Em entrevista a Folha, Christopher Garman, 51, porta-voz da Eurasia, uma das principais consultorias de análise de risco do mundo, considera que as instituições brasileiras são fortes o suficiente para evitar tentativas de ruptura democrática.
“Acho que esse risco [de ruptura] é muito baixo, abaixo de 5%”, avalia Garman.
O consultor avalia que o “mau manejo da crise sanitária é a principal razão que levou à queda de aprovação do presidente ao longo do último ano”, e prevê que a retomada da economia tende a “levantar a taxa de aprovação do presidente”.
“E o que adicionaria [popularidade] seria o novo Bolsa Família de um lado e a tabela do IR de outro. Hoje o caminho para a recuperação do presidente parece mais difícil do que três ou quatro semanas atrás. Mas o que está realmente prejudicando o governo é o cenário de menor crescimento somado à inflação em alta. E crise hídrica também é motivo de enorme preocupação”, completa o analista.
Garman ainda não vê espaço político para a terceira via, mas subiu sua aposta de que isso poderia acontecer de 10% para 20%.
“Um mês atrás, eu daria 10% de probabilidade para a chance de um candidato de terceira via chegar ao segundo turno. Achava muito difícil perante o ex-presidente Lula, com uma base consolidada na esquerda, e um presidente [Bolsonaro] com perspectivas de se recuperar. Aí é muito difícil haver um espaço. Hoje eu colocaria a probabilidade em 20%.
Ainda temos um presidente com vantagens e que acho que deve ter alguma recuperação. Ele perdeu o favoritismo, mas ainda tem alta probabilidade de chegar ao segundo turno, porque possui uma base de 25% [do eleitorado]”, avalia.
Para o analista, porém, Ciro Gomes, hoje em terceiro lugar nas pesquisas, enfrenta dificuldades, porque “ainda tem uma associação com um eleitorado mais de esquerda, e o Lula toma esse espaço. Difícil ele herdar eleitores que votaram no Bolsonaro”.
Garman não acredita na possibilidade de impeachment, porque ele “é muito difícil impichar um presidente com uma taxa de ótimo/bom na casa de 23%, 25%. Ele tem uma base orgânica na sociedade”.
Sobre Lula, Garman avalia que o petista tem “um DNA pragmático”, e que a principal preocupação do mercado é o “lado fiscal”.
“A principal âncora fiscal hoje é o teto de gastos, e o ex-presidente Lula e a cúpula do PT têm um consenso de que esse teto tem que acabar e de que precisamos aumentar gastos para ampliar o crescimento.
A mensagem que os investidores recebem é que será um governo que vai aumentar gastos e tributos, em um contexto em que a carga tributária já está muito elevada. Isso preocupa e gera muita inquietação”, diz o analista.
Mas ele considera que, se Lula for eleito (e ele considera que o petista teria “ligeira vantagem” num eventual segundo turno, o seu governo não seria “totalmente irresponsável, de populismo da esquerda, radical”.