Para bom entendedor, meia palavra basta.
O comunicado da Febraban de hoje, apesar do tom diplomático e conciliador, não esconde a irritação da entidade com a pusilanimidade da Fiesp.
A federação de indústrias paulistas organizou um manifesto, pediu apoio da Febraban, conseguiu esse apoio, e depois recuou covardamente diante das ameaças do governo.
No comunicado de agora, a Febraban procura salvaguardar sua dignidade e “reafirma o apoio ao manifesto A Praça é dos Três Poderes”, e dá um tapa com luva de veludo no rosto da Fiesp: “[a Febraban] não ficará mais vinculada às decisões da FIESP, que, sem consultar as demais entidades, resolveu adiar sem data a publicação do manifesto.”
Se fôssemos traduzir isso em linguagem popular, ficaria assim:
“Não queremos mais conversa com esses cagões da Fiesp, que, nos arrastou a todos para esse vexame. Não somos moleques. Sabíamos muito bem que um manifesto como esse seria lido como uma crítica aos delírios do presidente Bolsonaro. Mas era exatamente isso que prentendíamos! A Fiesp demonstrou fraqueza e covardia, o que são defeitos lamentáveis para uma organização de empresários, cuja razão de existir é justamente para passar a imagem oposta, de força e coragem! ”
Seria ridículo, por outro lado, dar algum caráter heroico para qualquer um dos atores envolvidos.
O próprio manifesto original, proposto pela Fiesp e que teve, em seguida, sua divulgação “adiada” por tempo indeterminado (mas foi vazado à imprensa, o que tornou a situação ainda mais patética), é um documento insosso, acaciano, um amontoado de platitudes em prol da “equilíbrio e serenidade”.
A reação agressiva do governo, que culminou nas ameaças do Banco do Brasil e Caixa de se retirarem da Febraban, deixou claro como o núcleo duro ao redor de Paulo Guedes tem a consciência cada vez mais clara (e mais pesada) de que o principal foco de instabilidade da república é o próprio presidente.
Ao cabo, todo mundo se conciliou. Banco do Brasil e Caixa já declararam que permanecerão na Febraban.
Os objetivos de todos, afinal, são os mesmos: manter o Brasil amarrado a um sistema financeiro retrógrado e perverso, que drena a maior parte da riqueza nacional na forma de juros e spreads extorsivos, ao mesmo tempo em que controla a política macroeconômica através do lobby poderoso de seus aliados na grande imprensa.
Abaixo, a íntegra do comunicado da Febraban divulgado hoje.