Vivemos uma verdadeira orgia de análises sobre a tentativa de golpe que o presidente Bolsonaro estaria organizando para o 7 de setembro.
A maioria dessas análises desdenha categoricamente da possibilidade. Bolsonaro hoje tem dificuldades na imprensa, na justiça, no parlamento, na polícia, nas relações internacionais e na sociedade.
O país vive uma crise de inflação no preço de alimentos e energia, ameaça de apagão, desemprego recorde, e ainda perde centenas de vidas diariamente para uma pandemia que o governo nunca levou a sério.
A conta pelo descaso com a educação pública brasileira, cujos desafios e agruras não mereceram, em um ano e meio de pandemia, uma mísera fala do presidente da república, ainda nem sequer começou a ser discutida. Mas vai. Famílias de todo o Brasil ainda aguardam a sua vez para saltar no pescoço de Bolsonaro por todo o mal que sua negligência trouxe para a formação de seus filhos.
Por qualquer ângulo que se analise a situação, é difícil levar a sério os anseios golpistas de Bolsonaro.
É absolutamente impossível, diz o cientista político Christian Lynch, à BBC Brasil. Para Lynch, Bolsonaro é um vendedor de tumulto.
“Ele se vende como alguém que está organizando um motim que nunca explode”, resume o acadêmico.
Sua colega de profissão, Carolina Botelho, tem alertado, porém, para o fato de que o elevado grau de vigilância, ativismo e tensão, por parte das instituições e sociedade civil, devem ser considerados quando se analisa o fracasso recorrente das movimentações golpistas do presidente.
Ao que tudo indica, Bolsonaro já perdeu a narrativa do 7 de setembro. Mesmo que as manifestações sejam enormes, estará claro que foi um ato organizado pelo próprio Palácio do Planalto. O dia seguinte será tomado de reportagens sobre “o gasto público” provocado pelas manifestações.
Mais importante: o preço da gasolina, da energia elétrica, do arroz, da carne, continuarão altos.
E virão mais e mais pesquisas mostrando o declínio do presidente.