Discurso de Bolsonaro facilita sua condenação em tribunal internacional

Todo mundo sabia que o presidente Jair Bolsonaria iria vomitar um bocado de besteiras na abertura da Assembleia Geral da ONU.

Mesmo assim, não foi possível conter a perplexidade.

Bolsonaro se superou. A sua fala não é apenas repleta de mentiras, como também entra o tempo inteiro em contradição com o que ele mesmo diz.

Por exemplo, ele usou o palanque da ONU para atacar governadores e prefeitos de seu próprio país, culpando-os pelo desemprego causado pelas medidas de isolamento social.

Ao fazer isso, Bolsonaro deixou claro, para o mundo, que se posicionou contra iniciativas de combate a pandemia, pois nesse momento, o distanciamento social era a única maneira eficiente conhecida, preconizada pela própria ONU, de conter o vírus.

Por que razão os países fecharam suas fronteiras? Por que razão, até hoje, todos os países desenvolvidos, incluindo os EUA, exigem passaportes sanitários? Não é justamente para evitar que pessoas não vacinadas entrem em seu território e espalhem o vírus pelo país?

Ao ir a Nova York sem estar (ao menos publicamente) vacinado, Bolsonaro agrediu os Estados Unidos, que exigem a vacinação de qualquer um que queira entrar no país, agrediu o povo de Nova York, que perdeu milhares de cidadãos para a Covid, e que hoje gasta milhões de dólares com intensas campanhas de vacinação, além de exigir passaporte sanitário para se entrar em recintos fechados, e agrediu a própria ONU, que também pediu, para todas as autoridades, que apenas entrassem no recinto da instituição devidamente vacinados.

Bolsonaro usou o palanque da ONU para falar a seus eleitores mais radicalizados, talvez como forma de minimizar o estrago à sua popularidade entre os mesmos quando divulgou um pedido de “desculpas” por seus exageros retóricos durante o 7 de setembro.

O discurso inteiro foi vergonhoso. Bolsonaro o iniciou com ataques autoritários à imprensa e à mídia, dizendo que os ouvintes poderiam ouvir, de sua própria boca, a “verdade” sobre o Brasil. É a retórica de um tiranete de república de banana.

Bolsonaro atacou governos anteriores do Brasil, o que é bizarro. Ao trazer a luta partidária nacional para o palanque da ONU, o presidente mostrou que não tem a mínima ideia do que significa a Assembleia Geral.  Mas ele fez pior: ele fez ataques gratuitos e generalizados a regimes de orientação “comunista” ou “socialista”, sem atentar que diversos países que tem assento na ONU, podem ser assim classificados. Entre esses países, por exemplo, temos a China, que é a principal parceira comercial do Brasil.

Por que não fez ataques à ditaduras monárquicas, como Arábia Saudita?

Entretanto, nada foi mais chocante na fala de Bolsonaro do que sua defesa insana do “tratamento precoce”, somado a um ataque a “países e mídia” que se posicionaram ao lado da ciência.

A fala de Bolsonaro, ao menos, serviu a um importante propósito: deixar claro, para o mundo inteiro, que Bolsonaro é um negacionista, um irresponsável, tem sérios problemas cognitivos.

Esse discurso servirá como uma das provas mais contundentes para o julgamento internacional que Bolsonaro seguramente enfrentará.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.