Fenae revela, diferentemente do que direção da estatal noticia, que aumento do “lucro” da empresa se deve em grande parte à “política de desinvestimentos” adotada pela atual gestão do banco: venda de ações e privatização de subsidiárias estratégicas para país e população. Entidade também observa que aumento da concessão de crédito e da inadimplência reflete má situação econômica do país: “Com o país quebrado, as pessoas recorrem aos empréstimos para sobreviverem e não para fazerem investimentos”
Brasília, 20/08/2021 – A Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) analisou os dados divulgados sobre os resultados do banco no segundo trimestre. Diferentemente do que a direção da Caixa noticia, o aumento do “lucro” se deve em grande parte à chamada “política de desinvestimentos” adotada pela atual gestão da empresa; isto é, à venda de ações e à privatização de subsidiárias estratégicas para o país e a população.
“São resultados impulsionados, na verdade, pela venda de ativos do banco, que vai sendo esvaziado, desmontado, tendo o seu papel social comprometido em prejuízo aos brasileiros”, afirma o presidente da Fenae, Sergio Takemoto. “Mais do que nunca, especialmente em um contexto de pandemia e grave crise econômica, é necessário preservar e reforçar a importância da Caixa para o Brasil”, acrescenta.
De acordo com os números publicizados pela direção do banco nesta quinta-feira (19), a empresa registrou um lucro líquido de R$ 6,3 bilhões no segundo trimestre, valor que representa um salto de 144,7% em relação ao mesmo período do ano passado (R$ 2,6 bilhões). Considerando todo o primeiro semestre, o lucro líquido atingiu R$ 10,8 bilhões: aumento de 93,4% na comparação com os primeiros seis meses de 2020.
Segundo a Caixa, foi o “maior lucro no segundo trimestre de toda série histórica do banco” e “o maior já registrado para um primeiro semestre. Porém, conforme esclarece a Fenae, tais resultados foram impactados, principalmente, pela venda de ações da subsidiária Caixa Seguridade (R$ 3,3 bilhões) e também do Banco Pan (R$ 1,9 bilhão). “Ou seja: os resultados se devem à venda de patrimônio público e não somente de operações do banco”, alerta Takemoto.
O presidente da Fenae pontua que, segundo levantamento feito em maio pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em contraponto a dados utilizados pelo atual governo, a Caixa contabilizou, em valores atualizados, lucro líquido acumulado de R$ 41,3 bilhões e R$ 50 bilhões, respectivamente, durante os governos Lula (2003 a 2010) e Dilma (2011 a 2016). Já nos anos de 2019 e 2020, o lucro acumulado pelo banco, de R$ 35,1 bilhões, incluiu valores decorrentes da venda de ativos.
Em 2019, o resultado foi fortemente influenciado pela venda de Notas do Tesouro Nacional e de ações da Petrobras, do IRB Brasil (Instituto de Resseguros) e do Banco Pan, entre outras. Do lucro daquele ano, cerca de R$ 15 bilhões resultaram da entrega desses ativos. Já no ano passado, os resultados da Caixa foram impactados pelo IPO (Oferta Pública Inicial de ações) da Caixa Seguridade.
Além das medidas de “desinvestimento” em ativos — que, segundo o presidente da Caixa, não são estratégicos para a estatal — Pedro Guimarães reforçou, ontem, os planos de privatização de outras áreas estratégicas e rentáveis do banco. Ele citou a venda da Asset [gestora], da bandeira de Cartões Elo e até do ainda nem oficialmente criado Banco Digital, estruturado para o pagamento do auxílio emergencial e de outros benefícios sociais à população.
Fundamental para as políticas de desenvolvimento e instrumento para de políticas anticíclicas, a Caixa mostra que pode atuar para que o país supere a crise. Quanto aos créditos para pessoas jurídicas, o crescimento foi de 61,1% em relação ao mesmo período de 2020, totalizando R$ 73,6 bilhões, principalmente nas linhas para micro e pequenas empresas, destacando o Pronampe, que desde o início do programa já contratou R$ 16,4 bilhões.
“A Caixa 100% pública comprova o quanto é imprescindível aos brasileiros e para o desenvolvimento do país; especialmente, durante toda a pandemia. Ela chega onde os bancos privados passam longe”, destaca Sergio Takemoto.
Ao observar que a Caixa encerrou o primeiro semestre deste ano com 84.262 empregados [desde 2014, o banco público perdeu quase 20 mil trabalhadores], a coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa), Fabiana Uehara, afirma: “É lamentável constatar o esforço do governo federal para o enfraquecimento do patrimônio público, com uma postura completamente avessa ao forte papel social que a Caixa representa para o Brasil”. “Sabemos que por traz dos resultados alcançados pelo banco estão os esforços dos empregados, que se desdobram para dar conta de atender milhões de brasileiros”, emenda Takemoto.
EMPOBRECIMENTO DA SOCIEDADE — O presidente da Fenae também chama a atenção para outro dado divulgado nesta quinta-feira: em um ano, os empréstimos tiveram incremento de 13,4%. A pessoa física foi o destaque, com crescimento de 4% no trimestre, enquanto a pessoa jurídica avançou 0,5%.
“O aumento da concessão de crédito e da inadimplência reflete a má situação econômica do país”, ressalta. “Com o país quebrado, as pessoas recorrem aos empréstimos para sobreviverem e não para fazerem investimentos, como a direção da Caixa tenta passar tal impressão”, completa Takemoto.
Segundo o banco, piorou o índice de inadimplência da Caixa [considerando atrasos superiores a 90 dias], chegando a 2,46% no segundo trimestre contra 2,04% no primeiro. As provisões para perdas associadas ao risco de crédito tiveram acréscimo de 6,27% no período, totalizando R$ 5,1 bilhões
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