O cientista político e pesquisador especializado em sistemas eleitorais, Jairo Nicolau, um dos nomes mais respeitados nesse segmento, criticou duramente a proposta que está tramitando na Câmara dos Deputados que trata de substituir o proporcional, pelo distritão.
“Mas é inacreditável que o Brasil, numa hora dessas, com tantos desafios, esteja tentando aprovar o pior sistema eleitoral do mundo”, disparou em entrevista ao Estadão.
Ele também avaliou que o Distritão é uma coisa que ninguém pediu e classificou esse episódio como um “filme de comédia pastelão”.
“É o tipo de solução para um problema que ninguém apresentou. Preferência por sistema eleitoral não é como preferência por um tipo de filme. Eu gosto de western, outros gostam de filme romântico. Não é assim que funciona. Vamos agora entrar no sistema de comédia pastelão?”, ironiza.
“A gente tem uma escolha institucional que pode não estar funcionando, mas, dentro do cardápio de sistemas eleitorais testados no mundo, esse ou aquele são soluções para resolver tal problema. E o distritão resolve qual problema?”, questionou.
O cientista político também apontou as distorções do distritão e como isso vai impactar nos próprios partidos.
“O cenário é tenebroso do ponto de vista partidário. O distritão estimula o hiperindividualismo político, o que é péssimo. O deputado passa a ter grande autonomia, pode negociar apoio direto com o presidente, com suas bases, sua igreja. Tudo isso sem depender de partidos, de colegas. Esse, sim, pode ser o primeiro passo da candidatura avulsa. Vão querer copiar o modelo do Chile, mas o modelo de lá é para uma Constituinte”.
Paulo
04/08/2021 - 22h39
O Brasil sempre experimentou o “hiperindividualismo político”. Nenhuma novidade. Ou o que é o nosso sistema presidencialista?