Por Igor Felippe Santos (@igorfelippes no twitter)
A crise político-institucional parece ser um buraco sem fundo. O tom da reação dos atores envolvidos aumentou na semana passada contra as declarações do presidente Jair Bolsonaro contra o sistema eleitoral. Ministros das cortes superiores do Judiciário, lideranças do Congresso Nacional e agentes do mercado financeiro se manifestaram em defesa das urnas eletrônicas.
A novidade das ações da semana passada é que foram além de declarações e tiveram desdobramentos institucionais, com a abertura de investigação no TSE sobre as denúncias de fraudes nas eleições e a inclusão de Bolsonaro no inquérito das fake news do STF.
Foram essas as respostas mais efetivas que as chamadas instituições conseguiram dar depois de uma escalada de atos do presidente, dos seus apoiadores e das Forças Armadas, que se acumulam nos últimos 34 meses, contra os pilares do regime democrático no Brasil.
No entanto, parece que estão sempre um passo atrás de Bolsonaro, que sempre surpreende com novas ações que imobilizam os outros poderes, entidades da sociedade civil e vão esgarçando ainda mais o Estado de Direito.
Cento e cinquenta carros de combate, tanques, blindados, aeronaves e lançadores de mísseis e foguetes farão um desfile na Esplanada dos Ministérios, depois do recrudescimento da crise político-institucional com o envolvimento das Forças Armadas na manobra para minar a credibilidade do sistema eleitoral e ameaçar as eleições de 2022.
A justificativa para a operação é entregar um convite para Bolsonaro participar do tradicional exercício da Marinha, que acontece desde 1988, chamado de Operação Formosa, em Goiás, na próxima semana.
É a primeira vez que o convite terá um desfile de blindados militares, com uma demonstração de força na Praça dos Três Poderes, que separa Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Ou seja, é um casuísmo oportuno para o presidente.
Bolsonaro atua sem qualquer desembaraço na zona cinzenta da ameaça de golpe, da chantagem e da bravata contra as instituições e entidades civis, que assistem a escalada golpista como telespectadores de um espetáculo sepulcral do que ainda resta da democracia no Brasil.
A simulação da operação vai acontecer, coincidentemente ou não, no mesmo dia da votação da PEC do voto impresso no Plenário da Câmara dos Deputados, marcada pelo presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). O voto impresso é, justamente, o ponto de conflito entre as instituições.
Ao arrastar os militares para essa disputa, construindo a polarização entre um presidente e o seu exército contra o Congresso Nacional, o STF e os meios de comunicação empresariais, Bolsonaro reforça o papel de anti-sistema e coloca as Forças Armadas como fiadora do seu governo.
Por isso, independente do resultado da votação, o ex-capitão fortalece a sua relação com os militares, com fotos e vídeos em meio a um desfile de blindados, como defensores da democracia contra os arautos do voto impresso.
Enquanto as pesquisas de opinião demonstram a perda de popularidade do governo, as manifestações em defesa do presidente perdem intensidade e se restringem às “motociatas”, Bolsonaro recorre às Forças Armadas para dar uma demonstração de força no momento mais difícil do seu governo.
Contraditoriamente, ao instrumentalizá-las de acordo com seus interesses políticos, evidencia a ascendência sobre os militares, aparentando força. Na medida em que não conseguem impedi-lo, quem mostra fraqueza são os poderes constituídos.
Se as forças democráticas não forem capazes de circunscrever a atuação do ministro da Defesa Braga Neto, reforçando os limites constitucionais e barrando o uso político dos militares, Bolsonaro avançará no sombreamento que forja dele próprio com Exército, Marinha e Aeronáutica para transformar as eleições de 2022 em um plebiscito sobre a Forças Armadas com consequências imprevisíveis.