o minério de ferro caiu 47% de julho para cá e o agronegócio ficará sem parceiro “primário”. E mesmo que façam um novo bolsa-família turbinado, programas de transferência de renda precisam estar lastreados em confiança e esperança. As respostas relativas a estes dois vetores nas pesquisas recentes de DataFolha e Ipec mostram que estamos longe disso.

O senhor descarta o impeachment?

Sim, pela estrutura de comando e minoria na Câmara. A proximidade das eleições não ajudará a formar maioria de dois terços. Ele ainda se mantém com mais de 20% de avaliação de ótimo e bom devido a força do seu cargo. Mas, quando vier a aproximação da perda da Presidência, esse quadro muda.

Não teme que cenas como a tentativa de invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, se repitam em 2022 no Brasil?

A situação política é muito diferente. Donald Trump contava com pouco menos da metade dos eleitores. Bolsonaro hoje conta com um quinto da população.

Como analisa a disputa pelo governo de São Paulo?

Só quando Rodrigo Garcia for percebido como governador é que se conhecerá o quadro eleitoral efetivo.

Acredita em uma candidatura Geraldo Alckmin forte ?

Em geral o governador de São Paulo conta com forte apoio no Interior. Alckmin fora do governo terá uma tarefa árdua para compensar a região metropolitana.

Guilherme Boulos ou Fernando Haddad, quem é o nome mais competitivo para a esquerda?

Tende a ser o Haddad colado no Lula e amaciando o discurso para a classe média e o empresariado.

Como analisa a disputa para o governo do Rio?

Uma eleição no Rio sempre tem um quadro múltiplo. Acho muito pouco ainda apenas os três nomes colocados até agora (Cláudio Castro, Marcelo Freixo e Rodrigo Neves). Imagino que Freixo vá até o fim e fará uma campanha olhando a candidatura a prefeito dois anos depois. Castro fez uma montagem multipartidária. Há um risco grande dessas alianças se desintegrarem se as pesquisas apontarem para um quadro adverso.

Acredita em fatos novos como a candidatura do vice-presidente Hamilton Mourão ou do prefeito Eduardo Paes?

Mais provável que Mourão termine como candidato a deputado federal evitando riscos maiores. E Se Paes estivesse pensando nisso teria escolhido um vice próximo e com lastro. Em 2024 fará isso e irá para governador depois.

O senhor pode se aventurar a ser candidato a algo em 2022?

Estou feliz como vereador com três mandatos.

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