O Atlas da Violência 2021 divulgado hoje traz uma denúncia alarmante. A quantidade de brasileiros vítimas de “Mortes Violentas por Causa Indeterminada” (MVCI) cresceu explosivamente.
A denúncia sugere, implicitamente, que autoridades responsáveis pelo levantamento de dados, como policiais e secretarias de segurança pública, estariam manipulando os números para criar falsa impressão de melhora dos índices de homicídio.
A operação é simples: basta classificar uma morte violenta como “causa indeterminada”, ao invés de homicídio.
E assim as taxas de homicídios nos estados caem, mas artificialmente, por manipulação estatística.
O documento diz que os números oficiais de 2019 devem ser vistos com “grande cautela”, por causa da “deterioração na qualidade dos registros”.
Os responsáveis pelo estudo informaram ainda que esse processo já tinha sido identificado no Atlas da Violência de 2020 , mas “atingiu patamar nunca antes observado desde o início da série histórica, em 1979”.
“Com efeito, em 2017 foram computados 9.799 óbitos como Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCI), ou seja, mortes violentas em que o Estado foi incapaz de identificar a motivação que gerou o óbito do cidadão. Em 2019 esse número foi de 16.648, o que representa um aumento de 69,9%. Considerando o percentual de MVCI em relação ao total de mortes violentas, esse índice passou de 6,2% para 11,7%, entre 2017 e 2019, um aumento de 88,8%”.
O Atlas da Violência 2021 é um estudo realizado pelo IPEA, em parceria com o Forum Brasileiro de Segurança Pública.
Em alguns estados, como o Rio de Janeiro, o percentual de mortes identificadas como “causa indeterminada” (ao invés de homicídio) no total de mortes violentas, saltou de 9,8% em 2018 para 34% em 2019!
Com uma canetada, a secretaria de segurança do Rio esconde os homicídios no estado, o que naturalmente beneficia os… homicidas, que apenas poderiam ser investigados e punidos se seus crimes fosse classificados como tal.
O Atlas tentou “quantificar a ordem de ordem de grandeza dos homicídios que podem ter sido ocultados pela deterioração da qualidade” dos dados, usando estudos segundo os quais 74% das mortes violentas não identificadas corresponderiam, na verdade, a “homicídios não classificados como tais. Tomando essa estimativa como referência, caso a proporção de MVCI [mortes violentas por causa indeterminada] em relação ao total de mortes violentas fosse a mesma observada em 2017 (6,6%), haveria cerca de 5.338 homicídios a mais registrados em 2019”.
Ou seja, o número de homicídios no Brasil em 2019 teria crescido em mais de 5 mil óbitos em relação ao ano anterior, ao invés de terem caído!
Alguns estados, como dissemos acima, registraram uma situação dramática. No Rio de Janeiro, a taxa de homicídio caiu 45% em 2019, mas a de mortes violentas indeterminadas cresceu 237% no mesmo ano!
Segundo os autores do estudo, a manipulação do numéro de mortes por causa identerminada “afeta as análises realizadas no Atlas”, especialmente quando olhamos para as diferentes categorias de vítimas.
Por exemplo, a quantidade de mortes violentas por causa indeterminada (MVCI) de jovens cresceu 57% em 2019, na comparação com o ano anterior, passando de 2,53 mil para 3,99 mil.
A quantidade mortes violentas por armas de fogo, mas identificadas como “indeterminadas”, cresceu 49% em 2019.
Entre mulheres, a relação entre MVCI e homicídios ficou em 100% em 2019, contra 11% da média nacional. O que significa que, para cada morte violenta de mulher classificada como homicídio, houve outra classifiada como “indetermianda”, um indício forte de manipulação para baixo de crimes de feminicídio no país. A quantidade MVCI de mulheres em 2019, a propósito, apresentou crescimento de 22%!
O mais grave disso é que se as autoridades, por interesse político, deixam de classificar um homicídio como tal, impede-se igualmente que o Estado investigue seus autores e suas causas.
Todo esse esforço de manipulação teria como objetivo apresentar números “positivos” na taxa de homicidios no Brasil, como se vê pelo gráfico abaixo.
Paulo
31/08/2021 - 18h06
Há manipulação, a olhos vistos…