Por Gilberto Maringoni
A entrevista de Gilmar Mendes à Folha mostra que a operação Michel Temer vai muito além da redação de uma nota de recuo para Bolsonaro. Trata-se de um movimento mais abrangente, que lança uma bóia de salvação para o boçal e uma justificativa para a direita liberal (que inclui o centrão) não largar o osso. O operativo visa atravessar 2022 com Bolsonaro no palácio e gestar uma sucessão com um candidato conservador viável eleitoralmente, que pode ou não ser o capitão. A articulação envolve também setores do empresariado.
Há outro setor da direita que resolveu adotar tática distinta para a sucessão. Decidiu romper com o governo e busca construir um nome viável a partir de fora. Essas facções estão entre as articuladoras do ato do dia 12 e ensaia engrossar o pedido de impeachment do presidente.
Não há ainda pesquisas disponiveis para se avaliar o isolamento de Bolsonaro após o 7 de setembro. Tudo indica que aumentou. Contraditoriamente, a margem para o impeachment se reduziu, com a operação Temer.
Esta semana demorará a terminar. Bolsonaro é absolutamente incontrolavel e nada indica que mudará seu comportamento. O país segue com 600 mil mortos, desemprego nas alturas, fome se alastrando e a economia andando aos soluços.
Mais do que nunca, as ruas serão decisivas para a oposição. Para além das polêmicas sobre o ato deste domingo, o certo é que sem a ampliação e unificação das campanhas contra Bolsonaro, dificilmente teremos uma mudança qualitativa do quadro político.